terça-feira, 27 de junho de 2017

Simão e Pedro



Autor Thiago D. Trindade





Simão estava com seus pés limpos. Seus dedos nodosos e inquebráveis estavam fixos ao chão poeirento. Certamente angustiado, o pescador de Cafarnaum se vira sem seu doce Mestre, que só após ressurgir do túmulo, permaneceu com ele e os demais pupilos por mais alguns dias, conforme asseverou Mateus, em seu Evangelho. Cabia então ao áspero hebreu fazer-se, de fato, seguidor do Cristo e levar seus ensinamentos adiante.
Certamente Pedro devia se perguntar do por que fora escolhido por Jesus para levar a Boa Nova ao mundo, e mais, com posição de liderança. Logo ele, que fora um aprendiz teimoso, tendo fracassado em inúmeras provas, como por exemplo, o episódio em que afundou no mar da Galiléia, diante de Jesus. Falhara em curar enfermos, se entregara a violência e ao ciúme. E ainda mentiu três vezes, negando ao Cristo.
Nem por isso, mesmo tendo falhado tanto, Pedro abandonou a Seara do Cristo. Discordando de Tiago e Paulo, e talvez até mesmo de si mesmo, debatendo com seus conflitos internos, onde ainda havia o Homem Velho, ou Simão o Pescador de Cafarnaum, o apóstolo de Jesus fez o que pôde, levando a Boa Nova dentro de si e a espalhando pelo mundo.
Simão Pedro não era perfeito. Jesus não exigia que Pedro fosse perfeito. O Nazareno estimulava Pedro a se esforçar a vencer suas imperfeições para um dia ser perfeito. E Pedro compreendia isso, trabalhando incessantemente.
Jesus nos incentiva a refletirmos sobre excelsa relação com Simão Pedro. Somos rústicos, ciumentos, vingativos, mentirosos por conta de nossa moral deficiente. Quantas vezes renegamos o Cristo? Quantas vezes O traímos, apontando dedos inquisidores? Quantas vezes desembainhamos espadas de ódio? Quantas vezes afundamos no mar da descrença? Quantas vezes nos enterramos no lodaçal da ingratidão?
Nos prendemos a debates estéreis, cheios de retóricas, onde não procuramos aprender, mas sim empurrar nossa visão pessoal, muitas vezes deturpadas e egocêntricas.
Somos, portanto, Simão, o Pescador Material. Porém, com Jesus, podemos – e devemos – ser como Pedro, o Pescador de Almas, ajudando aos outros em nome do Cristo e, com isso, ajudando a nós mesmos.
Pedro sabia que Jesus estava sempre com ele onde quer que fosse, e, no seu derradeiro momento encarnado, diante dos implacáveis romanos, o Pescador de Almas não temeu. A coragem dos honestos e a serenidade dos justos acalentavam seu coração repleto de compaixão.
É possível, com um pouco de poesia, imaginar o reencontro, no Plano Espiritual, entre Jesus e Pedro. Jesus, em meio ao Mar da Genezaré, fitando o amado amigo de braços abertos. Pedro, por sua vez, seguia, com passos firmes e sorriso de triunfo no rosto, inebriado pelo calor do reencontro sobre as águas. Mestre e pupilo se abraçam sobre o mar sagrado e tudo é luz.

Pedro venceu como nós iremos vencer, se seguirmos Jesus.




quinta-feira, 15 de junho de 2017

Acreditar

Autor Thiago D. Trindade



A lição aprendida por Tomé é uma grande realidade para nós, que não convivemos com a presença material de Jesus, mas acreditamos em sua existência e ensinos.

Jesus não é invisível, pelo contrário.

Nós, porém, O deixamos invisível por conveniência.

Mas... pensemos...

Quantas vezes desafiamos o Cristo, senão o próprio Deus, quando queremos algo difícil de conseguir?

“Se Deus existe, eu terei o que quero!”

“Jesus, se você está aqui, me ajude!”

Essas duas afirmativas, muitas vezes ditas mundo a fora, realça o argumento de que todos somos “Tomés”, já que condicionamos nossa crença a uma prova de cunho comercial. Aliás, esse é o tipo de coisa – o toma lá dá cá – que leva muitas pessoas a abraçar as trevas.

Intimamos o Excelso Mestre e o próprio Criador a nos servir de forma ignóbil, egoísta.

Desafiamos para aplacar nosso orgulho, como Tomé fez.

Como temos de evoluir!

Se caímos, creditamos nossa fugaz e dolorosa derrota ao desleixo de Deus e de seu Filho Mais Velho.

Ainda bem que Deus e Jesus são substanciados por Amor, caso contrário...

Jesus veio à Terra para ensinar o Amor Verdadeiro. Como citei antes, um trabalho de Paciência, Humildade, Perseverança e Fé.

Todos nós, praticamente, em algum momento de nossas vidas, fomos (ou somos) tal como Tomé. Pela simples razão de sermos céticos a quase tudo que se relaciona a Fé.

Tomé seguiu Jesus por três anos, comendo com Ele, rindo com Ele, aprendendo com Ele.

No entanto, as evidências apontam da incredulidade do homem que vira o Mestre multiplicar pães, acalmar tempestades, curar leprosos, despertar Lázaro e a filha de Jairo do “sono mortal”.

Sendo ligeiramente irônico, podemos afirmar que Tomé só gostava de acompanhar Jesus pelo agito que Ele causava. Digo isso, pois se nem o episódio do Gólgota, o agente transformador para os discípulos, funcionou para aquele que era chamado de Dídimo.

Tomé não acreditou nem mesmo quando seus companheiros, que antes ouviram de Maria de Magdala – a primeira a rever o Mestre – que o Cristo retornara diante de seus olhos angustiados (João, 21: 19-22).

Desafiador, o discípulo bradou que só acreditaria se tocasse nas feridas de Jesus (João, 21:25).

Dias depois (João, 21:26) Jesus surgiu diante de Tomé e o advertiu duramente, conforme registrou João (21: 27 e 29), e o cético põe seus dedos nas feridas do Cristo de Deus.

Com a lição dada, cabe a nós fazer valer a Lei através do empenho – e êxito – em vencermos a nossas más inclinações.

E se nós, por preguiça, permanecemos parados?

Com amor, recebemos umas broncas, como todo pai e mãe zelosos fazem com seus rebentos teimosos.

“Bem aventurados os que não viram e creram”

Com essa simples frase, observada no livro do Evangelista João, o Mestre lembrou a Tomé quem Ele era. O que era apresentar feridas no corpo, para o vil toque curioso, se comparado a tudo que o próprio Dídimo participara como coprotagonista ao lado do Cristo?

Pois é.

Nos apegamos a mesquinharias e nos recusamos a avaliar nossa própria história e encontrar nela a Bondade Divina.

Temos o Consolador Prometido nas mãos. É preciso sentir o Consolador em nossos corações.

Acreditar de verdade.

Acreditando de verdade nos Ensinos do Mestre, será irrefreável a vontade de trabalharmos na causa do Cristo.

Acreditar é doar-se ao próximo com gestos e sentimentos, seja para quem for, e de preferência para aqueles que são tão ou mais enfermos do que nós.

Acreditar de verdade é permitir que a Luz do Cristo brilhe dentro de nós.





terça-feira, 6 de junho de 2017

Canal Reflexões e Caminho - A Caridade e suas formas


Eis-me aqui!

Thiago D. Trindade

Muitos se preocupam em conhecer o que há no mundo espiritual, mas não se preocupam em conhecer a Moral do Cristo. Recorrem a livros, ou outras fontes, que narram detalhadamente o que há nas regiões de sofrimento e as ações das entidades que lá habitam. No entanto, rejeitam com enfado os dizeres simples de Jesus, que nos manda: não julgar, servir a todos sem distinção, perdoar incontáveis vezes...

Muitos tem posto o Evangelho de lado por achar que é insosso!

Essas fundamentais informações não são insossas para aqueles que tem boa vontade, empenho e fé em seus corações, que baseadas pela Razão, formam um grande farol, que ilumina não só a Terra-matéria, mas desde os abismos mais profundos de sofrimento até os planos mais elevados, mostrando a Jesus que mais um Filho de Deus está mais perto da Verdadeira Felicidade.

“Eis-me aqui!” bradou Ananias (Atos, 9:10) quando foi convocado por Jesus. Ananias, sabendo-se perseguido pelo mais perigoso dos caçadores de cristãos de seu tempo, não titubeou nem um pouco ante o chamado do Mestre. O heroico cristão não se desviou de sua missão, mesmo sabendo que não seria fácil.

Afinal, já não era tão jovem ou forte. Não era, Ananias, culto e nem contava com prestigiada rede de contatos ou recursos financeiros.

Ananias contava, porém, com boa vontade e uma fé inabalável. Por isso ele triunfou. O homem de Damasco triunfou sobre si mesmo em buscar a Moral do Cristo.

Diariamente, em várias ocasiões, Jesus nos convoca ao serviço. Aflitos de ambos os planos da Vida tropeçam em nosso caminho. E mais! Lembremos que também somos aflitos em busca de cura para nossas almas doloridas moralmente e, em alguns casos, materialmente. O que fazemos costumeiramente? “não o conheço, esse ou aquele”, ou ainda: “não gosto desse, não vou ajudar”. E viramos as costas.

Já pensamos se Ananias viesse a rejeitar o Serviço que o Cristo determinava a ele, que era socorrer o sanguinário Saulo de Tarso? Sem dúvida Saulo seria auxiliado por outra pessoa, esta verdadeira seguidora do Mestre Galileu. E a Ananias pesaria mais um débito bem pesado: a dívida chamada omissão.

A omissão acontece quanto temos certa informação e optamos por não usá-la. E justamente por conhecermos os Mandamentos de Jesus, que é Amar a Deus e ao próximo, não devemos ousar pô-los de lado e fingir que está tudo bem.

Quando afirmamos, lá atrás, que também somos aflitos, é porque nossa aflição só será diminuída mediante à consolação de outros aflitos. Isso quer dizer que mesmo que a salvação seja individual, ela depende dos elos de luz que forjamos servindo ao próximo. Ananias sabia disso e não temeu, pois quando se pôs ao serviço, fazendo sua parte, nada lhe faltou: a força física e a força espiritual.

Embora o terrível Saulo estivesse abaladíssimo com o surgimento do Cristo a ele (Atos, 9:4), certamente fora fundamental para que abraçasse Jesus, o carinho ofertado por Ananias, sua presa. Afinal, Saulo poderia ter acreditado que Cristo governava pela imposição, e, graças ao exemplo do perseguido de Damasco em atender fraternalmente seu perseguidor, o homem de Tarso despiu-se do Homem Velho.

Dessa forma, entendemos que Ananias fora fundamental para Saulo entender que o Amor Fraternal não distinguia rostos, nem mesmo de pessoas cruéis como ele próprio tinha sido.

Compreendemos ainda que Saulo havia sido fundamental para Ananias, pois o homem de Damasco não fugira de sua grande prova de elevação moral, quando o Cristo pôs nas suas calejadas mãos o maior dos perseguidores de sua época, demonstrando a ele a Caridade material, ao curar suas feridas físicas, e a Caridade Moral, não julgando as más ações de Saulo.

É tempo de nós arregaçarmos as mangas e abraçar o Serviço.

Quem de nós aqui, ao ouvir a convocação de Jesus pode dizer:


Eis-me aqui!