segunda-feira, 31 de julho de 2017

Samaritano


Autor Thiago D. Trindade



Certo dia, um homem sem rosto, sem nome, sem sabermos se era pobre ou rico, judeu ou gentio, saiu de Jerusalém para Jericó. O tal homem acabou assaltado e, por alguma razão, foi gravemente ferido. Não sabemos se o viajante tentou reagir, ou se ele reconheceu alguns dos assaltantes.
Deixado para morrer, o viajante sem nome ficou estirado ao chão poeirento do canto mais pobre do Império Romano.
Veio então um sacerdote, um membro da elite judaica, um pilar da sociedade, pois cabia a essa classe de cidadãos a guarda das tradições, da religiosidade. Para o povo, os sacerdotes eram os representantes de Deus! E o tal nobre passou pelo homem ferido e seguiu seu caminho.
Mais tarde, um levita chegou pela estrada. Os levitas também tinham sua vida em volta do templo. Os levitas eram os auxiliares dos sacerdotes, servindo como guardas, padeiros, pintores, cuidadores dos animais, etc. Esses cidadãos tinham o mesmo compromisso que os sacerdotes em zelar pela manutenção das tradições, e dentro dessa premissa, estava a religião. E o levita passou pelo homem ferido e continuou seu caminho.
Depois, veio um homem. Não se sabe se veio de Jericó ou Jerusalém. Ele apenas surgiu. Mas sabe-se que veio da Samaria, uma região mal vista pelos hebreus desde a morte do Rei Salomão. Inclusive, os povos da Judéia, Peréia e Galiléia, afirmavam que os samaritanos não eram parentes, alegando que esse povo deturpara as tradições em algum momento da história local. Esse homem discriminado, sem rosto, sem condição social definida, viu o viajante caído e foi até ele. O homem caído foi resgatado por outro, marginalizado por muitos.
O samaritano limpou as feridas com óleo e vinho, que aliás eram os medicamentos antissepticos usados à época, e um bem muito valioso para os oprimidos pelos romanos. Corajosamente, o filho de Samaria levou o desconhecido a uma estalagem e pagou para que cuidassem do homem que jamais vira em sua vida.
Que lição poderosa essa!
Essa lição, ou parábola, está no livro de Lucas (10: 25 até 37). Jesus proferiu essa parábola a um doutor da lei, que indagou ao Nazareno como ele deveria proceder para alcançar a vida eterna, ou seja, o Reino de Deus.
Mas será que esta parábola se adéqua ainda aos dias de hoje?
Que papel desempenhamos? O sacerdote? O levita? O samaritano, talvez? Ou a do estropiado?
Bem, conhecemos a Lei do Amor, que nos manda amar a Deus, amar o próximo. Sabemos que o perdão é a chave para a evolução, pois perdoar é o mais gesto de amor. Os sacerdotes eram os responsáveis por zelar pelos Ensinamentos de Deus. Nós somos como os sacerdotes. E fazemos como os sacerdotes da parábola quando nos levamos pelo rancor, inveja, ciúme, vingança, deixando ao relento algum irmão tão ou mais carente do que nós.
Temos um templo externo para manter, como os levitas. O maior templo é o lar e o segundo é a Casa Religiosa. O lar, santuário doméstico, muitas vezes é conspurcado pela intolerância e tirania, enquanto ao templo religioso é espaço para frieza, soberba e discriminação contra aqueles que pensam diferente do outro. E abandonamos à própria sorte nossos familiares, nossa grande obrigação, e aos confrades jogados à triste cisão.
Podemos também agir como o samaritano. Ajudar o caído com ações e palavras. Podemos limpar as chagas abertas com o óleo da misericórdia e lavar as feridas com o vinho do amor fraternal. Discretamente podemos acalentar um espírito em sofrimento.
Mas e quanto ao estropiado? Esquecemos dele? Somos, certamente, estropiados morais. Somos tomados por viciações variadas, tais como o rancor, a inveja, o ciúme e por aí vai. E ficamos estirados ao chão poeirento e duro da existência que impomos a nós mesmos, se recusando a levantar em nosso benefício.
Somos, em verdade, esses quatro personagens da parábola dita por Jesus. Temos que vencer o sacerdote e o levita em nós. Temos que robustecer o samaritano com a fé e a caridade que irão nos impulsionar para o Alto. Temos que nos reconhecer estropiados morais para aceitar, de fato o tratamento ofertado por algum samaritano que o Caminho trouxe até nós. Desta forma, alternamos o samaritano e o estropiado e assim iremos fortalecer o primeiro e curar o segundo, até que por fim, repitamos, com pureza e verdade, a fala de Paulo de Tarso: “travei o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé” (II Timóteo) que faz alusão direta em vencer as próprias viciações, se aproximando, ainda que um pouquinho, da angelitude.
Os Samaritanos (com “S” maiúsculo mesmo) estão por aí, nas ruas frias, nos hospitais, nas favelas. Não escolhem lugares luminosos, sob muitos olhares e não negociam suas ações. Tanto encarnados quanto desencarnados, tais servidores do Cristo, tal como o homem sem rosto da parábola, são discretos e longe da perfeição. São pessoas comuns que, no esforço de vencerem suas más tendências, criam condições de melhoria material e moral de terceiros que muitas vezes não conhecem. Tais Samaritanos, o verdadeiros, não esperam agradecimentos e quase sempre são incompreendidos por aqueles que o cercam. Mas seus tímidos sorrisos de esperança brotam quando um olhar de gratidão pelo amparo é dirigido a eles.

Que nós estudemos mais a parábola do Samaritano, e mais, que possamos seguir seu exemplo, lembrando sempre que o maior Samaritano de todos é Jesus de Nazaré.


terça-feira, 18 de julho de 2017

Como reconhecer uma boa obra espírita?

Forçal mental

Autor Thiago D. Trindade

A força mental é, talvez, a maior das Habilidades que Deus nos concedeu. Essa Potência pode fazer um sol brilhar à nossa volta, ou ainda, criar um terrível buraco negro que a tudo destrói.

A capacidade criativa é fundamental na psique Humana. Cria benéfico ambiente interno que nos impulsiona na Caminhada. Em casos negativos, cria amarras férreas, quase sempre chamadas, no meio espírita, de auto obsessão e obsessão sobre terceiros, em vista dos pensamentos negativos, infelizes e destrutivos.

Eis o Céu e o Inferno que Kardec se refere!

Quase sempre, a pessoa que cultiva dolorosamente seu buraco negro pessoal não credita a si tal responsabilidade. É sempre culpa do outro, encarnado ou não.

O Consolador Prometido – e enviado no século 19 –objetiva, acima de tudo, iluminar o Caminho a ser percorrido por cada um de nós. O Consolador, chamado também de Doutrina Espírita, funde Instrução e Sentimento Fraterno. O Consolador tira a responsabilidade de terceiros e a põe nos ombros a quem é direito: cada um de nós.

Esse entendimento é fundamental.

O esclarecimento visa reforçar as bases de nossa força mental e orientar seu bom uso, nos alertando das conseqüências de sua aplicação desregrada.

A força mental deve ser empregada, para simplificar, em serviço ao próximo, e assim estará aplicando em si mesmo.

Usá-la tão somente em benefício próprio é egoísmo e a responsabilidade disso será duramente cobrada por nós mesmos quando o véu da prepotência for rasgada perante nossos olhos.

Analisemos:

Fé, em essência, é a certeza de um futuro melhor.

Força mental é a aplicação da energia que temos.

Concluímos, portanto, que ao usarmos nossa força mental, a transformamos em Fé.

Como isso é mal usado! E não é coisa dos dias de hoje. Desde os tempos bíblicos, passando pelas Cruzadas, até os dias de hoje vemos pretensos líderes usando mal sua inteligência e Livre Arbítrio, associando-se a irmãos espirituais desequilibrados. E eles se valem dos mais simples para manipular-lhes a Fé e com isso direcionar a força mental ali trabalhada para uso egoísta, até mesmo para prejudicar diretamente alguém.

“Trabalhos” para cercear o Livre Arbítrio de determinada pessoa, conforme lemos pelos jornais Brasil à fora.

“Correntes” de oração, vistas à larga em programas neopentecostais de televisão que objetivam “derrubar” os inimigos dos adeptos e o enriquecimento material.

“Novenas” de rezas, ou promessas aos santos, por pessoas que desejam obter, por exemplo, emprego, sem esforço maior, sem por os pés na rua atrás de trabalho.

Negociam o inegociável. Negociam a Consciência que possuem ao se voltarem para o egoísmo.

As práticas acima citadas, realizadas em várias Religiões, ou melhor, pretensas Religiões, pois não levam seus adeptos a se Religarem com Deus, tem práticas similares e condenáveis.

E graças a Deus, esses verdadeiros ataques de força mental mal direcionada, é impedida pelos Servidores da Luz, caso contrário, todos nós viventes na Terra – em ambos os planos da Vida – viveríamos sob o controle implacável de alguém. Todos nós, estaríamos amarrados, derrubados e ricamente empregados e que se lixe o Livre Arbítrio e mais, a Missão de cada um! Infelizmente, porém, nos cumpre reconhecer que alguns crimes desse feio balaio chegam a termo, e é essa minoria que estampam as propagandas.

Não nos enganemos, esse crime nunca, jamais, em tempo algum, passará impune e a pena imposta pela Consciência de cada um será cobrada de acordo com o grau de Conhecimento que o indivíduo possui sobre os Ensinos de Mestre Jesus.

Devemos, pois, usar os “trabalhos”, “correntes” e “novenas” não para “amarrar”, “derrubar” e “trazer” para nós. Mas sim para pedir por saúde física e mental, criar condições para nosso irmão Caminhar da melhor forma possível, sobretudo, aquela pessoa que nos é um momentâneo desafeto.

Paradoxal?
Não mesmo!

A verdadeira prosperidade, tão repetida pelas verdadeiras Religiões, é querer o Bem de todos, sem exceção. Afinal, fazer ao próximo o que gostaria que nos fizessem (Lucas, 7:35). Um singelo Carpinteiro disse isso e essa passagem, apesar de ser até bem lembrada, é muito pouco praticada.


Usemos melhor nossa força mental, distribuindo vibrações salutares para todos à nossa volta. Pela Lei da Sintonia, ou como preferem alguns, Lei da Ação e Reação, só iremos atrair aquilo que doamos e, creio, que ninguém gostaria de ter um buraco negro dentro de si.



quarta-feira, 5 de julho de 2017

Julgamento



Autor Thiago D. Trindade




“Não direi para não julgar. Mas antes de julgar, imagine um espelho diante de si. Se ver alguma perfeição em ti, então julgue.” 
Espírito Joaquim
 (livro Reflexões e Caminho Volume II)


Costumamos, diariamente, brincar de juiz. Apontando a falha, algumas vezes de forma fria e outras de maneira ardente, acabamos por atentar mais uma vez contra os Ensinos de Jesus.

Lembramos da mulher pecadora, posta por Simão, o fariseu, em sua própria casa com o objetivo de enganar o Mestre Galileu, conforme vemos em Lucas (8:36-50). A mulher, diante do Mestre, lavou os pés do Cristo com suas lágrimas e secou-os com os próprios cabelos.

Esse quadro comovente, era, aos olhos do infeliz fariseu, um crime hediondo, já que pessoas consideradas impuras “infectavam” os homens de bem.

“Como o Messias não haveria de ter identificado a impureza da pobre mulher?” Deve ter pensado o fariseu.

Jesus sabia dos pecados da mesma, e em nome do Pai, informou-lhe que sua Fé a livrara dos laços tenebrosos que a prendiam. O Amor da mulher simples a salvara.

Sem julgamentos.

Somente Fé, um dos sinônimos do Amor.

Simão, por fim, aprendeu que gestos sinceros de Fraternidade aniquilam a soberba.

O fariseu julgou Jesus e a mulher.

Achava o Mestre um farsante.
Achava a mulher uma escória.

Em sua cegueira, o rico fariseu percebeu apenas tênues sombras ante a majestade de duas luzes.

Jesus, a Luz que descia à Terra para iluminar.
A mulher, a Luz recém nascida que buscava se unir à Luz Maior.

O fariseu Simão, por sua vez, apagava-se ainda mais. Não por muito tempo, porém, pois o Cristo iria também Esclarecer o irascível judeu.

Segundo os relatos do Evangelista, o fariseu entendeu o recado, dado diretamente pelo Mestre, quando usou uma parábola que citava dívidas e devedores – ilustração cotidiana do opulento judeu.

Incorporando em nós o arquétipo de Simão, o fariseu, julgamos nossos companheiros de Caminhada. Desaprovamos sua conduta, sem considerar que condições o pretenso “impuro” apresenta.

Quão ignorante ele é em termos morais?
Que acesso aos Ensinos de Jesus ele possui?

Alguém até poderia citar:
“Ele(a) sabia o certo, mas fez o errado”.

Ainda assim não podemos nunca tomar nas mãos uma pedra e atirá-la contra alguém. Saibamos não só lembrar, mas praticar os Ensinos do Cristo.

Emmanuel, guia do querido Francisco Cândido Xavier, considerado por muitos como o Quinto Evangelista, cita em praticamente todas as suas comunicações:

“Instruir sempre.”

“Perdoar sempre.”

“Amar sempre.”

O calceta no erro, certamente, precisa de provas mais rigorosas e maior disciplina, a fim de que a Verdade, por fim ultrapasse a couraça de ignorância preguiçosa.

Afinal, o bom pastor, que se movimenta seguindo os passos do Mestre Jesus, guia com mais firmeza as ovelhas mais bravias.

É comum vermos nas Casas de Religião membros mais rebeldes. São encarados com desconfiança e até desdém. Em alguns lugares são até incentivados a saírem dali.

Tenhamos certeza, Jesus de Nazaré, Excelso Governador deste mundo de imperfeitos, não aprecia essas ações, conforme podemos encontrar no relato de Lucas (7: 37), que faz citação direta ao julgamento.

Alguns poderiam afirmar:
Mas é melhor para não comprometer os outros”.

Pensemos.

O remédio não é para o São (Lucas 6:31), logo, se houver prejuízo no grupo é por que há uma falha NA execução do Programa, e não NO Programa, que é Servir o Próximo.

E quem, no planeta Terra, está isento do Divino Remédio trazido por Jesus?

Quem ousa, por isenção de erro, atirar a primeira pedra?

Reflitamos.

A prática do Amor, ao invés de permanecer tão somente na retórica, é a solução para os males que encontramos, muitas vezes orquestrados pelo Astral Inferior.

Desarmar nosso próprio coração de toda má intenção ao referir-se a alguém.

Quando a ovelha se afasta do rebanho e regressa, ainda que ferida e assustada, o pastor não agradece a Deus pelo retorno da preciosa criatura, tal como fez o pai com o filho pródigo? (Lucas, 15:3-7 e 11 a 32).

Não é fácil, portanto, não julgar.
Talvez seja a atividade mais difícil deste mundo.

Jesus não julgava, em desacordo com os pensamentos de muitos, mas impulsionava todos ao Bem, inspirando a Consciência – o Verdadeiro Juiz – de cada um.

Pedro que o diga!
Tomé que o diga!
Simão, o fariseu, que o diga!
E tantos outros, como nós aqui...

Quando vemos as prisões, recheadas de homens e mulheres cuja moral ainda é primitiva e rude, podemos até pensar que seria injusto retê-los lá, uma vez que esse texto diz que é errado julgar.

A maior finalidade desses lugares é forçar esses indivíduos, através da confrontação extremamente rígida e momentânea com seus graves feitos, a buscar reflexão de seus atos. Um remédio mais amargo.

“Mas o Sistema Prisional não funciona!” Brada alguém.

Mais uma vez: há uma falha NA execução do Programa e não NO Programa!

Temos de nos dedicar mais a esses enfermos da alma, com mais firmeza – o que não é brutalidade – e também mais doçura.

Temos de lembrar que já estivemos no lugar deles, se ainda, realmente, não formos exatamente iguais a eles.

Nunca com julgamento no coração.




Pessoas que nao saem do tratamento desobssessivo