quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

ESTUDO SOBRE ALGUNS TRABALHADORES ESPIRITUAIS DESCRITOS ATRAVÉS DA TINTA DE YVONNE DO AMARAL PEREIRA EM TRÊS OBRAS DE SUA PSICOGRAFIA



A nobre Yvonne A. Pereira, desencarnada em 1984, nos deixou uma extensa obra, sendo intermediária de ilustres vultos do Espiritismo, como Bezerra de Menezes, Leon Denis e Charles, além de tantos outros trabalhadores do Além. Em sua jornada na Terra, descrita em belas biografias, percebemos que a médium conviveu com uma variada gama de Espíritos em diversas condições morais. Pouco afeita ao formalismo e a teorias sem prática, Yvonne abraçava fortemente as Máximas do Cristo: Amar a Deus sobre todas as coisas, e Amar ao Próximo como a si mesmo, e isso trouxe a ela uma visão singular da prática doutrinária.

Esse posicionamento libertário de formas, mas não de conteúdo, fez, nos últimos anos, alguns integrantes do Movimento Espírita perceberem que o caminho adotado por ela, que tão somente seguia a Doutrina de Jesus, o preconceito que se encontrava permeado nas fileiras, cada vez mais eruditas e menos afeitas ao trabalho braçal da Caridade. Preconceito este direcionado aos Trabalhadores do Bem que não se apresentavam como doutores, sábios de porte europeu, mas cujo empenho no Serviço do Mestre Carpinteiro era fundamental para o resgate de irmãos absolutamente imersos na infelicidade. Muito preconceito, por parte desses “espíritas” (a inicial é minúscula propositalmente) é dirigido aos falangeiros do Bem que se apresentam através de fala simples, caminhar descalço, ou ainda de aspecto intempestivo, pretensamente selvagem, esquecendo-se que muitos chefes de falanges infelizes se apresentam como doutores imersos em beleza e fala macia, dominando até mesmo os conceitos dos Ensinos de Jesus.

Esse modesto estudo visa trazer à observação crítica, logo não está fechado, retornando à luz dos dias atuais, que estão repletos de obras Espíritas e Espiritualistas que alardeiam novidades sobre a Vida no mundo Espiritual, mas que há várias décadas um pequeno grupo de médiuns corajosos e guias amorosos já apresentavam, mas que por alguma razão, tais conteúdos passavam pela sombra dos olhos da maior parte dos leitores. Também não desejamos apontar dedos de julgamentos para nenhum lado, apenas visualizar que as Entidades do Bem trabalham independentemente do lugar ou situação. Nós, encarnados, que criamos frágeis considerações que acabam por dificultar o progresso de nós mesmos, através do preconceito.

Agradecemos ao Umbandista, Pesquisador e autor de Umbanda, da série Umbanda Sem Medo, Cláudio Zeus, e ao Espírita, Palestrante e Articulista Alexandre Giovanelli pelas sugestões e apontamentos.

Registramos aqui nosso agradecimento a Yvonne do Amaral Pereira, pessoa simples, devotada ao Bem, que iluminou a Terra com sua presença bela.

















Memórias de um suicida

Pelo Espírito Camilo Castelo Branco (orientada pelo Espírito Leon Denis), 20ª edição, 1998 (1ª edição em 1955), Editora FEB, 568 páginas.

Essa inesquecível narrativa, testemunho detalhado e emocional do Espírito suicida Camilo Castelo Branco, nos revela suas vivências logo após o terrível ato contra si mesmo, que o retirou bruscamente do mundo dos encarnados. Ao longo de suas experiências comoventes, acompanhamos o trabalho de muitos Emissários do Bem, liderados por Maria de Nazaré, dirigente de uma grande organização de amparo junto ao Vale dos Suicidas.

No início da obra, após detalhar alguns tormentos que assombravam o endividado Espírito Camilo, percebemos, na página 28, a descrição de poderosa comitiva, que chega ao Vale dos Suicidas, para resgate de alguns dos que ali estavam. Ocorre que na página supracitada, durante a caracterização dessa Força Humanitária, somos surpreendidos pela descrição de soldados armados de lanças.

“Precedia, porém, a coluna, pequeno pelotão de lanceiros, qual batedor de caminhos, ao passo que vários outros milicianos da mesma arma rodeavam os visitadores, como tecendo um cordão de isolamento, o que esclarecia serem estes muito bem guardados contra quaisquer hostilidades que pudessem surgir do exterior. Com a destra o oficial comandante erguia alvinitente flâmula, na qual se lia, em caracteres também azul celeste, esta extraordinária legenda, que tinha o dom de infundir insopitável e singular temor: Legião dos Servos de Maria.”

Observamos que nos anos 50, a saudosa Yvonne já nos atentava para uma reflexão sobre alguns procedimentos da Espiritualidade Benfeitora junto aos desamparados. Enganamo-nos, mediante esse vívido relato, que os Bons Espíritos se valiam somente de preces e aparência venerável para poder, ao menos, se aproximarem de irmãos sofredores. É claro que a força Moral do Espírito se sobressai a tudo, mas o entendimento de que há presença de força militar, com armas bastante conhecidas e ameaçadoras é mais compreensível a quem está imerso em dores espirituais. Acrescentamos ainda, que tal compreensão não se dá somente para os sofredores, mas também por parte de alguns dos Trabalhadores do Bem que ainda estão nos estágios iniciais de sua Caminhada para a Perfeição.

Percebemos ainda, o uso ostensivo de uma insígnia, a cruz de cor azul celeste, como emblema da Legião dos Servos de Maria. A cruz, ao longo das Eras da Humanidade, aqui na Terra, possuiu – e possui – significados diversos, mas o maior deles é associá-la à figura do Cristo. Um símbolo que significa a redenção Humana, da verdadeira paz. Portanto, assim como na Terra e na Espiritualidade, a cruz é facilmente reconhecível. Porém é interessante notar a forma do uso deste símbolo por parte dos Legionários: para infundir insopitável e singular temor. Ou seja, para reconhecer os Servos de Maria e respeitá-los como força. No Espiritismo “Kardecista”, não há muitos relatos de situações assim, ou seja, o uso de elementos visuais para reconhecimento por parte dos Espíritos de qualquer grau evolutivo. Na Umbanda, os símbolos visuais são amplamente utilizados, não só a fins de reconhecimento de Entidades, mas também para evocação de forças, ou melhor, concentração de força mental. A Fraternidade Branca, as Nações Afrobrasileiras (Gêge, Ketu, e outras), a Jurema, Tambor de Mina, Terecô, Xambá, Xangô do Nordeste, o Catimbó e o Vale do Amanhecer, dentre outras organizações do Astral, também se valem largamente de símbolos. Até mesmo o uso da cor azul, por parte dos Legionários tem importância, já que é muito mais significativo do que ser o fato desta coloração utilizada para o manto da Virgem Maria em milhares de imagens religiosas pelo mundo. Na Umbanda esta cor é comumente associada ao Orixá Oxum, sendo sincretizada com Nossa Senhora Aparecida, ou seja, Maria. A cor azul celeste induz harmonia e serenidade, segundo fontes escritas e relatos de Entidades variadas.

Mais adiante, ainda na mesma preciosa página, visualizamos a figura do lanceiro, bem como ao comandante daquela missão de socorro:

“Os lanceiros, ostentando escudo e lança, tinham tez bronzeada e trajavam-se com sobriedade, lembrando guerreiros egípcios da antiguidade. E chefiando a expedição, destacava-se varão respeitável, o qual trazia avental branco e insígnias de médico a par da cruz já referida. Cobria-lhe a cabeça, porém, em vez do gorro característico, um turbante hindu, cujas dobras eram atadas à frente pela tradicional esmeralda, símbolo dos esculápios.”

A interessantíssima descrição dos soldados pode impressionar o leitor ligeiramente desavisado, que poderia estar lendo alguma obra meramente espiritualista. Mas trata-se de uma obra editada pela Federação Espírita Brasileira, pela tinta de respeitável médium. A apresentação de tais Espíritos já fora comentada, no que concerne a função, mas não refletimos ainda sobre a aparência de tais Entidades. Eram, pois, detentores de aparência perispiritual egípcia, pois era um antigo povo terreno, celebrado pelas conquistas das ciências matemáticas, médicas e também militares. Não significa, porém, como percebemos nessa imprescindível obra de formação moral e intelectual, que outras Entidades possuíssem aparências distintas. Como é o caso do líder da expedição, médico hindu, rememorando antiqüíssima civilização de filósofos, que contrariando, mais uma vez, as convenções Kardequianas, esta Entidade usava uma esmeralda em sua fronte, o que poderiam considerar como ostentação vulgar. Muitas entidades, sobretudo os Mestres Ascencionados da Fraternidade Branca, bem como alguns dos Médicos do Espaço portam esmeraldas, rubis, e porque não inserir nesse mesmo contexto, togas, robes, mantos, cetros, cajados e jalecos brancos? Devemos observar o que tal símbolo – e retornamos assim ao breve estudo da cruz, feito acima – representa não para o portador somente, mas também para os que estão mais atrás na cadeia evolutiva.

Em seguida, acompanhando a página seguinte, compreendemos melhor o desfecho do resgate dos sofredores, ainda no Vale dos Suicidas, quando os enfermos são levados a belas carruagens, puxadas por animais:

“...Brancos, leves, como burilados em matérias específicas habilmente laqueadas, eram puxados por formosas parelhas de cavalos também brancos, nobres animais cuja extraordinária beleza e elegância incomum despertariam nossa atenção se etivéssemos em condições de algo notar para além das desgraças que nos mantinham absorvidos dentro de nosso âmbito pessoal. Dir-se-iam, porém, exemplares da mais alta raça normanda, vigorosos e inteligentes, as belas crinas ondulantes e graciosas enfeitando-lhes os altivos pescoços quais mantos de seda, níveos e finalmente franjados.”

É idéia geral de que os animais, ao desencarnarem, irem ao chamado Espírito Grupo, perdendo, portanto, sua individualidade. O fragmento acima citado se ajusta com o relato do Espírito André Luiz, na obra Nosso Lar (editora FEB, 1997, 46ª edição; 1ª edição em 1944) que cita a presença de animais domésticos na referida colônia espiritual. Na Umbanda e em outras Religiões, é muito comum ao médium vidente, observar espíritos de cães, cobras, pássaros, onças em companhia de Espíritos dos Caboclos e Pretos Velhos. Existem argumentações que tais criaturas espirituais são formas pensamentos, mantidas pela força mental da Entidade, sendo, desta forma, um tema assaz, polêmico e digno de estudos mais profundos. Interessante e digno de nota que em 1955, na Doutrina Espírita, já havia relatos de espíritos animais, à serviço do Bem.

4 comentários:

  1. Estudo a Doutrina Espírita há 34 anos. Conheço as obras citadas nesse estudo. Acreditava que pouco me surpreenderia, em matéria de Espiritismo. Imerso em surpresa, li e reli esse estudo inúmeras vezes. Fui aos livros que tenho para conferir. Duvidei mesmo do autor desse estudo. Mas algo me inquietou. Fui a uma casa de Umbanda, ver para crer. Conversei e peguei impressões. Me recusei, por alguns dias, e por orgulho tolo, a ver que todas as difilculdades que temos são criadas por nós, os pais do preconceito. Como rejeitar esse estudo? Como não acreditar na descrição do iluminado Bezerra de Menezes a respeito da Falange das Crianças? Como não acreditar no trabalho dos índios? Como não acreditar no trabalho dos soldados de Maria de Nazaré no Vale dos Suicidas, com suas armas, cores, brasões, esmeraldas e etc? Como não acreditar nas atividades dos espíritos que trabalham no Bem, sem se preocuparem com rótulos que nós, aprendizes teimosos e maldosos impomos?

    Revi meus conceitos como Espírita. Vezes diversas, fui à tribuna condenar o preto velho, sem nem mesmo saber quem ele era. Condenei o índio, sem saber que um deles sempre me acompanhara. Perdi mais tempo julgando do que trabalhando pelo meu progresso.

    Agradeço, porém, esse meu despertar, através das linhas desse estudo. O autor, muito gentil e educado, que conversou comigo pelo facebook. Em nenhum momento tentou me convencer. Mostrou suas argumentações e permitiu que eu tirasse minhas próprias conclusões.
    Não julgar, ensina o doce Jesus!
    Instrução, alerta Emmanuel!
    Trabalhar, convida Paulo!

    Obrigado por esse estudo, mais profundo do que parece, e aguardando pelos vindouros.

    Abraço!

    Luiz Antonio Pereira de Sá, São Paulo-SP

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    1. Caro sr. Luiz Antonio,

      Obrigado pelas palavras. No entanto, alerto, que não me apresento como profundo conhecedor. Sou muito leigo. Esse estudo nasceu, conforme cheguei a lhe relatar no facebook, de minha observação do que vemos na literatura clássica, devidamente reconhecida por seu mérito, com o que se vê em algumas casas de Caridade. É um estudo simples que mexeu muito comigo, da mesma forma que aconteceu com o senhor. Não deixamos de ser espíritas, pelo contrário, reforçou nossa crença na Fé raciocinada. Forte abraço.

      Thiago Trindade

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  2. SOBERBO!

    Como nunca percebemos que os trabalhadores apenas trabalham? Nós somos muito arrogantes em querer estipular padrões! Estudo profundo e muito bom!

    Paz e Luz!!!!!!!!!!!!!

    Vânia

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  3. Um estudo robusto, instigante e que dissipa o véu da nossa arrogancia.

    Parabéns ao pesquisador e aguardando outros estudos!

    Francisco Meirelles, Rio de Janeiro

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