sábado, 24 de dezembro de 2016

Jesus não tem onde repousar a cabeça



 Autor Thiago D. Trindade

Nessa passagem, ligeiramente adaptada do livro de Mateus (8: 20), lembramos, mais uma vez, do imensurável Amor que Jesus tem por nós. Ele, que acompanhou o processo de criação de nosso planeta, vem trabalhando incansávelmente para que esse mundo de provas e expiações possa modificar-se num lugar de regeneração.

Mas Jesus não tem onde reclinar a cabeça.

Ainda no ventre de Maria, o Mestre sofreu as agruras da fuga do terrível Herodes, passando por privações. José, o valoroso carpinteiro, que enfrentava o temor e o desconhecido armado somente com sua Fé e seu cajado, certamente não fazia idéia total da importância de seu protegido ainda não nascido.

Nem mesmo a pequena e doce Maria, sobre o velho jumento, deveria fazer uma idéia de que o Excelso Governador acompanhava seu drama e o de seu esposo naquela fuga desesperada.

Jesus nasceu, pois, entre os simples animais de fazenda e os paupérrimos pastores em algum lugar perdido no tempo implacável.

No exílio, Jesus cresceu tendo como pais e tutores José e Maria, que o ensinaram, através de exemplos, a ser um homem de bem, mesmo fazendo idéia da grandeza que aquela criança sorridente possuía.

Foi ainda na infância que Jesus, como assinala Lucas (2:46-48), se voltou para os doutores da lei na sinagoga e, com a doçura típica das crianças, ensinou-lhes sobre muitas coisas.

Lembremos que judeus possuíam o livro sagrado, chamado Torá, e nessa obra, que data dos tempos de Moisés, há a passagem do bezerro de ouro (Êxodo, 32: 2-6). Esse bezerro fora feito pelos seguidores de Moisés, através das mãos de Arão, seu auxiliar, quando o líder se encontrava no Monte Sinai. Com o objeto de adoração, os homens esqueceram-se de Deus. A ira de Moisés, ao regressar, foi tamanha que sangue verteu sobre a terra (Êxodo, 32: 27 e 28). Jesus, conhecedor dessa tradição, guardou-a consigo.

Mais velho e acompanhado pelos Doze, Jesus invadiu a sinagoga e lá enfrentou os vendilhões que lá negociavam (Mateus, 21: 12 e 13).

O bezerro e os vendilhões são correlatos. Nós criamos bezerros de ouro e somos os vendilhões.

Em nosso coração criamos os tais bezerros dourados através de nosso orgulho, em honra ao “deus Ego”, e o polimos sempre que rejeitamos os Ensinos do Mestre.

Negociamos Deus todas as vezes que trocamos o Amor Universal pelas paixões mundanas expulsando o Cristo de nosso Templo Interior.

Mas Jesus não tem onde reclinar a cabeça.

Em seu trabalho incansável, Jesus caminhava solitário na matéria, durante sua trajetória na Terra.

Seus seguidores, propositalmente escolhidos dentre os mais humanos do canto mais pobre do Império Romano: pescadores, prostitutas, publicanos... E mais, estes não apresentavam condições de auxiliá-Lo. Os discípulos deviam antes fortalecer suas bases morais com os fracassos das provas enquanto Jesus ainda estava ao seu lado, para que pudessem vencer quando o Mestre viesse a faltar materialmente.

E como os discípulos falharam! Ao curar os doentes; ao caminhar sobre o mar; ao manter a serenidade ante as adversidades...

Docemente, porém com energia, Jesus aparou as arestas de seus prepostos em tempo hábil. Sabia que quando chegasse a hora seus pupilos estariam fortes o suficiente para mudar o mundo em nome do Pai.

Com o tempo, sabia o Cristo, outros seriam convocados ao Serviço, como Zaqueu, Estevão, Saulo e tantos outros.

Após o Gólgota, Jesus continuou a trabalhar por nós, estimulando e corrigindo. Estava – e está – sempre junto de seus irmãos mais jovens, mesmo aqueles que deliberadamente O rejeitam.

Suas sandálias continuam gastas.

Suas vestes continuam surradas.

Jesus ainda não tem onde repousar a venerável cabeça.

Seu trabalho é lento e consistente. Jesus fundamenta seu trabalho na Paciência e na forma mais perfeita de Amor: o Perdão.

Jesus é o Grande Médico e também o Sublime Professor.

Como Médico, nos oferece o medicamento do Esclarecimento. O bálsamo capaz de curar as feridas do nosso Espírito imortal.

Como Professor, nos dá condições para enfrentar as provas, ou desafios, que com o uso do medicamento nos faz crescer e caminhar na direção do Pai Maior.

Somente quando nós transmutarmos o bezerro de ouro que habita dentro de nós em um torrão de terra fértil cheio de flores e doces frutos – que por sua vez irão ajudar outros torrões a florescerem – é que Jesus poderá repousar sua excelsa cabeça.

Somente quando nós abrirmos nosso Templo Interior para o Cristo e expulsarmos nossos vendilhões, Jesus poderá repousar sua excelsa cabeça.

Somente quando nos reconhecermos verdadeiramente como enfermos e usarmos o Medicamento que o Grande Médico nos oferece, e, vencermos as Provas que temos de atravessar com o auxílio do Sublime Professor, é quando Jesus poderá descansar sua excelsa cabeça.

Façamos nossa parte e sigamos os passos do Mestre, deixados nas areias de nossos corações e atinjamos o oásis da Felicidade.

Imaginemos o dia em que o Mestre poderá repousar sua excelsa cabeça sob a fresca e frondosa copa de uma bela árvore e suspirar de satisfação pelo dever cumprido.

E nós, seus irmãos mais novos, velaremos por Ele da mesma forma que Ele tem feito por nós há incontáveis séculos.


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