quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Parte final do estudo sobre três obras da médium Yvonne do Amaral Pereira

Recordações da Mediunidade

Yvonne do Amaral Pereira (Orientada por Bezerra de Menezes), Editora FEB, 4ª edição, 2011 (1ª edição 1966), 256 páginas.

Obra que trata das experiências da médium, tutelada por Bezerra de Menezes, que faz referências a encarnação pretérita da autora, bem como suas conseqüências para sua última existência terrena. Vislumbra seu mandato mediúnico, seu esforço para praticar o Bem e assinala algumas das entidades espirituais com as quais conviveu, Certamente, hoje em dia, muitos deles seriam impedidos de trabalhar junto a Casas Espíritas, ou mesmo alguns médiuns, por não possuírem a aparência e/ou o linguajar adequados.

Iniciando pela página 112, observamos a caracterização de um Espírito Amigo, familiar da médium Zulmira Teixeira, que se apresentava como índio, adotando o nome Emanuel.

“Na mesma reunião foi também materializado o espírito familiar da médium o índio brasileiro ‘Emanuel’, o qual tantas e tão belas curas em enfermos e obsidiados realizou com o concurso da mesma intérprete (3). Assim humanizado, o índio ‘Emanuel’ dir-se-ia estátua de bronze lucilante, tão bela era a sua aparência. Meio desnudo, trazia como único vestuário os acessórios da condição indígena. E o seu talabarte, o depósito das flechas, as próprias flechas, o arco, o diadema e as pequenas penas que o enfeitavam lucilavam em reflexos brancos, azuis e amarelos. Era jovem e seus cabelos escuros e longos, também reluzentes, caíam pelos ombros. Trazia como estampada em toda a sua configuração a raça indígena a que pertencera: Tamoio.”

Esse curioso fragmente nos dá uma extensão muito interessante sobre as atividades e até da aparência desse Espírito, chegando mesmo a sua etnia, ou quem sabe, Falange espiritual. Muitos caboclos de Umbanda são exímios curadores de enfermidades terrenas, além de hábeis no trato com espíritos obsessores, e, sua apresentação perispiritual é idêntica a apresentada na caracterização de ‘Emanuel’. Interessante ressalvar o diadema portado pelo Espírito indígena. Os relatos que existem no Brasil, a respeito do uso desse adorno, por parte dos índios, refere-se a objetos criados com penas, presas de animais, algumas pedras semipreciosas, que eram dispostas artísticamente em um conjunto único. Pelo dicionário Aurélio (Editora Nova Fronteira, 3ª edição,1993), diadema é um sinônimo de coroa, estando assinalado o seguinte “1. faixa ornamental com que os soberanos cingem a cabeça; 2. adorno circular que as mulheres usam no penteado.” Atualmente, o conceito mais empregado para diadema, é a de jóia preciosa, presa por um arco, disposto sobre a testa de seu portador. Notoriamente, Entidades de Umbanda se apresentam com diademas na fronte. Mais impressionante ainda, pelo relato no supracitado livro, Emanuel não foi visto por vidência, mas sim por materialização diante de várias testemunhas.

No item (3) do fragmento acima exposto, a autora esclarece que ‘Emanuel’ não é a mesma entidade evangelizadora ‘Emmanuel’ mentor de Francisco Candido Xavier, que a esse tempo não havia iniciado seus trabalhos mediúnicos junto ao público. O significado desse nome é ‘Deus conosco’ denotando o enorme comprometimento destas Entidades com o Bem.

Mais adiante, Yvonne aponta um longo e instigante relato, nas páginas 141 e 142, que fragmentaremos para melhor observação:

“A velhas ex-escravas, porém, morreram, levando para o Além a afeição e a gratidão que nos consagravam, e como Espíritos desencarnados, continuaram nossas amigas, desejosas de retribuírem o carinho que lhes dávamos, outrora, auxiliando-nos durante os momentos difíceis que mais tarde sobrevieram em nossas vidas.”

Yvonne não nos fala de servidão espiritual, uma relação de poder temporal, mas sim de gratidão espontânea. Notemos que os dois Espíritos não poderiam ser descritas como “Entidades Pretas Velhas” por não terem suas atividades coesas na prática da Caridade, dentro da chamada Lei de Umbanda. Delfina e Germana, como eram chamadas, eram generosas e amáveis, mas não deviam, talvez, distinguir o que é correto do que é errado, realizando todo o possível a para Yvonne e família por amor, quem sabe até mesmo atrapalhando indiretamente na evolução moral da família Pereira. Nas linhas seguintes, perceberemos que essas duas entidades se ajustaram em falanges afins. Como eram recém desencarnadas, não teriam, ainda, o cabedal de conhecimento para melhor ajudar, e mais, a condição mental de sustentar um processo de formação moral. Complementa-se ainda que essas duas Entidades recém desencarnadas não apresentavam condições para atuarem como Guias, nem mesmo como Protetores de alguém, por não possuírem nenhum conhecimento sobre o Plano Espiritual.

“E parece mesmo que as duas antigas amigas, uma vez desencarnadas, carrearam para nós grupos afins espirituais seus, pois, além delas sempre me causou enternecida estranheza o fato de me ver frequentemente assistida por Espíritos de antigos escravos da raça africana e de índios naturais de antigas tribos brasileiras.”

Percebemos que esse vínculo, além de possíveis carregos espirituais da família Pereira, cujos pais abrigavam desabrigados de todos os matizes, os próprios espíritos familiares dos encarnados beneficiados, que, por gratidão aos bondosos anfitriões, passavam a ajudá-los também. Nesse caso, provavelmente, alguns destes Espíritos, de formação moral mais elevada poderiam organizar os demais e assim facilitar o imenso trabalho fraterno que o pai da autora liderava junto de sua esposa, tanto que observamos o auxílio deles nos desdobramentos mediúnicos de Yvonne:

“No que me diz respeito, porém, essa assistência se exerce de preferência hoje como nunca, durante os fenômenos de desdobramento em corpo espiritual, quando, às vezes, me encontro como que perdida em regiões tenebrosas do mundo invisível ou mesmo da Terra, á mercê de perigos imprevisíveis. Sou mesmo inclinada a crer que, assistindo-me em ocasiões tais, as ditas entidades, já esclarecidas e portadoras de muito boa vontade para acertar nos caminhos da evolução, mais não fariam do que o cumprimento de sagrado dever, porquanto, segundo minhas próprias observações, todas elas formaria falange como que de milícia policial do mundo invisível, combatendo distúrbios que muito se alastravam pelas duas sociedades se não fossem de algum modo combatidos, milícia que seria dirigida por Entidades mais elevadas na hierarquia de Além Túmulo. Poderíamos dar-lhes ainda o qualitativo de ‘assistentes sociais’ do Invisível, de vigilantes, etc.”

Encontramos nesse belo depoimento, além da gratidão da autora, a descrição desses espíritos a partir de seu ingresso em um grupamento espiritual. Realizam tarefas mais simples, mas de alto valor moral. Se esforçam para auxiliar, mas sem interferir no livre arbítrio da médium, nem ir contra as Leis Divinas. Possuem código de ética rigoroso, e possuem forma de ação variada. No início deste modesto estudo, já verificamos essas características, e aqui ratificamos. Na Umbanda, tais procederes, são encargos dos Exus Batizados com expressivo grau de evolução moral, tornando-se de fato Protetores; ou, no Espiritismo, Guardiões. Nas linhas seguintes, já na página 142, Yvonne cita que existem outras formas de atuação assistencial, por parte da Espiritualidade, bem como nunca haver conversado com esses Espíritos trabalhadores em sessões mediúnicas, sendo discretos e humildes. Somente nos transes da autora, sem a presença direta dos mentores, é que se manifestam com poucas palavras, na mesma linguagem que ela.

Relembrando sua origem familiar-terrena, Yvonne A. Pereira, relata que sua bisavó, uma legítima índia Goitacás (do tronco Tamoio) fora-lhe um baluarte de sincero amor cristão. E na página 143, a célebre médium apresenta ao leitor a figura de José, um índio Goitacás, que mais adiante se revela irmão de sua prezada bisavó.

“Eu me admirava, pois, de notar ao meu lado, de quando em vez, a título de ajuda e proteção, a figura espiritual de um índio brasileiro, jovem e gentil, aparentando dezoito ano a vinte anos de idade, cujo semblante apresentava melancolia profunda, enquanto as atitudes eram sempre discretas e afetuosas.” E segue: “Como Espírito desencarnado, porém, a dita Entidade não perdera ainda, talvez por ser essa a sua própria vontade, ou talvez por impossibilidades acima da minha capacidade de apreciação, não perdera ainda o complexo mental da última encarnação terrena, pois seu aspecto era o do comum dos índios brasileiros, discretamente enfeitado com plumagens de aves e flechas coloridas, e os cabelos compridos caídos pelos ombros revelando antiga raça dos nossos nativos. Sua configuração espiritual, por isso mesmo, nada apresentava de tênue à minha visão, quer durante os transes mediúnicos quer em vigília.”

Esse amigo espiritual da autora, fazendo às vezes de protetor, ou guardião pessoal, embora tomasse a aparência indígena, não funcionava dentro do arquétipo do Caboclo de Umbanda. Emanuel e Peri, já citados, teriam muito mais cabedal para essa correlação haja vista a evolução moral que dispunham e também pela forma e trabalharem: na cura e no trato com obsessores. Nesse caso, percebemos a indagação de Yvonne ao se manifestar a respeito da eventual incapacidade de José (que se apresenta assim na página 145, mediante questionamento da médium) de alterar sua aparência perispiritual, o que no caso dos outros Trabalhadores do Bem supracitados, não foi cogitado por conta do vulto moral desses dois Emissários. No entanto, na página 149, a médium descobre que o Amigo Espiritual optava por assumir aquela aparência, sendo Espírito antigo e civilizado, que reparava erros cometidos, da mesma forma que Peri.

No caso do Espírito José, cuja derradeira encarnação fora de índio Goitacás, podemos inseri-lo como um Guardião ou Protetor Particular. A melhor forma de refletirmos sobre Exu é considerar seu nível evolutivo: como alienado da Lei do Progresso (como um Amoral ou Imoral, que negociam pagamentos com eventual consulente, dentro do pensamento apresentado na página 8) ou de Aprendiz da Lei do Progresso, sem muitas certezas sobre ela, mas ainda assim um estudioso e praticante da Lei (moralizando ou moralizado, que não negocia pagamentos).

Nas “Nações afrobrasileiras” Exu tem conceito completamente diferente, exceto por ser Amoral, sendo sempre Exu, e seu culto/forma de se relacionar é muito diferente do que ocorre na Umbanda, até porque nos chamados Candomblés não se trata de um Egum (palavra de origem Yorubá para designar desencarnado) e sim um ser diferenciado, como os demais Orixás/Voduns e outros, conforme a Religião em questão, pela ótica Ketu, Gêge, etc... (para maiores entendimentos sobre, recomenda-se as obras clássicas do autor Pierre Verger) que, por sua vez, são diferentes da Umbanda e outros cultos, exceto por alguns nomes. E para se compreender das possíveis razões para essas diferenças e semelhanças, serão necessários outros estudos.

Para entender melhor a conceituação de Guardião, termo mais adotado pelos Espíritas Kardecistas, este é um Protetor, podendo se apresentar na Umbanda como Exu, Preto Velho e Caboclo (como veremos logo abaixo), desde que se posicionem na tarefa de guarda/proteger particularmente uma pessoa, grupo ou local. Quando nos referimos a Guia, de fato e de direito, independente de sua forma perispiritual (Pretos Velhos e Caboclos, ou ainda Crianças, em se falando de Umbanda), sua evolução moral é superior à do tutelado, auxiliando de várias maneiras a evolução do pupilo.

No Livro Loucura e Obsessão (editora FEB, 11 ª edição, 2010; 1ª edição 1988), de Manoel Philomeno de Miranda e Divaldo Pereira Franco, sob a tutela de Bezerra de Menezes, podemos ler sobre um forte destacamento de índios atuando na proteção de um terreiro de Umbanda chefiado por uma Entidade conhecida como Preta Velha (que é o cenário central do referido livro), que detém influência benigna junto a entidades sofredoras. Conversando com antigos médiuns de Umbanda, descobrimos que espíritos de índios faziam a proteção dos terreiros. Eram entidades mais simples e de trato direto dos mentores da casa. Com o passar dos anos, surgiram as Falanges conhecidas como Exus e Pombogiras, que assumiram esta função de defesa do terreiro e proteção. Ou seja, mudou-se a aparência perispiritual e nomes das Entidades, mas não sua função. Em outro momento, estudaremos as ricas obras desse autor Espiritual para analisarmos com mais profundidade, sobretudo este livro supracitado.

Na página 149, podemos perceber, que a médium, talvez movida por algum preconceito doutrinário insconsciente, tenta alertar o índio José para sua forma espiritual:

“- Se já foste civilizado, como encarnado, porque conservas, agora, a configuração indígena, que é tão primitiva? Não é tempo de corrigir os complexos mentais?... Ou as antigas existências são hoje odiosas ás tuas recordações, e por isso preferes a aparência indígena?... – ousei perguntar, valendo-me do direito que a prática do Espiritismo faculta pra instrução doutrinária.”

Nesse polêmico fragmento, vemos que Yvonne, talvez, atrelada a sentimentos por seu ancestral familiar, já que José fora irmão terreno de sua bisavó, e tendo convivido com a própria autora ao longo dos séculos (página 148) se apega ao formalismo superficial, esquecendo-se, momentaneamente, da importância do conteúdo, em relação à forma. Delicadamente, porém com firmeza, o Espírito José, respondeu:

“- Sim – respondeu – a atual aparência é-me mais grata, porque não posso desaparecer de mim mesmo, sou eterno e há necessidade de que eu seja alguma coisa individualizada... Foi como indígena brasileiro que iniciei a série de reparações das faltas cometidas no setor civilizado. Mas, ainda que eu desejasse modificar a minha aparência, não o poderia, por uma questão de pudor e honradez. Como aparecer a mim mesmo ou a outrem com a personalidade de um déspota, um tirano, um celerado? Terei de desempenhar longa série de tarefas nobres, nos setores obscuros que me couberem, em desagravo aos males outrora causados no setor civilizado... A punição continua, ainda não estou liberto do pecado... “

Essa firme resposta à nossa doce Yvonne nos faz lembrar da Lei da Ação e Reação, e Yvonne, que já havia descrito situações assim nas obras supracitadas, e mais, com as devidas observações, deu-se por entendida. Ao longo da página seguinte, tocada em sua fibra íntima, a médium procura saber do Espírito José, qual sua efetiva ligação, o que é negado pelo Protetor. Entendamos que a nobre Yvonne é humana, e percebemos sua grandeza espiritual ao publicar as linhas, encontradas na referida página, sem receios de eventual má interpretação ou má fé. Vemos uma pessoa sensível, que movida por afeição e curiosidade, tentou modificar, ainda que levemente, o entendimento da missão do Espírito José.

Mais adiante, na página 166, passamos a conhecer o Espírito José Evangelista, que se apresentava como homem negro, tendo sido escravo brasileiro nos tempos da Monarquia:
“... José Evangelista, ter sido homem de cor, quando encarnado, e escravo de descendência africana no Brasil, ao tempo da monarquia. Muito inteligente, mesmo culto, esse Espírito conservou-se um enigma para mim durante algum tempo, pois somente nos dois últimos anos me foi dado conhecer os motivos pelos quais se apresentava senhor de tanta cultura. É, no entanto, grande trabalhador e frequentemente se comunica em nosso núcleo espírita, trabalhando dedicadamente a bem do próximo, às vezes mesmo sob direção de mentores mais elevados, não obstante possuir métodos particulares para agir nos serviços da Lei da Fraternidade Universal faculta liberdade de métodos aos seus obreiros, desde que os princípios da mesma sejam observados.”

Neste fragmento de apresentação, encontramos um Espírito de homem negro de vasta moral, detentor de metodologia própria de ação no Bem. Essa afirmação é somada a tantas outras iguais, ao longo da obra de Yvonne Pereira, desmistificando que a estrutura de Ação Fraterna tem que ser a mesma, seja no mundo denso, seja na Espiritualidade. Da mesma forma que outros Espíritos, como o próprio Espírito Adolfo Bezerra de Menezes, o Espírito José Evangelista atua sob orientações de Espíritos mais elevados, desqualificando-o como Espírito iniciante em sua escalada de Crescimento Moral, em comparação com os Espíritos Delfina e Germana.

“O Espírito José Evangelista, no entanto, em se afirmando ex-escravo no Brasil, não apresentava complexos conservados do estado de encarnação, por isso que se exprimia naturalmente, sem o palavreado da raça, senão em estilo clássico, pelo menos de modo normal, embora fácil.”

Esse trecho interessantíssimo vai de acordo com o conhecimento, por parte de Umbandistas estudiosos que as Entidades que nela militam não se fixam cegamente às suas expressões de comunicação. O falar arcaico, mesmo errado, serve tão somente para demonstrar que, através de uma humilde manifestação verbal simples, existe todo um conhecimento benéfico que está sendo passado. E sempre de forma compreensível ao consulente. De nada adiantaria, o idioma português escorreito a uma pessoa de pouca formação acadêmica que não iria compreender. E mais, a forma de se expressar aproxima as partes em questão, o Espírito, e o consulente, facilitando a troca magnética por empatia. Não raro, porém, as Entidades de Umbanda se comunicarem sem floreios ou deficiência no vocabulário, expressando-se de acordo com as normas cultas da gramática, dominando terminologias específicas das ciências modernas.

Uma das características mais marcantes das Falanges dos Pretos Velhos é o domínio da Psicologia, pode ser analisada através da tinta de Yvonne Pereira, no seguinte fragmento, registrado na página 174:

“- O bom José Evangelista será também profundo psicólogo, não obstante sua humilde condição de ex-escravo de raça africana. Ele sabe que até mesmo...”

Um bom psicólogo independe de sua condição racial, depende de sua formação moral e intelectual, sendo, portanto desnecessário o emprego desta frase, por parte de nossa Yvonne, talvez, espantada por testemunhar tão brilhante trabalho de amparo ao Espírito Pedro, também negro – o que pareceu não surpreender a médium – que obsediava inconscientemente um conhecido da querida seareira do Bem.

Entendemos que, embora fosse libertária, a autora, devido, certamente, à influenciações que já em sua época grassavam a eventuais preconceitos quanto à forma e conteúdo, e sua humildade em reconhecer-se pequena ante a grandeza da Obra Divina, faz compreender algumas citações, que acreditamos serem desnecessárias. Para comparações eventuais, ao assunto que nos referimos, não lemos em nenhuma obra a ressalva que Cairbar Schutel, Bezerra de Menezes, Eurípedes Barsanulfo eram brancos. Esses baluartes do Bem trabalhavam em nome do Cristo de forma impressionante, a despeito de sua condição social e raça. Simplesmente trabalhavam.

Mais adiante, de forma brilhante, a saudosa médium, trata junto ao Espírito José Evangelista, a forma como esta Entidade Benemérita resolvera a questão do Espírito Pedro, tocando pelo viés artifício:

“Caro irmão José Evangelista – comecei – o Sr. Entende por verdadeiramente lícita, perante os códigos espirituais, a farsa da compra da propriedade do nosso Pedrinho, para obrigá-lo a sair dela? – pois sinceramente acredito, com Allan Kardec, que todos nós, experimentadores espíritas, temos o direito de procurar instruir-nos com os Espíritos que nos honram com suas atenções, visto que a própria Doutrina Espírita nos faculta tal direito, para que as dúvidas não persistam obumbrando nosso raciocínio.”

Legitimamente, a médium, em meados do século XX demonstrava preocupação com a prática da “farsa” muito comum nos casos de desobsessão, seja no Espiritismo (Kardecismo), seja na Umbanda, seja até mesmo nas Igrejas Protestante e Católicas, conforme temos por relato de Entidades que trabalham nessas Searas.

“Responderei a sua pergunta depois que a senhora me disser como entende a questão da Caridade e me indicar que ‘propriedade’ nosso amigo Pedro possuía, sendo Espírito desencarnado...” Mais adiante, o sábio Espírito prosseguiu, elucidativo: “- Sim, pode ser isso também, mas é muito, muito mais do que isso, porque a Caridade é Amor e o Amor é infinito e indefinível. Então, pois, a ‘farsa da compra’ não foi Caridade, segundo minhas próprias possibilidades, para com nosso amigo Pedro? Não foi Caridade com o pobre ‘C’, chefe de família carregado de responsabilidades, necessitando trabalhar para manter os seus, e que havia três meses que sofria os terríveis reflexos das vibrações negativas daquele cujo corpo físico tombara com um câncer generalizado? Não foi Caridade com o próprio Pedro, livrá-lo da fixação mental nesse câncer, que o fez desencarnar há tanto tempo, mas sua lembrança o afligia ainda, conservando-o imaginariamente doente? Não foi Caridade com a família de ‘C’, que sofria por vê-lo sofrer e temendo o desenlace do corpo carnal, e que se fatigava nas lides e peripécias que a grave enfermidade do seu chefe arrastava? E não foi Caridade também com a senhora, que se esgotava fisicamente nos serviços de ajuda ao enfermo e aos labores domésticos, e à noite continuava a se esgotar mental e psiquicamente, no penoso contacto com uma entidade endurecida nas próprias opiniões, enredada em distúrbios mentais provindos da amargura do ódio e do agarramento à matéria? Com a senhora, incumbida de ensiná-lo a amar e perdoar, dedicando-se a ele com paciência maternal, e que levou cerca de dois meses nesse penoso trabalho, quando outras tarefas lhe competiam junto a outros sofredores, talvez mais graves do que o mesmo Pedro? Às vezes, minha filha, nós, os servos desencarnados, nos vemos na contingência de nos valermos de ‘farsas’ desse tipo para impedir que o mal se alastre, provocando crises imprevisíveis, e para preparar o ensejo de o amor resplandecer e a verdade se manifestar, reeducando o ignorante.”

A ‘farsa’ conforme elucidou o Espírito José Evangelista é um meio muito empregado, e como escrito acima, nas Casas de Religião em geral. Dificilmente, um encarnado participa ativamente delas e Yvonne Pereira é um caso especial, trazendo à baila, ainda nos distantes anos 60 (década de publicação desta obra, e salientamos, que este caso talvez tenha acontecido em período anterior), essa temática assaz importante nos dias de hoje. A Espiritualidade Superior, em seus programas de Caridade, dispõe de um vasto leque de opções, enquanto o Astral Inferior também detém suas formas de obsessão. Cumpre-nos entender essa verdade e auxiliar ao máximo os Benfeitores, comprometendo-nos no exercício irrestrito de amar ao próximo, com Instrução e Reforma Íntima.

X

Concluímos esse modesto estudo, acima de tudo, agradecendo pelo legado que a sensível Yvonne do Amaral Pereira nos deixou seu exemplo de Amor e persistência no Bem. Observamos que nos dias de hoje, essa saudosa médium seria confundida, caso seu nome fosse omitido e chamado de ‘X’. Nesse caso, pelas suas histórias narradas nos livros, seria facilmente considerada médium de Umbanda ou de algum segmento Espiritualista, ficando o Espiritismo “Kardecista” fora de cogitação, conforme foi constatado em algumas oficinas de estudo, onde assim se procedeu. Entendamos que Yvonne pouco se preocupava com rótulos, trabalhando tão somente na Caridade Cristã. Na verdade as raras vezes que essa doce seareira da Luz se voltou para roupagens superficiais, foi conduzida a reflexão produtiva pelos Amigos Espirituais, como vemos ao longo do presente estudo. Não foi por acaso que essa senhora lidou com vasta gama de Espíritos, conhecendo suas Falanges variadas, e seus registros na forma de livros, postos à público através das décadas, são preciosos e devem ser sempre estudados, refletidos. As linhas que a querida Yvonne trouxe à matéria terrena é livre de dogmas, permeada pelo sentimento de Humanidade Fraterna, eloqüente, cheia de informações preciosas para nosso crescimento moral, livre de preconceitos, cismas, entraves religiosos, ou seja, totalmente condizentes com as máximas do Cristo.




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Um comentário:

  1. Sensacional estas observações. Ler somente não basta, realmente é preciso OUVIR nas entre linhas.
    Rogerio Mafra

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