quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

ESTUDO SOBRE ALGUNS TRABALHADORES ESPIRITUAIS DESCRITOS ATRAVÉS DA TINTA DE YVONNE DO AMARAL PEREIRA EM TRÊS OBRAS DE SUA PSICOGRAFIA



A nobre Yvonne A. Pereira, desencarnada em 1984, nos deixou uma extensa obra, sendo intermediária de ilustres vultos do Espiritismo, como Bezerra de Menezes, Leon Denis e Charles, além de tantos outros trabalhadores do Além. Em sua jornada na Terra, descrita em belas biografias, percebemos que a médium conviveu com uma variada gama de Espíritos em diversas condições morais. Pouco afeita ao formalismo e a teorias sem prática, Yvonne abraçava fortemente as Máximas do Cristo: Amar a Deus sobre todas as coisas, e Amar ao Próximo como a si mesmo, e isso trouxe a ela uma visão singular da prática doutrinária.

Esse posicionamento libertário de formas, mas não de conteúdo, fez, nos últimos anos, alguns integrantes do Movimento Espírita perceberem que o caminho adotado por ela, que tão somente seguia a Doutrina de Jesus, o preconceito que se encontrava permeado nas fileiras, cada vez mais eruditas e menos afeitas ao trabalho braçal da Caridade. Preconceito este direcionado aos Trabalhadores do Bem que não se apresentavam como doutores, sábios de porte europeu, mas cujo empenho no Serviço do Mestre Carpinteiro era fundamental para o resgate de irmãos absolutamente imersos na infelicidade. Muito preconceito, por parte desses “espíritas” (a inicial é minúscula propositalmente) é dirigido aos falangeiros do Bem que se apresentam através de fala simples, caminhar descalço, ou ainda de aspecto intempestivo, pretensamente selvagem, esquecendo-se que muitos chefes de falanges infelizes se apresentam como doutores imersos em beleza e fala macia, dominando até mesmo os conceitos dos Ensinos de Jesus.

Esse modesto estudo visa trazer à observação crítica, logo não está fechado, retornando à luz dos dias atuais, que estão repletos de obras Espíritas e Espiritualistas que alardeiam novidades sobre a Vida no mundo Espiritual, mas que há várias décadas um pequeno grupo de médiuns corajosos e guias amorosos já apresentavam, mas que por alguma razão, tais conteúdos passavam pela sombra dos olhos da maior parte dos leitores. Também não desejamos apontar dedos de julgamentos para nenhum lado, apenas visualizar que as Entidades do Bem trabalham independentemente do lugar ou situação. Nós, encarnados, que criamos frágeis considerações que acabam por dificultar o progresso de nós mesmos, através do preconceito.

Agradecemos ao Umbandista, Pesquisador e autor de Umbanda, da série Umbanda Sem Medo, Cláudio Zeus, e ao Espírita, Palestrante e Articulista Alexandre Giovanelli pelas sugestões e apontamentos.

Registramos aqui nosso agradecimento a Yvonne do Amaral Pereira, pessoa simples, devotada ao Bem, que iluminou a Terra com sua presença bela.

















Memórias de um suicida

Pelo Espírito Camilo Castelo Branco (orientada pelo Espírito Leon Denis), 20ª edição, 1998 (1ª edição em 1955), Editora FEB, 568 páginas.

Essa inesquecível narrativa, testemunho detalhado e emocional do Espírito suicida Camilo Castelo Branco, nos revela suas vivências logo após o terrível ato contra si mesmo, que o retirou bruscamente do mundo dos encarnados. Ao longo de suas experiências comoventes, acompanhamos o trabalho de muitos Emissários do Bem, liderados por Maria de Nazaré, dirigente de uma grande organização de amparo junto ao Vale dos Suicidas.

No início da obra, após detalhar alguns tormentos que assombravam o endividado Espírito Camilo, percebemos, na página 28, a descrição de poderosa comitiva, que chega ao Vale dos Suicidas, para resgate de alguns dos que ali estavam. Ocorre que na página supracitada, durante a caracterização dessa Força Humanitária, somos surpreendidos pela descrição de soldados armados de lanças.

“Precedia, porém, a coluna, pequeno pelotão de lanceiros, qual batedor de caminhos, ao passo que vários outros milicianos da mesma arma rodeavam os visitadores, como tecendo um cordão de isolamento, o que esclarecia serem estes muito bem guardados contra quaisquer hostilidades que pudessem surgir do exterior. Com a destra o oficial comandante erguia alvinitente flâmula, na qual se lia, em caracteres também azul celeste, esta extraordinária legenda, que tinha o dom de infundir insopitável e singular temor: Legião dos Servos de Maria.”

Observamos que nos anos 50, a saudosa Yvonne já nos atentava para uma reflexão sobre alguns procedimentos da Espiritualidade Benfeitora junto aos desamparados. Enganamo-nos, mediante esse vívido relato, que os Bons Espíritos se valiam somente de preces e aparência venerável para poder, ao menos, se aproximarem de irmãos sofredores. É claro que a força Moral do Espírito se sobressai a tudo, mas o entendimento de que há presença de força militar, com armas bastante conhecidas e ameaçadoras é mais compreensível a quem está imerso em dores espirituais. Acrescentamos ainda, que tal compreensão não se dá somente para os sofredores, mas também por parte de alguns dos Trabalhadores do Bem que ainda estão nos estágios iniciais de sua Caminhada para a Perfeição.

Percebemos ainda, o uso ostensivo de uma insígnia, a cruz de cor azul celeste, como emblema da Legião dos Servos de Maria. A cruz, ao longo das Eras da Humanidade, aqui na Terra, possuiu – e possui – significados diversos, mas o maior deles é associá-la à figura do Cristo. Um símbolo que significa a redenção Humana, da verdadeira paz. Portanto, assim como na Terra e na Espiritualidade, a cruz é facilmente reconhecível. Porém é interessante notar a forma do uso deste símbolo por parte dos Legionários: para infundir insopitável e singular temor. Ou seja, para reconhecer os Servos de Maria e respeitá-los como força. No Espiritismo “Kardecista”, não há muitos relatos de situações assim, ou seja, o uso de elementos visuais para reconhecimento por parte dos Espíritos de qualquer grau evolutivo. Na Umbanda, os símbolos visuais são amplamente utilizados, não só a fins de reconhecimento de Entidades, mas também para evocação de forças, ou melhor, concentração de força mental. A Fraternidade Branca, as Nações Afrobrasileiras (Gêge, Ketu, e outras), a Jurema, Tambor de Mina, Terecô, Xambá, Xangô do Nordeste, o Catimbó e o Vale do Amanhecer, dentre outras organizações do Astral, também se valem largamente de símbolos. Até mesmo o uso da cor azul, por parte dos Legionários tem importância, já que é muito mais significativo do que ser o fato desta coloração utilizada para o manto da Virgem Maria em milhares de imagens religiosas pelo mundo. Na Umbanda esta cor é comumente associada ao Orixá Oxum, sendo sincretizada com Nossa Senhora Aparecida, ou seja, Maria. A cor azul celeste induz harmonia e serenidade, segundo fontes escritas e relatos de Entidades variadas.

Mais adiante, ainda na mesma preciosa página, visualizamos a figura do lanceiro, bem como ao comandante daquela missão de socorro:

“Os lanceiros, ostentando escudo e lança, tinham tez bronzeada e trajavam-se com sobriedade, lembrando guerreiros egípcios da antiguidade. E chefiando a expedição, destacava-se varão respeitável, o qual trazia avental branco e insígnias de médico a par da cruz já referida. Cobria-lhe a cabeça, porém, em vez do gorro característico, um turbante hindu, cujas dobras eram atadas à frente pela tradicional esmeralda, símbolo dos esculápios.”

A interessantíssima descrição dos soldados pode impressionar o leitor ligeiramente desavisado, que poderia estar lendo alguma obra meramente espiritualista. Mas trata-se de uma obra editada pela Federação Espírita Brasileira, pela tinta de respeitável médium. A apresentação de tais Espíritos já fora comentada, no que concerne a função, mas não refletimos ainda sobre a aparência de tais Entidades. Eram, pois, detentores de aparência perispiritual egípcia, pois era um antigo povo terreno, celebrado pelas conquistas das ciências matemáticas, médicas e também militares. Não significa, porém, como percebemos nessa imprescindível obra de formação moral e intelectual, que outras Entidades possuíssem aparências distintas. Como é o caso do líder da expedição, médico hindu, rememorando antiqüíssima civilização de filósofos, que contrariando, mais uma vez, as convenções Kardequianas, esta Entidade usava uma esmeralda em sua fronte, o que poderiam considerar como ostentação vulgar. Muitas entidades, sobretudo os Mestres Ascencionados da Fraternidade Branca, bem como alguns dos Médicos do Espaço portam esmeraldas, rubis, e porque não inserir nesse mesmo contexto, togas, robes, mantos, cetros, cajados e jalecos brancos? Devemos observar o que tal símbolo – e retornamos assim ao breve estudo da cruz, feito acima – representa não para o portador somente, mas também para os que estão mais atrás na cadeia evolutiva.

Em seguida, acompanhando a página seguinte, compreendemos melhor o desfecho do resgate dos sofredores, ainda no Vale dos Suicidas, quando os enfermos são levados a belas carruagens, puxadas por animais:

“...Brancos, leves, como burilados em matérias específicas habilmente laqueadas, eram puxados por formosas parelhas de cavalos também brancos, nobres animais cuja extraordinária beleza e elegância incomum despertariam nossa atenção se etivéssemos em condições de algo notar para além das desgraças que nos mantinham absorvidos dentro de nosso âmbito pessoal. Dir-se-iam, porém, exemplares da mais alta raça normanda, vigorosos e inteligentes, as belas crinas ondulantes e graciosas enfeitando-lhes os altivos pescoços quais mantos de seda, níveos e finalmente franjados.”

É idéia geral de que os animais, ao desencarnarem, irem ao chamado Espírito Grupo, perdendo, portanto, sua individualidade. O fragmento acima citado se ajusta com o relato do Espírito André Luiz, na obra Nosso Lar (editora FEB, 1997, 46ª edição; 1ª edição em 1944) que cita a presença de animais domésticos na referida colônia espiritual. Na Umbanda e em outras Religiões, é muito comum ao médium vidente, observar espíritos de cães, cobras, pássaros, onças em companhia de Espíritos dos Caboclos e Pretos Velhos. Existem argumentações que tais criaturas espirituais são formas pensamentos, mantidas pela força mental da Entidade, sendo, desta forma, um tema assaz, polêmico e digno de estudos mais profundos. Interessante e digno de nota que em 1955, na Doutrina Espírita, já havia relatos de espíritos animais, à serviço do Bem.

Parte II do estudo sobre três obras da médium Yvonne do Amaral Pereira

Dramas da obsessão

Pelo Espírito Bezerra de Menezes, 3ª edição, 1976 (1ª edição em 1963), Editora FEB, 209 páginas.

Obra que trata de dois casos de obsessão coletiva e os esforços da equipe dirigida pelo Benemérito Bezerra de Menezes em levar o Amor aos corações endurecidos.

Na primeira parte, Intitulada “Leonel e os Judeus”, descerramos um caso que atravessou os séculos, numa rixa obsessiva que se iniciou no período da Inquisição em Portugal, no século XVI.

Ao descrever, na página 15, a equipe espiritual que o auxiliaria, o Bondoso Mentor, apresentou-nos Roberto, assistente dedicado, que fora judeu em pretérita encarnação, e, Peri, indígena da tribo Tamoio.

“Eu levara, no entanto, em nossa comitiva, um indígena brasileiro da raça Tamoio, Espírito hábil, honesto e obediente, que voluntariamente se associara à nossa falange, desejando servir ao Bem, e mais o nosso assistente Roberto, a quem eu muito amava e confiava plenamente.”

Alguns leitores podem se perguntar do porque de tão elaborada apresentação de Peri e até concluir que esse Espírito, era um mero subalterno, por se apresentar com a aparência perispiritual de um índio. Mais à frente, porém entenderemos melhor do porque de Peri assim se apresentar. No entanto, chamamos a atenção para a forma de Bezerra descrever a índole do indígena. É exatamente igual a todos os servidores do Bem: hábil, honesto e obediente. Exatamente como o Apóstolo da Caridade, Adolfo Bezerra de Menezes, Servidor do Cristo. A intenção, claríssima, do Mentor é quebrar preconceitos em relação ao trabalho de Espíritos que se apresentam fora dos ditos “padrões de apresentação de Trabalhadores do Bem”.

Mais adiante, na página 20, Bezerra caracteriza a lida com os obsessores: “Geralmente, a caça a obsessores mui trevosos é levada a efeito por entidades pouco envolvidas, conquanto já regeneradas pela dor dos remorsos e pela experiência dos resgates, ansiosas pela obtenção de ações meritórias com que adornem a própria consciência, ainda tarjada pela repercussão dos deméritos passados (1). Efetuam-na, porém, invariavelmente, sob direção de entidades instrutoras mais elevadas, subordinadas todas as leis rígidas, invariáveis, as quais serão irrestritamente observadas. Essas leis são, como bem se perceberá, as normas divinas do Amor, da Fraternidade e da Caridade, que obrigarão os obreiros em ações mais patéticas e desvanecedoras atitudes de renúncia e abnegação, a fim de que não deixem jamais de aplicá-las, sejam quais forem as circunstâncias. Muitos desses operadores possuem método próprio de agir e os instrutores responsáveis pelo trabalho deixam-nos à vontade dentro dos critérios das leis vigentes, tal como a equipe de professores que ensinassem letras, ciências, etc., mantendo cada um o seu próprio método, embora observando todas as leis da pedagogia ou do critério particular de cada matéria”.

Nesse precioso parágrafo, visualizamos claramente o trabalho dos Espíritos na busca da cura de suas dores através do trabalho árduo, considerado atividade “braçal” ou de menor grau moral-evolutivo, embora que francamente ascendente. Na Umbanda, esses Trabalhadores são chamados de Exus Batizados, enquanto no Movimento Espírita são denominados Guardiões. Como bem esclarece o Benemérito Mentor, seus instrutores lhes dão liberdade para agir, dentro das Normas do Bem, importando tão somente a prática e o senso de Fraternidade, independente da forma.

Segundo Cláudio Zeus (2012) essas Entidades, denominadas Exus Batizados, são diferentes de exus (note que a inicial é minúscula propositalmente) que criam suas próprias leis e falanges, de forma Amoral ou Imoral. São os Exus Batizados, ou Guardiões, que dão sustentação ao trabalho de muitos Pretos Velhos e Caboclos, trabalhando de forma incógnita. Os Pretos Velhos costumam, em muitos casos, se referir a eles como MISINFINS.

Na nota explicativa (1), lemos: “Os médiuns bastante dedicados à Causa, e cujas experimentadas forças morais e psíquicas lograrem possibilidades, igualmente prestam tais serviços, durante o sono noturno, que os instrutores espirituais tratam de aprofundar quanto possível.”.

Esse registro vai de acordo com inúmeros relatos de médiuns, que chegam a descrever detalhadamente as circunstâncias da atividade executada em desdobramento. Porém, maior é o número de Seareiros que relatam não se recordarem de nada, exceto que “trabalharam”, ou ainda, apresentam “vaga idéia” do que se passou. Entendemos que tantos os médiuns, quanto os trabalhadores espirituais são equiparados moralmente, estando igualmente tutelados pelos Mentores.

Na página 21, observamos “...Então, dispúnhamos de individualidades da categoria de Peri, a qual, bondosa e incapaz de arbitrariedades, exercia a energia militar sempre que necessário – como antigo chefe de hordas guerreiras da Arábia, que fora em existência remota e, mais tarde, como cacique da tribo dos Tamoios (2)”. E seguimos, na página seguinte, a forma de atuação deste Espírito: “... Peri era especializado em tarefas tais (lida com espíritos endurecidos, inferiores em caráter, grifo nosso) e possuía métodos particulares, os quais aplicava com eficiência, sempre que necessário. Trazia às suas ordens pequeno pelotão de auxiliares, que obedecendo-lhes fielmente, tais os milicianos ao seu general, junto dele desempenhavam concurso valioso de proteção ao próximo, enquanto, assim agindo em defesa dos mais fracos, reparavam deslizes graves de um passado reencarnatório remoto, como explicamos lá atrás”.

A atividade executada pelo Espírito Peri é a mesma executada pela grande maioria dos Espíritos que na Umbanda são chamados de Caboclos, entidades que se valem de aparência indígena ou de militares romanos, no caso dos Espíritos que se apresentam como Oguns. Coordenam variado número de trabalhadores que podem apresentar roupagem fluídica diferente da deles, que são os Guardiões, ou Exus de Umbanda. Costumam atuar nas áreas mais densas, seja na Espiritualidade ou mesmo na Terra. No caso em tela, os auxiliares de Peri possuíam aparência fluídica de soldados árabes (fato este confirmado na página 31).

Na nota explicativa (2): “O nome Peri encobre a individualidade espiritual indígena, que não desejamos identificar, já reencarnada. Sua existência nas matas brasileiras traduz estágio de repouso e esconderijo, necessária para se furtar às continuadas perseguições obsessoras que, como antigo chefe de tribos árabes guerreiras, adquirira com as atrocidades praticadas. Não seria, portanto, Espírito primitivo, como também acontecia com muito outros índios brasileiros e escravos africanos no Brasil”.

Considerando que a anonimicidade é fato importante para a melhor prática da Caridade, favorecendo o despojamento do ego percebemos que a prática de adoção de pseudônimos é comum, por parte de muitos trabalhadores espirituais, para evitar adulações, incompreensões em geral, até mesmo movimentação de eventuais parentes ainda encarnados. André Luiz é outro Espírito que adotou essa prática logo no início dos seus trabalhos junto ao médium Francisco Cândido Xavier. Na Umbanda, as Falanges, ou grupamento de Espíritos que se afinizam ao Trabalho no Bem, possuem em suas práticas específicas, nomes adotados que são considerados simplórios aos olhos dos mais eruditos. A intenção é justamente atrelar a simplicidade, desde a denominação de um indivíduo e sua forma de trabalho no Bem a maneira mais humilde possível. Quanto ao nome fictício Peri, de origem realmente indígena, observamos expressiva Falange Umbandista, muito antiga, que opera com esse nome, embora não signifique que este Espírito fizesse formalmente parte deste grupamento espiritual.

Ao iniciar o trabalho de resgate da pequena e arrivista falange de obsessores, podemos ver Roberto preparando-se para a missão, na página 41; “Roberto fora hebreu em certa existência vivida em Portugal e na Espanha e fácil lhe seria valer-se da circunstância para atingir os nobres fins que trazia em mira. Fez, portanto, que retroagissem ao passado as próprias forças mentais (fenômeno de regressão da memória, tão conhecido nos dias atuais, passível de realização tanto entre os encarnados como entre os desencarnados), pela ação de irradiação da própria vontade... e voltou a ser o judeu de outrora, o homem oprimido e ameaçado a cada passo por um seqüestro e quiçá pela morte, sob os tratos do Santo Ofício”.

Nessa passagem, o Espírito Roberto torna-se mais aceitável socialmente para contato com os obsessores, no caso, antigos judeus do século XVI. É uma prática muito comum por parte da Espiritualidade, despojada de valores inferiores como preconceito racial. Muitos Espíritos, como forma de trabalho, adquirem aparência perispiritual de Pretos Velhos e Índios para lembrar, dentre outras coisas, que no passado, esses dois povos foram considerados desprovidos de almas e pouco mais do que animais irracionais, selvagens ao extremo e incapazes de compreender a civilização. É através da simplória aparência e forma de comunicação que revelam grande sabedoria e ensejo de auxiliar os tutelados na melhor forma de compreensão dos mesmos, ajudando a quebrar preconceitos, sobretudo no que confere a vaidade.

X

No segundo relato, intitulado “A severidade da Lei”, trazido pelo Benfeitor Bezerra de Menezes, situado, inicialmente, em 1910, trata da saga de uma mulher, que após grave incidente reajustador, atravessa longos anos acamada. Com paciência, humildade e fé, a personagem principal vence, ao fim. Mas não antes de um rosário de dor ser desfiado. Encontramos também a descrição da Falange chefiada por “Santo” Antonio de Pádua, que junto ao autor espiritual desta importante obra, é responsável pelo grupamento em que a narrativa se insere, e descortinamos mais um pouco o conhecimento, deixado aqui na Terra nos anos 60, sobre o trabalho dos Espíritos Benfeitores.

Na página 157, após o convite feito a Bezerra de Menezes, que se encontrava em prece na Erraticidade, vemos que o Médico dos Pobres se torna ciente de mais um intrincado caso de obsessão que se arrastava por séculos, desde o tempo da Inconfidência Mineira, pelos idos dos anos de 1700. O nobre Espírito, embevecido, narra delicadamente a Falange das Crianças, chefiada por Antonio de Pádua, pertencente à Corte Celeste. Acompanhemos: “...Não pertenço, como não pertencia então, a essa doce falange que também integra crianças angelicais e lindas como os próprios lírios que carregam, lírios que, no Espaço, as tornam reconhecíveis como elementos, ou pupilas de Antonio, Espíritos evoluídos que, no Além, sob formas perispirituais infantis, rodeiam o ilustre varão celeste, obedecendo-lhe ás ordens no setor beneficente (29)”. Mais adiante, na página 202, ainda emocionado, o autor espiritual narra: “... A seu lado, três lindas crianças, pobrezinhas, mas lucilantes, angelicais, pés desnudos, lírios entre as mãos”.

Não é muito comum a descrição de Espíritos infantis no meio Espírita, embora seja reconhecido como existente. Todavia, na Umbanda, a Falange das Crianças, ou Ibeijadas, é amplamente difundida. Trabalhando ativamente na Cura da Alma dos encarnados, esses Espíritos Evoluídos apresentam diversidade de formas fluídicas, embora sempre juvenis: negras, indígenas, mestiças e caucasianas.

Percebemos, na nota 29 da médium, a profunda emoção desta ao contemplar essas crianças, mediante auxílio mediúnico do Amigo Espiritual: “A magnanimidade do Espírito Bezerra de Menezes deu-nos a visão dessas crianças citadas. Representam crianças pobres, trajadas humildemente, pés descalços, cabelos despenteados. Não obstante, rebrilham de claridades celestes e sobraçam lírios. Dão-se as mãos para caminharem, mui gentilmente, e um luzeiro rosa envolve-as, distendendo-se em torno. Não nos foi possível conter as lágrimas diante de tão sublime quadro espiritual”.

Não é obra do acaso, as Falanges de Crianças na Umbanda serem reconhecidas pelas flores que gostam de portar, quando incorporadas, e pelas cores que adotam: o rosa e o azul claro. Muitos médiuns videntes costumam perceber essas luzes no ambiente, identificando que Espíritos dessa Falange estão presentes.

É importante ressaltar que as Crianças de Umbanda (Ibeijadas) nada tem a ver com as Entidades conhecidas como Erês, que atuam nas Nações. O proceder desses dois grupamentos é completamente diferente e a única semelhança que possuem é a forma infantil de apresentação.

Parte final do estudo sobre três obras da médium Yvonne do Amaral Pereira

Recordações da Mediunidade

Yvonne do Amaral Pereira (Orientada por Bezerra de Menezes), Editora FEB, 4ª edição, 2011 (1ª edição 1966), 256 páginas.

Obra que trata das experiências da médium, tutelada por Bezerra de Menezes, que faz referências a encarnação pretérita da autora, bem como suas conseqüências para sua última existência terrena. Vislumbra seu mandato mediúnico, seu esforço para praticar o Bem e assinala algumas das entidades espirituais com as quais conviveu, Certamente, hoje em dia, muitos deles seriam impedidos de trabalhar junto a Casas Espíritas, ou mesmo alguns médiuns, por não possuírem a aparência e/ou o linguajar adequados.

Iniciando pela página 112, observamos a caracterização de um Espírito Amigo, familiar da médium Zulmira Teixeira, que se apresentava como índio, adotando o nome Emanuel.

“Na mesma reunião foi também materializado o espírito familiar da médium o índio brasileiro ‘Emanuel’, o qual tantas e tão belas curas em enfermos e obsidiados realizou com o concurso da mesma intérprete (3). Assim humanizado, o índio ‘Emanuel’ dir-se-ia estátua de bronze lucilante, tão bela era a sua aparência. Meio desnudo, trazia como único vestuário os acessórios da condição indígena. E o seu talabarte, o depósito das flechas, as próprias flechas, o arco, o diadema e as pequenas penas que o enfeitavam lucilavam em reflexos brancos, azuis e amarelos. Era jovem e seus cabelos escuros e longos, também reluzentes, caíam pelos ombros. Trazia como estampada em toda a sua configuração a raça indígena a que pertencera: Tamoio.”

Esse curioso fragmente nos dá uma extensão muito interessante sobre as atividades e até da aparência desse Espírito, chegando mesmo a sua etnia, ou quem sabe, Falange espiritual. Muitos caboclos de Umbanda são exímios curadores de enfermidades terrenas, além de hábeis no trato com espíritos obsessores, e, sua apresentação perispiritual é idêntica a apresentada na caracterização de ‘Emanuel’. Interessante ressalvar o diadema portado pelo Espírito indígena. Os relatos que existem no Brasil, a respeito do uso desse adorno, por parte dos índios, refere-se a objetos criados com penas, presas de animais, algumas pedras semipreciosas, que eram dispostas artísticamente em um conjunto único. Pelo dicionário Aurélio (Editora Nova Fronteira, 3ª edição,1993), diadema é um sinônimo de coroa, estando assinalado o seguinte “1. faixa ornamental com que os soberanos cingem a cabeça; 2. adorno circular que as mulheres usam no penteado.” Atualmente, o conceito mais empregado para diadema, é a de jóia preciosa, presa por um arco, disposto sobre a testa de seu portador. Notoriamente, Entidades de Umbanda se apresentam com diademas na fronte. Mais impressionante ainda, pelo relato no supracitado livro, Emanuel não foi visto por vidência, mas sim por materialização diante de várias testemunhas.

No item (3) do fragmento acima exposto, a autora esclarece que ‘Emanuel’ não é a mesma entidade evangelizadora ‘Emmanuel’ mentor de Francisco Candido Xavier, que a esse tempo não havia iniciado seus trabalhos mediúnicos junto ao público. O significado desse nome é ‘Deus conosco’ denotando o enorme comprometimento destas Entidades com o Bem.

Mais adiante, Yvonne aponta um longo e instigante relato, nas páginas 141 e 142, que fragmentaremos para melhor observação:

“A velhas ex-escravas, porém, morreram, levando para o Além a afeição e a gratidão que nos consagravam, e como Espíritos desencarnados, continuaram nossas amigas, desejosas de retribuírem o carinho que lhes dávamos, outrora, auxiliando-nos durante os momentos difíceis que mais tarde sobrevieram em nossas vidas.”

Yvonne não nos fala de servidão espiritual, uma relação de poder temporal, mas sim de gratidão espontânea. Notemos que os dois Espíritos não poderiam ser descritas como “Entidades Pretas Velhas” por não terem suas atividades coesas na prática da Caridade, dentro da chamada Lei de Umbanda. Delfina e Germana, como eram chamadas, eram generosas e amáveis, mas não deviam, talvez, distinguir o que é correto do que é errado, realizando todo o possível a para Yvonne e família por amor, quem sabe até mesmo atrapalhando indiretamente na evolução moral da família Pereira. Nas linhas seguintes, perceberemos que essas duas entidades se ajustaram em falanges afins. Como eram recém desencarnadas, não teriam, ainda, o cabedal de conhecimento para melhor ajudar, e mais, a condição mental de sustentar um processo de formação moral. Complementa-se ainda que essas duas Entidades recém desencarnadas não apresentavam condições para atuarem como Guias, nem mesmo como Protetores de alguém, por não possuírem nenhum conhecimento sobre o Plano Espiritual.

“E parece mesmo que as duas antigas amigas, uma vez desencarnadas, carrearam para nós grupos afins espirituais seus, pois, além delas sempre me causou enternecida estranheza o fato de me ver frequentemente assistida por Espíritos de antigos escravos da raça africana e de índios naturais de antigas tribos brasileiras.”

Percebemos que esse vínculo, além de possíveis carregos espirituais da família Pereira, cujos pais abrigavam desabrigados de todos os matizes, os próprios espíritos familiares dos encarnados beneficiados, que, por gratidão aos bondosos anfitriões, passavam a ajudá-los também. Nesse caso, provavelmente, alguns destes Espíritos, de formação moral mais elevada poderiam organizar os demais e assim facilitar o imenso trabalho fraterno que o pai da autora liderava junto de sua esposa, tanto que observamos o auxílio deles nos desdobramentos mediúnicos de Yvonne:

“No que me diz respeito, porém, essa assistência se exerce de preferência hoje como nunca, durante os fenômenos de desdobramento em corpo espiritual, quando, às vezes, me encontro como que perdida em regiões tenebrosas do mundo invisível ou mesmo da Terra, á mercê de perigos imprevisíveis. Sou mesmo inclinada a crer que, assistindo-me em ocasiões tais, as ditas entidades, já esclarecidas e portadoras de muito boa vontade para acertar nos caminhos da evolução, mais não fariam do que o cumprimento de sagrado dever, porquanto, segundo minhas próprias observações, todas elas formaria falange como que de milícia policial do mundo invisível, combatendo distúrbios que muito se alastravam pelas duas sociedades se não fossem de algum modo combatidos, milícia que seria dirigida por Entidades mais elevadas na hierarquia de Além Túmulo. Poderíamos dar-lhes ainda o qualitativo de ‘assistentes sociais’ do Invisível, de vigilantes, etc.”

Encontramos nesse belo depoimento, além da gratidão da autora, a descrição desses espíritos a partir de seu ingresso em um grupamento espiritual. Realizam tarefas mais simples, mas de alto valor moral. Se esforçam para auxiliar, mas sem interferir no livre arbítrio da médium, nem ir contra as Leis Divinas. Possuem código de ética rigoroso, e possuem forma de ação variada. No início deste modesto estudo, já verificamos essas características, e aqui ratificamos. Na Umbanda, tais procederes, são encargos dos Exus Batizados com expressivo grau de evolução moral, tornando-se de fato Protetores; ou, no Espiritismo, Guardiões. Nas linhas seguintes, já na página 142, Yvonne cita que existem outras formas de atuação assistencial, por parte da Espiritualidade, bem como nunca haver conversado com esses Espíritos trabalhadores em sessões mediúnicas, sendo discretos e humildes. Somente nos transes da autora, sem a presença direta dos mentores, é que se manifestam com poucas palavras, na mesma linguagem que ela.

Relembrando sua origem familiar-terrena, Yvonne A. Pereira, relata que sua bisavó, uma legítima índia Goitacás (do tronco Tamoio) fora-lhe um baluarte de sincero amor cristão. E na página 143, a célebre médium apresenta ao leitor a figura de José, um índio Goitacás, que mais adiante se revela irmão de sua prezada bisavó.

“Eu me admirava, pois, de notar ao meu lado, de quando em vez, a título de ajuda e proteção, a figura espiritual de um índio brasileiro, jovem e gentil, aparentando dezoito ano a vinte anos de idade, cujo semblante apresentava melancolia profunda, enquanto as atitudes eram sempre discretas e afetuosas.” E segue: “Como Espírito desencarnado, porém, a dita Entidade não perdera ainda, talvez por ser essa a sua própria vontade, ou talvez por impossibilidades acima da minha capacidade de apreciação, não perdera ainda o complexo mental da última encarnação terrena, pois seu aspecto era o do comum dos índios brasileiros, discretamente enfeitado com plumagens de aves e flechas coloridas, e os cabelos compridos caídos pelos ombros revelando antiga raça dos nossos nativos. Sua configuração espiritual, por isso mesmo, nada apresentava de tênue à minha visão, quer durante os transes mediúnicos quer em vigília.”

Esse amigo espiritual da autora, fazendo às vezes de protetor, ou guardião pessoal, embora tomasse a aparência indígena, não funcionava dentro do arquétipo do Caboclo de Umbanda. Emanuel e Peri, já citados, teriam muito mais cabedal para essa correlação haja vista a evolução moral que dispunham e também pela forma e trabalharem: na cura e no trato com obsessores. Nesse caso, percebemos a indagação de Yvonne ao se manifestar a respeito da eventual incapacidade de José (que se apresenta assim na página 145, mediante questionamento da médium) de alterar sua aparência perispiritual, o que no caso dos outros Trabalhadores do Bem supracitados, não foi cogitado por conta do vulto moral desses dois Emissários. No entanto, na página 149, a médium descobre que o Amigo Espiritual optava por assumir aquela aparência, sendo Espírito antigo e civilizado, que reparava erros cometidos, da mesma forma que Peri.

No caso do Espírito José, cuja derradeira encarnação fora de índio Goitacás, podemos inseri-lo como um Guardião ou Protetor Particular. A melhor forma de refletirmos sobre Exu é considerar seu nível evolutivo: como alienado da Lei do Progresso (como um Amoral ou Imoral, que negociam pagamentos com eventual consulente, dentro do pensamento apresentado na página 8) ou de Aprendiz da Lei do Progresso, sem muitas certezas sobre ela, mas ainda assim um estudioso e praticante da Lei (moralizando ou moralizado, que não negocia pagamentos).

Nas “Nações afrobrasileiras” Exu tem conceito completamente diferente, exceto por ser Amoral, sendo sempre Exu, e seu culto/forma de se relacionar é muito diferente do que ocorre na Umbanda, até porque nos chamados Candomblés não se trata de um Egum (palavra de origem Yorubá para designar desencarnado) e sim um ser diferenciado, como os demais Orixás/Voduns e outros, conforme a Religião em questão, pela ótica Ketu, Gêge, etc... (para maiores entendimentos sobre, recomenda-se as obras clássicas do autor Pierre Verger) que, por sua vez, são diferentes da Umbanda e outros cultos, exceto por alguns nomes. E para se compreender das possíveis razões para essas diferenças e semelhanças, serão necessários outros estudos.

Para entender melhor a conceituação de Guardião, termo mais adotado pelos Espíritas Kardecistas, este é um Protetor, podendo se apresentar na Umbanda como Exu, Preto Velho e Caboclo (como veremos logo abaixo), desde que se posicionem na tarefa de guarda/proteger particularmente uma pessoa, grupo ou local. Quando nos referimos a Guia, de fato e de direito, independente de sua forma perispiritual (Pretos Velhos e Caboclos, ou ainda Crianças, em se falando de Umbanda), sua evolução moral é superior à do tutelado, auxiliando de várias maneiras a evolução do pupilo.

No Livro Loucura e Obsessão (editora FEB, 11 ª edição, 2010; 1ª edição 1988), de Manoel Philomeno de Miranda e Divaldo Pereira Franco, sob a tutela de Bezerra de Menezes, podemos ler sobre um forte destacamento de índios atuando na proteção de um terreiro de Umbanda chefiado por uma Entidade conhecida como Preta Velha (que é o cenário central do referido livro), que detém influência benigna junto a entidades sofredoras. Conversando com antigos médiuns de Umbanda, descobrimos que espíritos de índios faziam a proteção dos terreiros. Eram entidades mais simples e de trato direto dos mentores da casa. Com o passar dos anos, surgiram as Falanges conhecidas como Exus e Pombogiras, que assumiram esta função de defesa do terreiro e proteção. Ou seja, mudou-se a aparência perispiritual e nomes das Entidades, mas não sua função. Em outro momento, estudaremos as ricas obras desse autor Espiritual para analisarmos com mais profundidade, sobretudo este livro supracitado.

Na página 149, podemos perceber, que a médium, talvez movida por algum preconceito doutrinário insconsciente, tenta alertar o índio José para sua forma espiritual:

“- Se já foste civilizado, como encarnado, porque conservas, agora, a configuração indígena, que é tão primitiva? Não é tempo de corrigir os complexos mentais?... Ou as antigas existências são hoje odiosas ás tuas recordações, e por isso preferes a aparência indígena?... – ousei perguntar, valendo-me do direito que a prática do Espiritismo faculta pra instrução doutrinária.”

Nesse polêmico fragmento, vemos que Yvonne, talvez, atrelada a sentimentos por seu ancestral familiar, já que José fora irmão terreno de sua bisavó, e tendo convivido com a própria autora ao longo dos séculos (página 148) se apega ao formalismo superficial, esquecendo-se, momentaneamente, da importância do conteúdo, em relação à forma. Delicadamente, porém com firmeza, o Espírito José, respondeu:

“- Sim – respondeu – a atual aparência é-me mais grata, porque não posso desaparecer de mim mesmo, sou eterno e há necessidade de que eu seja alguma coisa individualizada... Foi como indígena brasileiro que iniciei a série de reparações das faltas cometidas no setor civilizado. Mas, ainda que eu desejasse modificar a minha aparência, não o poderia, por uma questão de pudor e honradez. Como aparecer a mim mesmo ou a outrem com a personalidade de um déspota, um tirano, um celerado? Terei de desempenhar longa série de tarefas nobres, nos setores obscuros que me couberem, em desagravo aos males outrora causados no setor civilizado... A punição continua, ainda não estou liberto do pecado... “

Essa firme resposta à nossa doce Yvonne nos faz lembrar da Lei da Ação e Reação, e Yvonne, que já havia descrito situações assim nas obras supracitadas, e mais, com as devidas observações, deu-se por entendida. Ao longo da página seguinte, tocada em sua fibra íntima, a médium procura saber do Espírito José, qual sua efetiva ligação, o que é negado pelo Protetor. Entendamos que a nobre Yvonne é humana, e percebemos sua grandeza espiritual ao publicar as linhas, encontradas na referida página, sem receios de eventual má interpretação ou má fé. Vemos uma pessoa sensível, que movida por afeição e curiosidade, tentou modificar, ainda que levemente, o entendimento da missão do Espírito José.

Mais adiante, na página 166, passamos a conhecer o Espírito José Evangelista, que se apresentava como homem negro, tendo sido escravo brasileiro nos tempos da Monarquia:
“... José Evangelista, ter sido homem de cor, quando encarnado, e escravo de descendência africana no Brasil, ao tempo da monarquia. Muito inteligente, mesmo culto, esse Espírito conservou-se um enigma para mim durante algum tempo, pois somente nos dois últimos anos me foi dado conhecer os motivos pelos quais se apresentava senhor de tanta cultura. É, no entanto, grande trabalhador e frequentemente se comunica em nosso núcleo espírita, trabalhando dedicadamente a bem do próximo, às vezes mesmo sob direção de mentores mais elevados, não obstante possuir métodos particulares para agir nos serviços da Lei da Fraternidade Universal faculta liberdade de métodos aos seus obreiros, desde que os princípios da mesma sejam observados.”

Neste fragmento de apresentação, encontramos um Espírito de homem negro de vasta moral, detentor de metodologia própria de ação no Bem. Essa afirmação é somada a tantas outras iguais, ao longo da obra de Yvonne Pereira, desmistificando que a estrutura de Ação Fraterna tem que ser a mesma, seja no mundo denso, seja na Espiritualidade. Da mesma forma que outros Espíritos, como o próprio Espírito Adolfo Bezerra de Menezes, o Espírito José Evangelista atua sob orientações de Espíritos mais elevados, desqualificando-o como Espírito iniciante em sua escalada de Crescimento Moral, em comparação com os Espíritos Delfina e Germana.

“O Espírito José Evangelista, no entanto, em se afirmando ex-escravo no Brasil, não apresentava complexos conservados do estado de encarnação, por isso que se exprimia naturalmente, sem o palavreado da raça, senão em estilo clássico, pelo menos de modo normal, embora fácil.”

Esse trecho interessantíssimo vai de acordo com o conhecimento, por parte de Umbandistas estudiosos que as Entidades que nela militam não se fixam cegamente às suas expressões de comunicação. O falar arcaico, mesmo errado, serve tão somente para demonstrar que, através de uma humilde manifestação verbal simples, existe todo um conhecimento benéfico que está sendo passado. E sempre de forma compreensível ao consulente. De nada adiantaria, o idioma português escorreito a uma pessoa de pouca formação acadêmica que não iria compreender. E mais, a forma de se expressar aproxima as partes em questão, o Espírito, e o consulente, facilitando a troca magnética por empatia. Não raro, porém, as Entidades de Umbanda se comunicarem sem floreios ou deficiência no vocabulário, expressando-se de acordo com as normas cultas da gramática, dominando terminologias específicas das ciências modernas.

Uma das características mais marcantes das Falanges dos Pretos Velhos é o domínio da Psicologia, pode ser analisada através da tinta de Yvonne Pereira, no seguinte fragmento, registrado na página 174:

“- O bom José Evangelista será também profundo psicólogo, não obstante sua humilde condição de ex-escravo de raça africana. Ele sabe que até mesmo...”

Um bom psicólogo independe de sua condição racial, depende de sua formação moral e intelectual, sendo, portanto desnecessário o emprego desta frase, por parte de nossa Yvonne, talvez, espantada por testemunhar tão brilhante trabalho de amparo ao Espírito Pedro, também negro – o que pareceu não surpreender a médium – que obsediava inconscientemente um conhecido da querida seareira do Bem.

Entendemos que, embora fosse libertária, a autora, devido, certamente, à influenciações que já em sua época grassavam a eventuais preconceitos quanto à forma e conteúdo, e sua humildade em reconhecer-se pequena ante a grandeza da Obra Divina, faz compreender algumas citações, que acreditamos serem desnecessárias. Para comparações eventuais, ao assunto que nos referimos, não lemos em nenhuma obra a ressalva que Cairbar Schutel, Bezerra de Menezes, Eurípedes Barsanulfo eram brancos. Esses baluartes do Bem trabalhavam em nome do Cristo de forma impressionante, a despeito de sua condição social e raça. Simplesmente trabalhavam.

Mais adiante, de forma brilhante, a saudosa médium, trata junto ao Espírito José Evangelista, a forma como esta Entidade Benemérita resolvera a questão do Espírito Pedro, tocando pelo viés artifício:

“Caro irmão José Evangelista – comecei – o Sr. Entende por verdadeiramente lícita, perante os códigos espirituais, a farsa da compra da propriedade do nosso Pedrinho, para obrigá-lo a sair dela? – pois sinceramente acredito, com Allan Kardec, que todos nós, experimentadores espíritas, temos o direito de procurar instruir-nos com os Espíritos que nos honram com suas atenções, visto que a própria Doutrina Espírita nos faculta tal direito, para que as dúvidas não persistam obumbrando nosso raciocínio.”

Legitimamente, a médium, em meados do século XX demonstrava preocupação com a prática da “farsa” muito comum nos casos de desobsessão, seja no Espiritismo (Kardecismo), seja na Umbanda, seja até mesmo nas Igrejas Protestante e Católicas, conforme temos por relato de Entidades que trabalham nessas Searas.

“Responderei a sua pergunta depois que a senhora me disser como entende a questão da Caridade e me indicar que ‘propriedade’ nosso amigo Pedro possuía, sendo Espírito desencarnado...” Mais adiante, o sábio Espírito prosseguiu, elucidativo: “- Sim, pode ser isso também, mas é muito, muito mais do que isso, porque a Caridade é Amor e o Amor é infinito e indefinível. Então, pois, a ‘farsa da compra’ não foi Caridade, segundo minhas próprias possibilidades, para com nosso amigo Pedro? Não foi Caridade com o pobre ‘C’, chefe de família carregado de responsabilidades, necessitando trabalhar para manter os seus, e que havia três meses que sofria os terríveis reflexos das vibrações negativas daquele cujo corpo físico tombara com um câncer generalizado? Não foi Caridade com o próprio Pedro, livrá-lo da fixação mental nesse câncer, que o fez desencarnar há tanto tempo, mas sua lembrança o afligia ainda, conservando-o imaginariamente doente? Não foi Caridade com a família de ‘C’, que sofria por vê-lo sofrer e temendo o desenlace do corpo carnal, e que se fatigava nas lides e peripécias que a grave enfermidade do seu chefe arrastava? E não foi Caridade também com a senhora, que se esgotava fisicamente nos serviços de ajuda ao enfermo e aos labores domésticos, e à noite continuava a se esgotar mental e psiquicamente, no penoso contacto com uma entidade endurecida nas próprias opiniões, enredada em distúrbios mentais provindos da amargura do ódio e do agarramento à matéria? Com a senhora, incumbida de ensiná-lo a amar e perdoar, dedicando-se a ele com paciência maternal, e que levou cerca de dois meses nesse penoso trabalho, quando outras tarefas lhe competiam junto a outros sofredores, talvez mais graves do que o mesmo Pedro? Às vezes, minha filha, nós, os servos desencarnados, nos vemos na contingência de nos valermos de ‘farsas’ desse tipo para impedir que o mal se alastre, provocando crises imprevisíveis, e para preparar o ensejo de o amor resplandecer e a verdade se manifestar, reeducando o ignorante.”

A ‘farsa’ conforme elucidou o Espírito José Evangelista é um meio muito empregado, e como escrito acima, nas Casas de Religião em geral. Dificilmente, um encarnado participa ativamente delas e Yvonne Pereira é um caso especial, trazendo à baila, ainda nos distantes anos 60 (década de publicação desta obra, e salientamos, que este caso talvez tenha acontecido em período anterior), essa temática assaz importante nos dias de hoje. A Espiritualidade Superior, em seus programas de Caridade, dispõe de um vasto leque de opções, enquanto o Astral Inferior também detém suas formas de obsessão. Cumpre-nos entender essa verdade e auxiliar ao máximo os Benfeitores, comprometendo-nos no exercício irrestrito de amar ao próximo, com Instrução e Reforma Íntima.

X

Concluímos esse modesto estudo, acima de tudo, agradecendo pelo legado que a sensível Yvonne do Amaral Pereira nos deixou seu exemplo de Amor e persistência no Bem. Observamos que nos dias de hoje, essa saudosa médium seria confundida, caso seu nome fosse omitido e chamado de ‘X’. Nesse caso, pelas suas histórias narradas nos livros, seria facilmente considerada médium de Umbanda ou de algum segmento Espiritualista, ficando o Espiritismo “Kardecista” fora de cogitação, conforme foi constatado em algumas oficinas de estudo, onde assim se procedeu. Entendamos que Yvonne pouco se preocupava com rótulos, trabalhando tão somente na Caridade Cristã. Na verdade as raras vezes que essa doce seareira da Luz se voltou para roupagens superficiais, foi conduzida a reflexão produtiva pelos Amigos Espirituais, como vemos ao longo do presente estudo. Não foi por acaso que essa senhora lidou com vasta gama de Espíritos, conhecendo suas Falanges variadas, e seus registros na forma de livros, postos à público através das décadas, são preciosos e devem ser sempre estudados, refletidos. As linhas que a querida Yvonne trouxe à matéria terrena é livre de dogmas, permeada pelo sentimento de Humanidade Fraterna, eloqüente, cheia de informações preciosas para nosso crescimento moral, livre de preconceitos, cismas, entraves religiosos, ou seja, totalmente condizentes com as máximas do Cristo.




http://www.reflexoesecaminho.blogspot.com.br/


para baixar gratuitamente os livros da série Umbanda Sem Medo: http://umbandasemmedo.blogspot.com.br/

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

O centurião



autor Thiago D. Trindade




Interessante estudar o caso do centurião (Mateus, 8: 5-13) que vai até Jesus pedir a recuperação de seu servo enfermo. Um homem da elite do exército romano, portanto, um invasor, que contra todas as expectativas resolveu pedir por alguém cujo povo jazia esmagado sob as sandálias férreas do Império Romano. E, atravessando o mar de aflitos que o Mestre Galileu curava, o soldado veterano rogou pelo servo ao estranho Rabi, que se voltou para ele com doçura e deferência, para espanto geral.

Tenhamos em mente que o soldado, líder de um feroz destacamento de cem guerreiros, poderia ter mandado buscar Jesus. Ou ainda, iria com parte de sua belicosa tropa até onde o grupo se reunia e obrigado o Cristo a fazer o que quisesse.

Sendo Jesus o Amor na Terra, certamente iria à casa do centurião, se fosse convocado. Caso fosse abordado com truculência, ainda assim iria curar o servo do soldado. No entanto, não aconteceu assim. O que fez o centurião, sozinho, deixar seu posto e atravessar o mar de gente hostil e ir até um entranho judeu que falava sobre um reino dos céus?

Primeiro, entendamos a relação entre os escravos e senhores na antiguidade romana. Aos escravos domésticos havia confiança e entendimento, na maioria dos casos. Não raro os senhores eram aconselhados pelos servos que lhes dedicavam afeto sincero. Muitos escravos chegavam a cuidar das feridas dos amos e a administrar alguns dos seus negócios. Em muito pouco lembra a escravidão que vigorou entre os séculos XVI e XIX, incluindo aí o Brasil, embora aos escravos domésticos fosse dado uma pequena confiança por parte dos senhores.

Mas, voltemos ao caso do centurião.

O servo doente devia gozar da confiança e afeição de seu senhor, e certamente, ao ouvir sobre os feitos de Jesus e sua Boa Nova, fez crescer no humilde escravo judeu uma nova esperança. Com essa Fé crescente, o servo fiel instaurou no centurião a idéia de que Jesus, que a todos curava, pudesse salvar seu amigo.

A Fé do escravo fez o centurião romano guiar-se até o Divino Médico e por fim o próprio legionário encontrou a si mesmo.

Decidido, o soldado trajou-se com sua lendária armadura, cingiu seu gládio à cintura, e certamente essa arma se banhara em sangue inúmeras vezes, e então, partiu para pedir ajuda para seu amigo agonizante.

“Como a Fé nesse esfarrapado judeu pode sustentá-lo? Que Deus é esse, a quem esse tal Jesus tanto fala?”

Certamente o centurião deve ter se perguntado coisas assim enquanto caminhava pelas ruas empoeiradas da Cafarnaum. Muito provavelmente seus pares iriam receber a notícia de que ele se misturara ao estranho povo bárbaro, ainda mais por um escravo. Isso, como os Registros assinalam, foi posto de lado pelo guerreiro.
Sozinho, munido pela compaixão por seu amigo doente, o centurião viu a aglomeração e no meio dela, Jesus. Um último obstáculo. Teria sido mais fácil matar uma pomba a um dos deuses romanos. Mas não era isso que o servo precisava. O servo precisava de Jesus e então era Ele que o centurião iria oferecer ao amigo.

Em passo de marcha, inicialmente, e depois abrindo caminho lentamente por entre a massa de judeus, o legionário se viu diante do Mestre Nazareno.

Imaginemos o encontro de ambos: Dois conquistadores. Um, conquistador de corpos, acostumado ao trabalho da espada. O outro, conquistador de almas, acostumado ao trabalho do Amor.

Toda e qualquer dúvida que o soldado pudesse ter em seu coração, desfez-se em pó.

Escandalizados, os discípulos se agitaram. Afinal o centurião era um gentio, ou seja, um não judeu, e estava entre eles. E ainda mais era um vil romano!

Jesus, por sua vez, parecia que esperava a chegada daquele que possivelmente era o primeiro gentio a abraçar a Boa Nova.

Com um sorriso, o Rabi anunciou que a Fé do guerreiro curara o servo, e que a determinação do centurião fora fundamental para o processo. No fim, o legionário encontrara a cura para si mesmo.

Aturdido, o velho soldado fez o caminho de volta e reencontrou o amigo recuperado. Particularmente, me pergunto onde estaria o centurião, e o que ele sentiu, quando o Cristo fora destroçado por seus companheiros romanos, certamente seus conhecidos...mas deixa pra lá, não é mesmo?

Todos nós somos como esse centurião. Temos alguém que amamos e que precisa de nossa ajuda. Alguém cuja Fé é tamanha que nos inspira a caminhar em busca de socorro para ele. E nesse percurso acabamos por nos encontrar. Quase sempre temos à mão a espada que toma, que conquista. Mas ao optar por seguirmos a trilha da Fé sincera, atingimos o Objetivo Maior. O mar de adversários que nos separam da Luz Maior, nos servem para lembrar nosso propósito que é servir ao próximo, independentemente do que dizem ou pensam.

O legionário venceu sua maior batalha ao pedir por aquele a quem amava. Chegando a Jesus e a Boa Nova, o romano nunca mais se afastou da Luz Maior.

E como eu sei disso?
Quem conseguiu passar ileso de um encontro com o Mestre?



Vídeos - Vida e obra de Yvonne do Amaral Pereira, um dos maiores baluartes espíritas



Vale à pena conhecer a vida e a obra desta notável brasileira e sua imprescindível obra.


http://www.youtube.com/watch?v=jvNjAmlVldQ


http://www.youtube.com/watch?v=j2poSXNCE5Y


Vídeo - Jerônimo Mendonça, o Gigante Deitado


Excelente palestra, sobre o espírita Jeronimo, e seu trabalho no BEM.



http://www.youtube.com/watch?v=IiFFaPENtFs

Vídeos - Ana Prado, médium pioneira em materialização no Brasil.


No estado do Pará, houve uma médium caracterizada, dentre muitos feitos, pela materialização. Esta jovem foi estudada pelo estudioso espírita Gabriel Dellane.


Vale à pena conferir essa palestra.

http://www.youtube.com/watch?v=2t9y-nqd_P0

Vídeo - De Kardec aos dias de hoje



Em comemoração ao Bicentenário de Nascimento de Allan Kardec (1804-2004), o Codificador do Espiritismo, a Federação Espírita Brasileira (FEB), em parceria com a Versátil Home Video, apresenta O Espiritismo - De Kardec aos Dias de Hoje. Esta edição especial tem menus e legendas em oito línguas, incluindo Esperanto. O filme traz uma visão geral sobre os preceitos básicos da Doutrina Espírita e sua contribuição para o progresso e a felicidade do ser humano. Abrangendo desde as obras que compõe a Codificação do Espiritismo por Allan Kardec ao Movimento Espírita da atualidade, o DVD é uma excelente introdução à Filosofia, à Ciência e à Religião Espírita.



http://www.youtube.com/watch?v=YUuiAIGHYIc

Marlene Nobre comentando a importância da obra de André Luiz



http://www.radiofraternidade.com.br/ - Palestra contribuição das Obras de Andre Luiz para a Ciência, Marlene Nobre SP, 07/12/13, Uberaba MG, Grupo Espírita da Prece


http://www.youtube.com/watch?v=DKQTyAwxjd0&feature=youtu.be

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

A salvação de todos

Autor Thiago D. Trindade



É crença comum de que todo aquele que disser que é cristão será salvo. Um grande equívoco já que o Mestre afirma que nem todo aquele que disser “Senhor! Senhor!” será salvo, conforme assinala Mateus (7: 21-23).

Falar da boca para fora é fácil, simples. Antes de exaltar a própria – e pretensa – salvação, ao contrário de como muitos tem feito por aí aos berros, aliás, um sinal retumbante de orgulho, é necessário agir.

Agir como?

Vestir-se como o Cristo, apontar dedos para aqueles a quem julga pecadores, ou pior, impor seu ponto de vista como único e verdadeiro?

Não.

O doce Carpinteiro nos ensinou, através de gestos e parábolas, que o verdadeiro Cristão é reconhecido pelas suas obras.

É aquele que pratica a Caridade em toda sua concepção: a material, onde o Cristão divide o que tem com aquele desprovido de bens materiais; e a moral, que se faz com a doçura da palavra amiga, o saber ouvir, a doação de um conselho progressista, uma prece...

Essas são as obras que o Cristo se referiu. Tomemos, pois, a lição da viúva (Marcos, 12: 41-44), que dividiu o que tinha com algum desconhecido e tratemos de sermos verdadeiramente salvos.


"Jesuses"

Autor Thiago D. Trindade

Existem muitos “Jesuses” por aí: o que era Médium supremo de Deus; Deus Encarnado que se dividiu em Três; Oxalá em algumas Umbandas; um simples profeta como tantos outros; um farsante; uma entidade que possuía somente corpo fluídico e que por isso não podia morrer na carne; um símbolo criado para se propagar uma doutrina...

Na verdade, nunca chegaremos a um acordo com nosso próximo sobre quem foi Jesus... Devemos é nos preocupar em praticar os Ensinamentos que Ele deixou para que nós caminhássemos. E cada um fique com “seu” Jesus!

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Vídeo - Peixotinho, um dos maiores médiuns de materialização


A história e a missão do maior médium de materialização do Brasil. Acompanhe o início dos fenômenos, a repercussão pelo Brasil e o impacto causado em quem presenciou casos de cura, exemplos de abnegação ao Espiritismo e materializações de Espíritos como Scheilla, Zé Grosso, Nina Arueira e Clarêncio, ministro da cidade espiritual "Nosso Lar". Os relatos são dos próprios familiares do médium, testemunhas oculares e do biógrafo de Peixotinho contando casos ocorridos em uma época de fundamental importância para o início da divulgação das ideias espíritas no Brasil.





http://www.youtube.com/watch?v=bl51O_26hxw

Vídeo - A vida de Eurípedes Barsanulfo


Com apresentação e narração do ator Lima Duarte, Eurípedes Barsanulfo - Educador e Médium é dirigido pelo pesquisador Espírita Oceano Vieira e mostra a trajetória de um dos maiores nomes da Educação e do Espiritismo no Brasil: Eurípedes Barsanulfo (1880 - 1918). O vídeo traz ainda depoimentos sobre os médiuns Mariano Cunha e Frederico Peiró, dois nomes de fundamental importância no apoio a Eurípedes; além de vídeos extras sobre seu discípulo, Dr. Tomás Novelino.

Como educador, Eurípedes colocou a educação a serviço das crianças mais pobres e adotou métodos de ensino humanistas no Colégio Allan Kardec em Sacramento (MG). Métodos esses revolucionários para a época e muito utilizados agora, como a adoção de classes mistas, fim dos exames tradicionais, abolição de castigos e recompensas, aulas de Filosofia, Botânica, Arte Dramática, Zoologia, Astronomia, Anatomia e História das Religiões.

Como médium, desenvolveu suas faculdades mediúnicas e seguiu rigorosamente os ensinamentos da Doutrina Espírita. Curou gratuitamente milhares de pessoas e foi processado por prática ilegal de medicina. O legado de Eurípedes continua até os dias de hoje nas instituições, obras assistenciais e de ensino em Sacramento.

Não deixem de assistir ao vídeo, pois é maravilhoso.

Excelente qualidade de imagem e áudio.





http://www.youtube.com/watch?v=Y96W13lGxQE

sábado, 30 de novembro de 2013

Ouvir

Autor Thiago D. Trindade



Ouvir é uma forma de Caridade. E como nós somos surdos! Fazemos questão de não ouvir reclamações, sugestões, correções e até elogios, dentre outras coisas.

Selecionamos bem o que queremos ouvir. Aí que reside o perigo. A vaidade, antítese da Humildade é surda. E vaidosos como somos, logo, proporcionalmente surdos.

Ouvir um lamento, por mais repetitivo e longo que seja, tempera o caráter. Exerce em nós a Caridade, com a doce faceta da Paciência. Com a Paciência, quem sabe, podemos vencer o dissabor com o mel balsâmico que pode, ainda que lentamente, mudar um coração dolorido.

O coração adoçado, ao invés de ficar com diabetes, se tornará brando e ainda mais belo. A surdez da alma será rompida pela canção da Reflexão, que é o princípio da Caminhada para a alegria da Vida, repleta de vozes que falam somente de Amor.

Um novo olhar a respeito da Família


autor Thiago D. Trindade

O modelo daquilo que chamamos de família está em extinção. O modelo patriarcal, rígido, quase absolutista, está à míngua. Isso é bom? Aliás, pensemos se esse modelo era realmente bom e qual tipo de pessoa que ele gerou...

A tal modernidade, alimentada por mentes entorpecidas, tenta enfiar goela abaixo a idéia de que a família é algo descartável, ultrapassada. Não falo da estrutura: mamãe rainha do lar, papai sabe tudo e filhinhos perfumados. Me refiro ao grupo de espíritos endividados pela trama das encarnações.

Pensemos: se a família está descartável, logo as pessoas também...

José, o carpinteiro que criou Jesus, ficaria deslocado nos dias de hoje e Maria teria chorado muito mais, se isso for possível...

Muitos preferem dizer que nasceram nas famílias erradas e buscam terceiros para se satisfazerem. É uma visão equivocada, baseada na ignorância. É necessário, e a literatura espírita é rica em ilustrações, para determinando espírito nascer na respectiva família para que possa quitar pesados débitos, ou seja, aprender pela dor ou amor o Caminho do Perdão e da Redenção.

Kardec, muito sábiamente, realizou um estudo sobre a importância da família e a espiritualidade. Sem desvios de interpretação, a conclusão final é categórica: a responsabilidade evolutiva é individual, mas o desempenho do grupo é fundamental para êxito pleno.

Muitos irão afirmar: meu filho (a) está longe, ou meu pai (ou mãe) não quer me ver! Será isso mesmo ou a pessoa, egoísta, se põe numa atitude preguiçosa e arriscando-se a angariar novos – e pesados – débitos?

Ou ainda, a leniência com os desvios morais do companheiro de jornada, cerrando os olhos para os absurdos que eles cometem. Nesse caso, há também a repetição do egoísmo em não querer reconhecer o próprio erro em realizar dignamente a parte que lhe foi confiada na encarnação.

Zelar por um ente querido não é isolá-lo do mundo de provas e expiações (como se fosse possível...), mas sim fazer o necessário para o sucesso do empreendimento chamado encarnação.

Falhas acontecem. Repetir as falhas é onde reside o verdadeiro atraso nos planos evolutivos.

O futuro da família está onde sempre estive: em nossas mãos! A aplicação dos ensinos do Mestre da Galiléia é a força motriz que nos impulsionará para o Alto com o menor número de escalas na Terra o possível.

Se faz necessário compreender nossa parcela de responsabilidade e cumprir o necessário na Grande Escola da Vida.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Mais um vídeo de Zélio de Moraes narrando sobre a Fundação da Umbanda na Terra, dentro do Espiritismo, que havia se tornado preconceituoso

Mais um vídeo excelente, que começa com Zélio e depois outras participações acerca das manifestações da Umbanda e do Espiritismo


https://www.youtube.com/watch?v=nRvjsKEGpPs#t=195

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Vós sois deuses?



Autor Alexandre Giovanelli





Vós sois Deuses e se o quiserdes podereis fazer o que eu faço e muito mais...” Essa é uma frase que realmente nos faz refletir sobre o poder divino de que somos portadores e do qual muitas vezes negligenciamos, seduzidos que somos pelas ilusões do mundo material. Vale a reflexão, embora esta frase não exista ipsis litteris na Bíblia.

Cabe aqui uma explicação. O trecho citado é composto por duas sentenças que foram apostas, mas que são encontradas em duas passagens bem distintas do evangelho de João e associadas a contextos diferentes. Na primeira, Jesus passeava no templo, no pórtico de Salomão, quando os judeus começaram a interrogá-lo se Ele seria mesmo o Cristo previsto nas escrituras antigas. No entanto, quando ouvem a confirmação de Jesus, pegam em pedras para apedrejá-lo uma vez que consideram uma blasfêmia um homem se intitular Deus?! Mas Jesus replica dizendo:
"Não está escrito na vossa lei: “Eu disse: Sois deuses?” Pois, se a lei chamou deuses àqueles a quem a palavra de Deus foi dirigida (e a Escritura não pode ser anulada), Àquele a quem o Pai santificou, e enviou ao mundo, vós dizeis: Blasfemas, porque disse: Sou Filho de Deus? Se não faço as obras de meu Pai, não me acrediteis. Mas, se as faço, e não credes em mim, crede nas obras; para que conheçais e acrediteis que o Pai está em mim e eu nele." (João, 10: 34 a 38)

Como em outros confrontos com representantes de diferentes seitas judaicas, Jesus faz uma citação de trecho do Velho Testamento, especificamente o versículo 6, capítulo 82 do Livro dos Salmos: “Eu disse: Sois deuses, sois todos filhos do Altíssimo”. Esta passagem é uma crítica explícita aos antigos juízes judeus que de forma maliciosa e interesseira favoreciam em suas sentenças os injustos e com isso oprimiam os pobres e humildes. Na época, tais juízes eram chamados de “deuses” e o salmista faz uma repreensão sobre os maus atos cometidos pelos tais juízes, tanto que no versículo seguinte ao citado é dito: “Contudo, morrereis como simples homens e, como qualquer príncipe, caireis”. Assim, Jesus sabiamente faz um jogo de palavras, em que, por um lado, critica veladamente os judeus que o reprovavam ao compará-los com os “deuses” ou juízes iníquos e ao mesmo tempo justifica sua afirmação dizendo que, se até mesmo homens iníquos podem ser chamados de deuses, que dirá um homem que faz boas obras e prega a palavra de Deus, como é o caso de Jesus, o qual havia acabado de curar um cego de nascença. Assim, o “vós sois deuses”, não é uma referência à nossa essência divina, mas sim um artifício retórico utilizado para rebater as críticas à missão do Mestre.

A segunda passagem do Evangelho de onde foi retirada a sentença: “podereis fazer o que faço e muito mais” pode ser encontrada no capítulo 14 de João:
“Em verdade, em verdade vos digo: aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço, e fará ainda maiores do que estas, porque vou para junto do Pai. E tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome, vo-lo farei, para que o Pai seja glorificado no Filho”. (João, 14: 12-13)

Aqui sim, Jesus faz uma promessa a seus discípulos de que pela fé ele sempre estaria junto aos seus e pela mesma fé, eles poderiam realizar as obras que Jesus confiou inicialmente aos seus seguidores. É importante ressaltar que naquele momento Jesus se despedia de seus discípulos, dizendo que em breve partiria para o plano espiritual. São os últimos momentos de Jesus, antes da captura e julgamento pelo Sinédrio. Para tanto, Jesus preparava o espírito de seus discípulos infundindo a fé e a confiança necessárias à missão que a partir dali seria desempenhada pelos seguidores de Jesus, sem a presença física do Mestre. Lembremos que, ainda no início do apostolado, os discípulos receberam a seguinte incumbência:
“Por onde andardes, anunciai que o Reino dos Céus está próximo. Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios. Recebestes de graça, de graça daí” (Mateus, 10: 7-8)

Embora os discípulos tivessem um papel ativo Jesus estava sempre junto deles irradiando bondade e sabedoria, instruindo e principalmente, corrigindo eventuais falhas que porventura os discípulos incorressem, como de fato ocorreu no caso do “endemoniado” que só foi curado pelas mãos de Jesus, pois que exigia “jejum e oração”. Mas com a partida de Jesus, não seria mais possível a intervenção direta do Mestre nas vidas daqueles homens. Assim, em sua sabedoria, Jesus deu uma chave para eles. A chave da fé. Através da fé eles conseguiriam entrar em comunhão com o Mestre em qualquer momento, mesmo nas situações mais difíceis e com isso o poder emanado dos planos superiores se manifestaria no momento de sua evocação. Essa era a nova etapa de aprendizagem dos discípulos.

Portanto, embora não exista a sentença: “Vós sois Deuses e se o quiserdes podereis fazer o que eu faço e muito mais...” há diversas outras passagens encontradas no evangelho que podem assemelhar-se ao sentido destas palavras. Portanto, não desanimemos e voltemos ao ponto central: Realmente nós teríamos uma potência divina? Em outras palavras: Trazemos em nós a centelha divina, a qual pode operar maravilhas?
Para isso voltaremos às palavras do Mestre. Fixemos novamente nossa atenção para situação semelhante à anteriormente citada. Estava Jesus cercado por fariseus, uma das várias seitas da época, os quais lhe indagaram quando viria o Reino de Deus. Jesus respondeu:
O Reino de Deus não virá de um modo ostensivo. Nem se dirá: Ei-lo aqui; ou: Ei-lo ali. Pois o Reino de Deus já está dentro de vós” (Lucas, 20: 20-21)
Algumas traduções substituem o “dentro de vós” pelo “no meio de vós”
. Em todo o caso, o sentido é claro: quis Jesus dizer que o Reino de Deus está muito próximo do nosso alcance; está mesmo à nossa vista. Temo-lo tão perto, mas não conseguimos alcançá-lo...

O Mestre vai mais longe e nos ensina como receber a dádiva do Reino de Deus. Aliás, essa foi sua principal missão: ensinar-nos a entrar em comunhão com o nosso criador; transformarmo-nos em santuário onde Deus possa se manifestar. Jesus persistentemente falou sobre isso, de várias formas; através de parábolas, exemplos, exortações. Lembremos da parábola do semeador: “A terra boa semeada é aquele que ouve a palavra e a compreende, e produz fruto...” (Mateus, 13:23). Ou da parábola do grão de mostarda: “O Reino dos Céus é comparado a um grão de mostarda que um homem toma e semeia em seu campo. É esta a menor de todas as sementes, mas, quando cresce, torna-se um arbusto maior que todas as hortaliças, de sorte que os pássaros vêm aninhar-se em seus ramos” (Mateus, 13: 31-32). Poderíamos citar tantas outras passagens, todas apontando para a mesma realidade: deixemos que a palavra de Deus faça morada em nossa alma. A partir daí passaremos a produzir muitos frutos, o maior deles conhecido como o amor-compaixão, aquele que nos faz sentir ligados à toda a criação divina: homens, mulheres, animais, plantas, céus e terra... e ao próprio Criador. Mas também o fruto do amor-ação, também chamado caridade, o qual não se contenta com o sentimento de compaixão, mas busca compartilhar o conhecimento do Reino de Deus, ensinando a palavra de Deus, curando doentes, ressuscitando mortos, expulsando demônios, tal qual Jesus encomendou aos seus primeiros discípulos.

Eis aí o resumo do ensinamento do Mestre da Galiléia: amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo: “Nestes dois mandamentos se resumem toda a Lei e todos os Profetas” (Mateus, 22:40).

Sim, o Reino de Deus está dentro de nós. Basta que nos livremos de nosso egoísmo e vaidade, as principais chagas da humanidade, conforme nos lembram os espíritos que orientaram a obra O Evangelho segundo o Espiritismo. Basta que deixemos espaço para que o amor que existe em nós, filhos do Altíssimo, se manifeste. Somente então, tudo o que pedirmos nos será dado, porque conforme nos diz Jesus: “Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis tudo o que quiserdes e vos será feito” (João, 15:7).

Tomemos, apenas, o cuidado de não cairmos na tentação do poder, como no caso de Simão, o mago que havia se convertido ao cristianismo, mas que sucumbiu ao desejo ao ver que os apóstolos transmitiam o “espírito santo” pela imposição de mãos e quis comprar esse poder. Duplo erro: o de achar que as coisas de Deus podem ser compradas e o de acreditar que vaidade e trabalho espiritual podem conviver. Ou se serve a Deus ou a Mamon. Simão preferiu servir a Mamon. Fez sua escolha e toda escolha tem sua conseqüência. Ao aceitarmos o mundo da materialidade, rejeitamos o mundo do espírito. Portanto, não confundamos a palavra do Mestre quando diz que tudo o que quisermos será feito. A busca não é pelo poder: poder-ter, poder-fazer. Mas sim pelo Reino de Deus, pois aí nossa vontade será alinhada com a vontade da espiritualidade superior. Nesse caso, querer significa querer com Cristo, em Cristo, por Cristo.

Transformemos-nos, portanto, em obreiros do Senhor, acolhendo em nossa alma o Reino de Deus. E não temamos nenhum mal ou obstáculos, pois mesmo quando a dificuldade nos assolar, lembraremos dos últimos momentos de Jesus encarnado, despedindo-se de seus discípulos, mas prometendo que sempre estaria presente se tivéssemos a fé necessária, de tal maneira que seríamos capazes de fazer o que ele fazia e muito mais. Mas não é só isso. Jesus prometeu ainda, que Deus nos enviaria o Espírito da Verdade que iria ensinar todas as coisas e recordar tudo o que fora dito por Jesus. Espíritas, rejubilai-vos, pois que nossa geração já foi agraciada com as revelações do Espírito da Verdade, as quais nada mais são que as revelações do espiritismo. O espiritismo veio esclarecer muitos dos ensinamentos do Mestre que até então eram pouco claros; confusos mesmo, sem a devida chave de interpretação. O espiritismo é a chave que tem o poder de fortalecer nossa fé na justiça divina e fazer de nós servos de Deus, amigos de Jesus, médiuns da espiritualidade superior. E assim, ao invés de dizer: “somos deuses e podemos fazer tudo o que Jesus fez e muito mais”, repetiremos as palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo: “...mas o Pai que permanece em mim, é que realiza as suas próprias obras” (João, 14:10).

sábado, 9 de novembro de 2013

Desobsessão rápida?!




autor Thiago D. Trindade



Entendemos o processo obsessivo como a incidência mental de um indivíduo, ou grupo, sobre um terceiro, podendo ser os envolvidos encarnados ou desencarnados.

Consideramos ainda a auto obsessão, quando a própria pessoa volta contra si mesmo sua força mental, prejudicando a si mesma. Nesse contexto, avaliamos ainda que a auto obsessão, quase sempre abre espaço para a aproximação de espíritos sofredores sobre o espírito auto obsediado.

O tratamento para todos os casos é a desobsessão, que é uma série de ensinamentos – e vivências práticas, o que é pouco considerado ultimamente – baseados na grande virtude do Perdão incondicional, um dos sinônimos do Amor Fraternal. No Capítulo V do Evangelho Segundo o Espiritismo, que trata sobre as aflições, percebemos a grande importância de se perdoar as ofensas.

A literatura Espírita é riquíssima de elucidações a respeito da desobsessão e de seus fatores correlatos. Há livros de André Luiz, Bezerra de Menezes, Manoel Philomeno, Joanna de Angelis, Emmanuel, dentre outros, que narram uma parcela das sagas evolutivas de pessoas, que se entrelaçam em teias de rancor e ódio. Sentimentos baixos que atravessam os séculos da Terra.

Há obras que versam diretamente sobre o tema, de André Luiz, pela mediunidade de Chico Xavier e Waldo Vieira, e, mais recentemente, de Suely Caldas Shubert, que “destrincham” essa nebulosa questão evolutiva para todos nós.

Em quase todos os casos, percebemos que o processo desobsessivo é lento e gradual. Uma parte depende do obsediado em aceitar o tratamento indicado, que é perdoar e instruir-se. A outra depende do obsessor(es), que se julgam, na maioria das vezes, vingadores de causam que jazem sob o pó dos anos terrestres, mantendo assim o ciclo de dor e sofrimento que se arrasta sem previsão de encerramento.

Não obstante, a Umbanda (assim como outras religiões) trabalha intensamente com a desobsessão. Investe na Educação Moral de seu adepto, e do grupo de Espíritos que lá chega em busca de alívio e esclarecimento.

Nos casos da desobsessão mais propriamente dita, onde o Espírito sofredor é confrontado com a Verdade do Bem, vemos a Umbanda atuando de forma diferente, se compararmos com a metodologia “Kardecista”. O obsessor é literalmente afastado do obsediado e encaminhado para estâncias onde receberá o cuidado necessário, enquanto ao obsediado ficará com a orientação para desenvolver-se moralmente.

“Vá e não peques mais”.


Muitos Espíritas “kardecistas” argumentam que a prática da Umbanda, nessa área, vai contra a Lei Divina, afetando o Livre Arbítrio de cada um e, não há moralização do obsessor, que pode voltar para sua prática descabida.

Consideremos que Espírito desorientados, dementados em vários graus, não possuem lucidez no uso de seu Livre Arbítrio, sendo escravos de si mesmos, ou seja, também auto obsediados.

A literatura Espírita “kardecista” é cheia de casos, onde não se “respeitou” o Livre Arbítrio do obsessor, ou ainda, há a utilização do engodo, ou farsa. No livro “Loucura e Obsessão”, de Manoel Philomeno e Divaldo Franco, que se passa em um Terreiro de Umbanda, vemos um grande número de obsessores sendo tratados por entidades de aparência indígena, que eram os guardiães da Casa. Alguns médiuns incorporavam os sofredores, aplicando o choque anímico sobre os desencarnados ou forçando-os a se exaurirem energéticamente. Sem cerimônia, os trabalhadores espirituais levavam os “nocauteados” para ambientes específicos, verdadeiros ambulatórios.

Percebemos a forma segura com que a Espiritualidade Superior conduz os sofredores dentro do preceito da Caridade ensinado pelo Cristo. Igualmente, encontramos o uso de mentiras para conduzirem desencarnados aturdidos por si mesmos, como podemos estudar em “Memórias da Mediunidade”, de Yvonne Pereira, quando ela narra o caso de Pedro, um desencarnado que involuntariamente um conhecido a saudosa médium.

Os livros supracitados vieram à Terra pelas mãos de respeitados médiuns e foram tutelados, não só por Manoel Philomeno (sendo que este Espírito até se reconheceu preconceituoso a tudo que não fosse caracterizado com Espiritismo, conforme o próprio considerou) e Charles, respectivamente, mas sim por Adolfo Bezerra de Menezes e Leon Denis, como verificamos nas apresentações das duas obras editadas pela Federação Espírita Brasileira.

Não podemos cair no corporativismo cego que hasteia bandeiras de preconceitos, atrasando a nós mesmos. As informações da Verdade vêm há dois mil anos e até hoje escolhemos o que queremos, deixando de lado o que nos é inconveniente.

Não devemos medir esforços em auxiliar nossos Amigos Espirituais, melhorando, em primeiro lugar, a nós mesmos, para assim realizarmos as verdadeiras obsessões que permeiam esse mundo, todas baseadas no orgulho.

sábado, 2 de novembro de 2013

Excelente ! áudio de Zélio de Moraes falando sobre o Advento do caboclo das 7 Encruzilhadas


A narrativa de Zélio de Moraes, por ocasião da implantação da Umbanda na Terra, dentro do Centro Espírita Santo Agostinho, em Niterói, através da manifestação de um espírito das hostes de Santo Agostinho - o índio que acabou impedido de falar devido a sua aparência perispiritual pretensamente selvagem.


eis:

http://www.youtube.com/watch?v=YsOPVIjrsqw

A tempestade



autor Thiago D. Trindade

“Não acumuleis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem os corroem e os ladrões arrombam os muros, a fim de os roubar. Acumulai tesouros no Céu, onde a traça e a ferrugem não corroem e onde os ladrões não arrombam nem furtam.” Mateus 6:19-20





Perdera tudo. Seus bens, outrora inúmeros, tinham se ido em meio aos excessos da carne. Sua família, que antes não fora prioridade, também se fora, arrancada da vida pelo terrível acidente que poupara o homem arruinado. Apagado, o homem observava com olhos semi-mortos as revoltosas ondas que se arrebentavam no cais de madeira onde se encontrava. O céu de chumbo era um reflexo da alma torturada daquele homem comum, sem nome.

Em sua desgraça, não percebia que estava encharcado até os ossos e suas vestes, de fina confecção, estavam esfarrapadas. Os cabelos grisalhos que resistiram aos anos e ao tormento de sua existência, escoiceavam ante a fúria dos ventos em tempestade que vinha pelo mar.
- Que o mar me trague. Desabafou o homem vencido, cheio de desprezo e desafio.
- Por que, tio? Indagou uma voz infantil.

Ao se virar, o atormentado se deparou com um menino moreno e de grandes olhos negros, que sorria. O garoto se colocou ao lado do homem e logo ficou tão encharcado quanto o sofredor.
- Saia daqui, moleque! Ralhou o homem – é perigoso ficar aqui!
- Então porque nós dois não saímos? Retorquiu o menino, ainda sorrindo.
- Fedelho abusado! – gritou o sujeito, erguendo seu punho em tom de ameaça – fora!
- Tio – continuou a criança, no alto dos seus sete anos – porque está chorando?
- Eu não choro! – respondeu o homem – é a água do mar!
- A lágrima é tão salgada quanto o mar – interrompeu o menino, com ar matreiro – vai ver, é por isso que não percebeu estar chorando.

Com um grunhido, o homem tentou afastar o menino, mas este permaneceu onde estava. Trovões ribombavam. As ondas assumiram ainda mais estatura e a estrutura de madeira do cais gritava em convulsão. Os olhos cansados do homem torturado por si mesmo voltaram-se para o garoto. Como ele chegara ali? Como ele, sendo tão criança, não temia aquele lugar?
- Menino – disse o atormentado – este lugar vai cair no mar. Sua mãe está te esperando. Imagine você que ela deve estar preocupada contigo.
- Verdade – respondeu o garoto, solene – mamãe e papai, com certeza estão preocupados. Eles ficam tristes quando sofremos.
- Pois então – o homem percebeu que estava convencendo a criança – é melhor ir embora e acabar com a preocupação deles.
- Só vou, se o tio for comigo – retrucou calmamente o menino – as lágrimas do seu coração não são maiores do que a dos outros. O tio culpa o mundo. Culpa o Papai do Céu pelas suas perdas. Mas a culpa não é do Papai do Céu!
- A culpa é minha então?! Gritou o homem, e nesse momento uma onda quase o derrubou no chão de madeira – eu nunca roubei ou matei! Trabalhei honestamente! Perdi meu dinheiro e perdi minha família!
- Tio – disse o garoto, sério – acho que você está enganado. A prova disso é justamente o fato de ter usado o que não era só seu. Sempre trabalhou honestamente? Procurou sempre o alto lucro e o acúmulo, isso bem fez. Depois gastou a fortuna no jogo e nos braços de outras mulheres. Sua família, que sofria com sua ausência e tirania velada, estava sempre sendo espoliada. Roubada. Não roubou dinheiro, mas um bem mais valioso, não é? Quando seu trabalho foi devorado pela luxúria, tio, sua família esteve ao seu lado. Sua companheira, que sabia de tudo que você fazia, orava para sua luz antes dela mesma.

Relâmpagos rasgavam o céu. Os dedos de eletricidade, vindos do alto, se voltavam para o homem e o menino, perdidos naquele canto esquecido do mundo. Perplexo, o homem encarou o garoto. Sua face marcada e sofrida estava ardendo de dentro para fora. Suas mãos se agarraram ao parapeito de madeira, que sacolejava convulsivamente.
- O que é você?! Exclamou o sofredor, pois uma criança não falava daquele jeito, nem ninguém, ou quase ninguém, sabia de suas ações na vida privada.
- Tio, se lembra de quando conheceu a tia? Sorriu o menino.

Imediatamente, o homem se viu jovem, com vasta e escura cabeleira. Era verão e ele, a pedido de uma senhora, pegava um sapoti para a netinha dela. Foi quando passou Heloísa, de vestido azul claro, cheio de flores, caminhando pela calçada. O cabelo dela, escuro e liso, ia preso por um arco. O perfume da moça fez o peito do então jovem encher-se de um sentimento que não era lembrado por longo tempo.
- Tio – prosseguiu a criança – se lembra do nascimento dos seus filhos?

O homem, novamente envelhecido, não estava quando cada um dos seus três filhos chegou ao mundo. Estava sempre no trabalho, imerso em contas e recebimentos. Mas lembrou-se da emoção de segurar os pequenos pela primeira vez, sob os olhares da esposa. Com rapidez, o torturado os viu brincado ao longe, e percebeu que nunca dera um sorriso para eles. Jamais conversara com os filhos. Aquela verdade o feriu mais do que qualquer outro golpe.
- Eles foram seu maior tesouro, tio – disse o garoto – o mais valioso dos bens do mundo. E só quando o senhor os perdeu, viu que tinha, de fato, ficado pobre.
- Se nada tenho, por que viver? Indagou o homem.
- Você tem que viver para ficar rico de novo, oras! Respondeu calmamente o pequeno menino, com simplicidade.
- Riqueza nenhuma irá trazer minha família! Nenhuma! – exclamou o homem – nenhum abraço de cabaré irá me confortar!
- Sua família, certamente, não vai voltar nestes tempos – retrucou o garoto, com franqueza típica das crianças – mas e a outra parte de sua família que permanece na Terra, que é muito grande? Tio, você tem muito trabalho!
- Que família? Devolveu o homem, irritado.

O cais, de repente, corcoveou como um cavalo de rodeio, sob as esporas inclementes do peão de boiadeiro. A tempestade tornara-se tão forte que o infeliz homem caíra de joelhos diante do menino, que permanecia sereno ante a ira da Natureza. A qualquer momento a estrutura de madeira seria destruída.
- Tio, até você se encontrar com sua família – disse o menino – cuide de cada criança, cada senhora desvalida. Estenda suas mãos fortes para cada necessitado. – o garoto então contemplou a tempestade que açoitava aquele canto do mundo – não pode recuperar o tempo que perdeu. Mas pode usar o que lhe resta nesse trabalho. Cada criança com quem brincar, cada sorriso que der a elas, será para seus filhos que estará sorrindo! Cada senhora consolada por você, será o mesmo que consolar sua esposa.
- O que irão pensar de mim?! Exclamou o homem, balançando a cabeça diante daquela idéia estúpida de consolar quem não conhecia.
- Que importa? – respondeu o menino, rindo – além disso, esse seu novo trabalho irá servir para outros, que como você há pouco, não sabem reconhecer a verdadeira riqueza que possuem!

O homem calara diante do menino. Por um momento esquecera de sua família e até da tempestade. Nesse momento um trovão ribombou e o cais de madeira começou a ruir, diante da violência das águas. A criança, finalmente com medo, tropeçou e caiu na direção das águas revoltas. No instante em que o garoto seria tragado pelas ondas, o homem o agarrou pelos braços.
- Você não vai cair! Chega de perdas! Gritou o homem.

Saltando pelas tábuas que se soltavam, o homem escapou do cais, levando consigo o pequeno nos braços. Quando, por fim, alcançaram a terra firme, o cais foi tragado pelas ondas e o vento forte derrubou o homem. Usando seu corpo como escudo, o homem protegeu o garoto dos ventos e das águas, que tinham alcançado a faixa da praia, e o açoitou violentamente por longo tempo. As ondas salgadas batiam no corpo daquele homem, que desafiara a tempestade. Uma delas chegou a acertar em cheio os dois, mas eles não foram tragados, nem esmagados e permaneceram onde estavam, enquanto toda a praia desaparecia.

Porém, após a demonstração de força, a tempestade amainou. Raios de sol cortaram as nuvens. As ondas baixaram sua estatura e ficaram menos encrespadas. O cais desaparecera por completo. A alvorada do novo dia chegava luminosa e purificada. Com lágrimas nos olhos, o homem testemunhou o nascer do sol de mãos dadas com o menino.
- Veja tio! – exclamou a criança – o sol nasce! Todos os dias, Papai do Céu nos dá a lição do renascimento! Seja o sol tio! Ilumine a todos com sua luz!

Renascido, o homem se levantou e ergueu o menino nos braços. Sorrindo, os dois tomaram a estrada que se erguia diante deles. Para um novo começo.















Tem sua verdadeira recompensa aqueles que deixam suas casas para a uma habitação miserável levar consolação, que sujam suas mãos cuidando de chagas alheias, que se privam do sono para velar à cabeceira de um doente, que utilizam sua saúde praticando boas ações. As alegrias do mundo não ressecaram esses corações e não deixaram que eles adormecessem em meio aos prazeres ilusórios da riqueza. Esses são os verdadeiros anjos dos pobres abandonados.


Fragmento retirado do Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo V, Provas voluntárias – o verdadeiro sacrifício. Um Anjo Guardião. Paris, 1863. Item 26.



esse e outros contos podem ser lidos na obra Contos de Redenção, e, todo o capital obtido é revertido integralmente para o Asilo de Idosas Seara de Luz, do CEPCC (Paracambi-RJ), que ainda mantém dezenas de atividades sociais para a população carente.


A listagem de contos:

A tempestade......................................................................06

O tronco............................................................................13

O mendigo..........................................................................20

Araçari................................................................................25

A encruzilhada...................................................................33

A honra.............................................................................46

O jardim............................................................................51

O seguidor..........................................................................61

O defunto................................................................... ......65

O Jesuíta e o Pajé................................................. ............74

O preço.............................................................................81

À luz do luar......................................................................86

O perdido...........................................................................91

Perdas e ganhos.................................................................98

O orador...........................................................................103

O lavrador........................................................................110

Sebastião..........................................................................124




À luz do luar

À luz do luar


autor Thiago D. Trindade


“Jesus, porém, conhecendo-lhes os pensamentos disse: por que cogitais o mal em vossos corações?” Mateus, 9: 4





Queria se matar. Sem a amada não valia à pena viver. A dor que sentia era devastadora, mas acima de tudo não entendia do porque ter sido traído e abandonado. Dera tudo a Elisa: carinho, dedicação e bens. Dera, sinceramente, seu coração.

Agora, seu coração estava despedaçado e não havia mais sentido em viver. Desgrenhado, emagrecido e sujo, Osvaldo se via diante do frasco de veneno. Trêmulo, segurava o copo mortal e lágrimas ardiam em seus olhos cansados. A dor era muito grande.

Um último lance. Decidiu abrir a janela, pois o quarto estava muito abafado. A luz da lua chamou sua atenção. Prateada e cálida, a lua cheia se refletiu nos olhos avermelhados do homem.
- Maldita seja – rosnou Osvaldo – dizem que você inspira os amantes, que seja agora testemunha de minha morte!
- A lua não tem ouvidos, amigo. Disse uma voz vigorosa.

Debruçado no muro baixo da casa de Osvaldo, um homem de paletó claro fitava o dono da casa com um meio sorriso. Nas mãos dele estava um chapéu elegante. Osvaldo murmurou um palavrão e esboçou regressar para dentro de seu santuário mortal.
- Por que você quer se matar e deixar as coisas boas da vida? Indagou o sujeito na calçada.
- Vá te catar! Gritou Osvaldo, com a voz esganiçada.
- Vou sim, meu caro – retrucou o outro – cada pedacinho meu é inestimável! O baratinho aqui é você.
- Você nunca sofreu por amor! – volveu Osvaldo – não sabe como é perder o amor verdadeiro!
- Já sofri muito por amor – atalhou o homem com um suspiro – o amor é muito mal interpretado meu chapa...
- Meu amor é puro! – exclamou o potencial suicida – sem Elisa não vale nada!
- Então o nome do problema é Elisa? – disse o homem fitando seu chapéu – ouça, amigo, o que você tem por essa moça é posse e não amor. Posse é egoísmo. Se você a amasse de verdade, gostaria de vê-la feliz. Vê-la crescer. Alem disso, outra coisinha...
- Acha que devo dividir Elisa com outros?! – explodiu Osvaldo – você não está falando sério! Idiota!
- Não distorça o que falo, rapaz – ponderou o outro – não ouviu direito o que eu disse? Vou tentar te explicar por outra abordagem... Você diz que ama Elisa. Que somente você pode amá-la verdadeiramente. Pois bem, quem ama cuida, meu chapa. Todos nós devemos nos amar, cuidar uns dos outros. Para poder amar um terceiro, por exemplo, a adorável Elisa, é preciso que você se ame em primeiro lugar.

O homem então riu e seus olhos se voltaram para a lua silenciosa. Osvaldo fitou o copo de veneno.
- Para você amar Elisa, de verdade, é preciso que se ame primeiro – repetiu o estranho – por que tu vais te portar como um fraco e fugir para o crime hediondo que pretende?! Ouça, mano, a vida é bela! Faça um favor para si e para Elisa... Cresça! Pegue esse seu orgulho e o quebre! Tem tanta coisa boa por aí...
- Não agüento a solidão...Hesitou Osvaldo.
- Não existe ninguém sozinho, nem mesmo aqueles que se esforçam muito para assim o serem – disse o outro em tom professoral – sempre há companhia compatível com o que se trás dentro de si.
- Tudo aqui lembra Elisa! Teimou Osvaldo.
- Guarde o que for bom e despache o resto – continuou o estranho – se necessário for, livre-se de tudo. Não existe fim, parceiro, mas sim possibilidades infinitas!

Osvaldo olhou o copo de veneno. Sentiu-se mais forte. Percebera que não vivera com Elisa desde sempre. Conhecera alegrias antes dela.
- Jogue esse negócio fora! Insistiu o homem quase pulando o muro.
- O que será de mim? Indagou Osvaldo, numa súbita fraqueza.
- Você será o que fizer de si. Disparou o outro.

Osvaldo jogou o veneno no chão e o som do copo se espatifando soou estridente noite á fora. O ex-quase-suicida parecia remoçado.
- Vamos agitar um pouco? Convidou o estranho, com um olhar matreiro.
- Não sei... Murmurou Osvaldo.
- Ponha uma roupa bacana – sentenciou o outro – espero aqui.

Osvaldo entrou e pôs uma roupa elegante. Sentia-se deslocado, mas algo dentro dele o ajudava. Saiu da casa. Encontrou com o homem estranho encostado num poste do outro lado da rua. Seu chapéu panamá branco estava em sua cabeça e os olhos do enigmático amigo se encontraram com os de Osvaldo.
- Para onde vamos? Indagou o homem que começava a se recuperar da dor.
- Confia em mim? Desafiou o outro.
- Confio! Exclamou Osvaldo com uma sinceridade que até o assustou.

Ambos riram e fitaram a lua. Um vento fresco tocou o rosto dos dois homens.
- À propósito, meu nome é Osvaldo.
- Me chame de Zé.

Os dois amigos apertaram as mãos enérgicamente e saíram para um novo começo e Osvaldo se reencontrou, aprendendo a amar verdadeiramente.










No tempo de Jesus, em razão das idéias restritas e materialistas da época, tudo era limitado e regionalizado. A Casa de Israel era um pequeno povo, os gentios eram também pequenos povos que moravam ao redor. Hoje, as idéias se universalizam e se espiritualizam. Os ensinamentos espirituais já não são privilégio de nenhuma nação e para eles não existem mais barreiras, pois estão presentes em toda parte. As verdades espíritas triunfarão pouco a pouco, assim como o cristianismo triunfou sobre o paganismo. Não é com armas de guerra que se combatem aqueles que não compreendem a verdade, mas com a força das idéias.


Fragmento retirado do Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo XXIV, Não procurem os gentios. Item 10.





esse e outros contos podem ser lidos na obra Contos de Redenção, e, todo o capital obtido é revertido integralmente para o Asilo de Idosas Seara de Luz, do Centro Espírita Pai Congo de Cambinda (paracambi-RJ), que ainda mantém dezenas de atividades sociais para a população carente.



a listagem dos contos

A listagem de contos:

A tempestade......................................................................06

O tronco............................................................................13

O mendigo..........................................................................20

Araçari................................................................................25

A encruzilhada...................................................................33

A honra.............................................................................46

O jardim............................................................................51

O seguidor..........................................................................61

O defunto................................................................... ......65

O Jesuíta e o Pajé................................................. ............74

O preço.............................................................................81

À luz do luar......................................................................86

O perdido...........................................................................91

Perdas e ganhos.................................................................98

O orador...........................................................................103

O lavrador........................................................................110

Sebastião..........................................................................124

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Evangélico

Autor Thiago D. Trindade

É curioso perceber, nos dias de hoje, que nos referirmos a determinados irmãos em Deus, de outro credo, chamando-os de evangélicos.

Os próprios, aliás, assim o fazem há poucos anos, certamente para se auto afirmarem, ainda que verbalmente, como seguidores do Cristo.

No entanto, em meio das ondas da vida terrena, se faz necessário algumas ponderações a respeito de como se identificar o seguidor do Nazareno. Igualmente, cabe ressaltar, que o Mestre Galileu não fundou religião alguma e isso é coisa nossa, ou seja, nós, os imperfeitos, que criamos todas as religiões sobre a Terra.

Vejamos, sucintamente, o que vislumbra cada uma das grandes – e profundamente Humanas – religiões que encontramos em nosso país.

Igreja Católica Apostólica Romana: A maior das Igrejas e uma das mais antigas (há ainda a Anglicana, Russa, Grega, Copta, etc.). Administrou politica e economicamente nações. Sua base é a Eucaristia e dela se obtém a salvação. Enfatiza o Velho e o Novo Testamento. Base Moral.

Protestantismo: Movimento iniciado por Martinho Lutero, que rompeu com a dominante ICAR, através do lançamento de 95 teses de discordância dos dogmas católicos. Sua base é a crença de que a aceitação de Jesus como Salvador é a chave para o Reino dos Céus. Enfatiza o Velho e o Novo Testamento. Base Moral.

Espiritismo “Kardecista”: Doutrina trazida à Terra pela Espiritualidade Superior e organizada por Allan Kardec, no século 19. Trata de Filosofia, Ciência e Religião, sendo pautada fortemente no Novo Testamento. Sua base é a crença de que fora da Caridade não há Salvação, e que o adepto deve se esforçar para vencer suas más tendências e não simplesmente contar com o Cristo para Salvá-lo. Base Moral.

Umbanda: Religião que surgiu no Brasil, no início do século 20. Sua base é a manifestação do Espírito para a Caridade, sendo pautada fortemente no Novo Testamento e na Doutrina Espírita, priorizando alegorizas simplórias, mas de profundo senso moral, com integração da Natureza. Base Moral.

O que apresentamos acima é um pequeníssimo resumo, mas suficientemente claro, que nos impele à reflexão de que tipo de religiosos somos. O quão Cristãos somos, já que reconhecemos Jesus de Nazaré como Modelo e Guia.

E também por procurarmos ser Cristãos, devemos seguir Seu Evangelho, não no sentido de decorarmos os versículos bíblicos, mas estudando e praticando Seus Ensinamentos.

Eis algumas das considerações do Homem de Nazaré: Caridade – Dividir o que se tem (Lucas, 18:24 e 25; 21:2 e 3), Não julgar (João, 8:7-11; Tiago, 5:11 e 12), Perdoar incontáveis vezes e sem impor condições (Lucas, 17: 3 e 4), fazer-se o menor dentre os Servos para o nosso próximo (Marcos, 9: 35; Lucas: 9:48; 22: 26; João, 13: 12-17).

Jesus, adaptou os Dez Mandamentos, da seguinte forma, como percebemos logo acima. O Nazareno nos orienta a Amar a Deus e ao Próximo!

Em Marcos (9:41) encontramos a exortação do Cristo:

“Porquanto, aquele que vos der de beber um copo de água, em meu Nome, por que sois de Cristo, em verdade vos digo que de modo algum perderá seu galardão.”

É estéril debater com outro sobre qual religião é a melhor, se ela não faz seu adepto crescer na direção do Cristo. Uma religião “cristã” que prega a intolerância, o acúmulo de bens materiais não é algo que tenha por base Jesus Cristo, por que ele não nos ensinou isso. E é um total desconhecimento das Escrituras aludir ao Velho Testamento, que cita violências – massacres – contra os diferentes do “povo eleito”: julgamento (Êxodo, 18: 16), escravidão (Êxodo, 21:1-11; Números: 31:18), vingança (Números, 31:1-12, Jeremias 36: 3 e 7; 37:31), assassinato de crianças ( Números, 31: 17), promoção de ódio contra outro povo ( Números, 34: 52).

Deus, afinal, é “homem de guerra” (Êxodo, 15:3) ou Deus é Amor, conformo nos Ensinou e demonstrou Jesus?

Pensemos!

Jesus, em verdade, Tomou para si a responsabilidade do Velho Testamento e o revogou, outorgando-nos a Lei do Amor.

“Quando ele diz Nova torna antiquada a Primeira. Ora, aquilo que se torna antiquado e envelhecido, está prestes a desaparecer.”
(Hebreus, 8:13)

Chega de atirar pedras, escravizar, saquear, tomar, julgar!

Devemos, pois, em urgência evangelizar a nós mesmos, ou seja, nos desenvolvermos moralmente. Essa sim é a Quarta Revelação, uma vez que não significa que haverá somente o Protestantismo, a Igreja Católica, o Espiritismo ou a Umbanda, nem qualquer outra religião. Não haverá exclusividade para algo criado por seres imperfeitos. Haverá, sim, os Ensinos do Cristo, independente da designação religiosa.

“E nisto serão reconhecidos, por se amarem” “ que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros.”
(João, 13: 34 e 35)