sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Fala, Kardec!


Segundo Diálogo - O Céptico IX - Oposição da Ciência
Do Livro “O Que é o Espiritismo” de Allan Kardec.

Visitante – Muito bem, eis um sábio que raciocina com sabedoria e prudência e, sem ser sábio, penso como ele. Mas anotai que não afirma nada: ele duvida. Ora, sobre o que basear a crença na existência dos Espíritos e, sobretudo, na possibilidade de comunicação com eles?

Allan Kardec – Essa crença se apóia sobre o raciocínio e sobre os fatos.
Eu mesmo não a adotei senão depois de um maduro exame.
Tendo adquirido, nos estudos das ciências exatas, o hábito das coisas positivas, eu sondei, perscrutei essa nova ciência em seus detalhes mais ocultos.
Eu quis conhecer tudo, porque não aceito uma idéia senão quando lhe conheço o porquê e o como.
Eis o raciocínio que me fez um sábio médico, outrora incrédulo, e hoje adepto fervoroso:
"Diz-se que os seres invisíveis se comunicam; e por que não?
Antes da invenção do microscópio, supunha-se a existência desses bilhões de animálculos que causam tantos prejuízos na economia?
Onde está a impossibilidade material de que haja no espaço seres que escapam aos nossos sentidos?
Teríamos por acaso a ridícula pretensão de tudo saber e de dizer a Deus que ele nada mais nos pode ensinar?
Se esses seres invisíveis que nos cercam são inteligentes, por que não se comunicariam conosco?
Se eles estão em relação com os homens, devem desempenhar um papel na vida, nos acontecimentos.
Quem sabe? pode ser uma das forças da Natureza, uma dessas forças ocultas que não supúnhamos existir.
Que novo horizonte isso abriria ao pensamento!
Que vasto campo de observação!
A descoberta do mundo dos seres invisíveis seria diversa da dos infinitamente pequenos; isso seria mais que uma descoberta, seria uma revolução nas idéias.
Que luz pode dela jorrar!
quantas coisas misteriosas seriam explicadas!
Aqueles que crêem nisso, são ridicularizados; mas o que isso prova?
Não ocorreu o mesmo com todas as grandes descobertas?
Cristóvão Colombo não foi repelido, coberto de desgostos e tratado como insensato?
Essas idéias, diz-se, são tão estranhas que nelas não se pode crer.
Mas, àquele que tivesse dito, há somente meio século, que em alguns minutos poder-se-ia corresponder de uma parte à outra do mundo; que em algumas horas, atravessar-se-ia a França; que com o vapor de um pouco de água fervente um navio avançaria contra o vento; que se tiraria da água os meios de se iluminar e aquecer; que tivesse proposto iluminar toda Paris em um instante com um só reservatório de uma substância invisível, teria sido caçoado. É, pois, uma coisa mais prodigiosa que o espaço seja povoado por seres pensantes que, depois de terem vivido sobre a Terra, deixaram seus envoltórios materiais?
Não se encontra nesse fato a explicação de uma multidão de crenças que remontam à mais alta antigüidade?
Semelhantes coisas bem que valem a pena serem aprofundadas."
Eis as reflexões de um sábio, mas de um sábio sem pretensão, e que também o são de uma multidão de homens esclarecidos que viram, não superficialmente e com prevenção, e estudaram seriamente sem tomarem partido, mas que tiveram a modéstia de não dizer: eu não compreendo, portanto, isso não é verdade.
Sua convicção formou-se pela observação e pelo raciocínio.
Se essas idéias fossem quiméricas, pensais que todos esses homens de elite as teriam adotado? que tivessem estado muito tempo vítima de uma ilusão?
Não há, pois, impossibilidade material à existência de seres invisíveis para nós e povoando o espaço, e só essa consideração deveria levar a uma maior circunspecção.
Há pouco tempo, quem poderia pensar que uma gota de água límpida poderia encerrar milhares de seres de uma pequenez que confunde nossa imaginação?
Ora, eu digo que era mais difícil à razão conceber seres de uma tal pequenez, providos de todos os nossos órgãos e funcionando como nós, que admitir aqueles que nós nomeamos Espíritos.

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