segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Fala, Kardec!



Terceiro Diálogo – Um livre pensador

Do Livro “O Que é o Espiritismo” de Allan Kardec

Um livre pensador – Tendes proclamado, a toda hora, a liberdade de pensamento e de consciência, e declarado que toda crença sincera é respeitável. O materialismo é uma crença como qualquer outra; por que não gozaria ele da liberdade que concedeis a todas as outras?

Allan Kardec – Cada um é, seguramente, livre para crer no que lhe agrada, ou para não crer em nada, e não desculparíamos mais uma perseguição contra aquele que crê no nada depois da morte, que contra um cismático de uma religião qualquer. Combatendo o materialismo, nós atacamos, não os indivíduos, mas uma doutrina que, se é inofensiva para a sociedade quando se encerra no foro íntimo da consciência de pessoas esclarecidas, é uma calamidade social, se ela se generaliza.
A crença de que tudo termina para o homem depois da morte, que toda solidariedade cessa com a vida, o conduz a considerar o sacrifício do bem-estar presente em proveito de outro como uma intrujice; daí a máxima: cada um por si durante a vida, uma vez que nada há além dela.
A caridade, a fraternidade, a moral, em uma palavra, não têm nenhuma base, nenhuma razão de ser.
Por que se mortificar, se reprimir, se privar hoje quando, amanhã talvez, não existiremos mais?
A negação do futuro, a simples dúvida sobre a vida futura, são os maiores estimulantes do egoísmo, fonte da maioria dos males da Humanidade.
É preciso uma virtude bem grande para se deter sobre a inclinação do vício e do crime, sem outro freio além da força da vontade.
O respeito humano pode conter o homem do mundo, mas não aquele para o qual o temor da opinião pública é nulo.
A crença na vida futura, mostrando a perpetuidade das relações entre os homens, estabelece entre eles uma solidariedade que não termina no túmulo;
ela muda, assim, o curso das idéias.
Se essa crença fosse apenas um espantalho, seria temporária;
mas como sua realidade é um fato adquirido pela experiência, ela está no dever de a propagar e de combater a crença contrária, no interesse mesmo da ordem social.
É isso o que faz o Espiritismo, e com sucesso, porque dá as provas, e porque, em definitivo, o homem prefere ter a certeza de viver feliz em um mundo melhor, como compensação às misérias deste mundo, do que crer estar morto para sempre.
O pensamento de se ver aniquilado para sempre, de crer os filhos e os seres que nos são caros, perdidos sem retorno, sorri a um bem pequeno número, crede-me;
por isso os ataques dirigidos contra o Espiritismo em nome da incredulidade têm tão pouco sucesso, e não o abalaram um instante.

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