terça-feira, 10 de junho de 2014

Intolerância




Autor Thiago D. Trindade

Recentemente, um juiz federal do estado do Rio de Janeiro esqueceu-se que é garantido por Constituição Federal a liberdade de culto e a opção religiosa. Declarou, o douto magistrado, que duas religiões legitimamente brasileiras, Umbanda e Candomblé, não são, para espanto geral, religiões. Uma das argumentações do magistrado, evidentemente assoberbado por processos de sua atribuição, é que tanto a Umbanda, quanto o Candomblé não possuem hierarquização ou livro sagrado. Bem, entendamos por hierarquização, a situação em que indivíduos sejam submetidos, ou inseridos, a uma gradação social, para que esta possa funcionar.

Nessas duas religiões percebe-se claramente a existência de hierarquia central, através das mães e pais no santo, cambonos, ogãs, ekedis, capitães de terreiro, etc; e a administração maior de cada núcleo religioso cabe ao dirigente, chamaso de Babalaô, Babalorixá, Yalorixá, ou carinhosamente de Pai ou Mãe. E o livro sagrado? O tal Código Divino? Não conhecemos nenhum Umbandista ou Candomblecista que não reconheça o Evangelho do Cristo, a quem muitos chamam respeitosamente de Oxalá, como caminho para evolução Moral.

A Constituição de 1988 fala algo sobre? Aliás, a perseguição governamental brasileira acabou em 1941 por determinação de Getúlio Vargas. Mas continuemos.

O tal juiz federal esqueceu-se do Espiritismo, dito por muitos como Kardecismo, onde não há pai ou mãe no santo, mas presidente, diretor, secretários, com as mesmas funções de criar condições de crescimento Moral para o grupo a qual está materialmente representado.

Lembremos que nomes e títulos são dados por aqueles que assim o desejam, de acordo com seu entendimento.

As Igrejas Protestantes, que insistem preconceituosamente se chamar de evangélicas, estão no mesmo bojo, com seus pastores, diáconos e missionários. Hoje, eu e você que lê, podemos abrir uma Igreja Neo Pentecostal e um de nós dois sermos o Bispo (ou Bispa) Supremo da Igreja Sacrossanta dos Raios e Trovões da Divina Luz do Nascituro Boníssimo de Belém,e instaurarmos como código divino somente as sanguinolentas páginas do Deuteronômio e do Êxodo.

Talvez, o preocupado juiz federal, tenha se referenciado no Papa Católico, único em sua religião, o Catolicismo Apostólico Romano. Talvez, embora creia que nosso personagem judiciário tenha vínculo com uma igreja eletrônica com planos salomônicos de grandeza. Mas o próprio Papa diz que mandar sozinho não é correto e sua retumbante infalibilidade é irreal.

Prossigamos essa ácida reflexão.

Por que o juiz federal não lembrou do Espiritismo, que não tem cacique terreno (no contexto de líder máximo), e das Igrejas Protestantes, além do Judaísmo, Budismo, Xamanismo, Wiccanismo, fundamente assentados, graças à Deus, no Brasil? Seria só intolerância religiosa, ou intolerância ao histórico social de duas religiões brasileira, surgidas dentre os mais pobres da sociedade, e que vem aumentando seus adeptos nos setores mais esclarecidos?

O Espírito benfeitor Humberto de Campos , no livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, alerta para a herança espiritual que Jesus outorgou à Terra do Cruzeiro. Mas embora a maioria de brasileiros sejam, de fato, evangélicos (Protestantes, Católicos, Espíritas, Umbandistas, Candomblecistas, etc), ou seja, que reconhecem as Luzes do Evangelho do Cristo, estamos à beira do caos religioso, onde falsos profetas se esquecem que os Cristãos seriam reconhecidos, somente, por muito se amarem, e tais “líderes” incitam seus seguidores contra aqueles que são de outro credo.

Estamos vivendo períodos inquisitoriais. É normal ouvirmos nas ruas louvores protestantes, mas quando uma melodiosa canção espírita, ou uma canção que relembra bucólicamente a vivenda de um caboclo, xingamentos são lançados e amizades chegam ao fim

O próprio tal juiz federal, amparado por sua associação de pares, disse que voltara atrás na decisão, mediante clamor popular, mas certamente, os documentos estão guardados em alguma gaveta, esperando momento mais propício.

Estamos, enquanto Sociedade, intolerantes. Outro dia uma mulher foi espancada até à morte porque foi confundida com uma criminosa. E foi exibida, destroçada e agonizante pelas ruas, como os césares da Velha Roma faziam com seus vencidos, há milhares de anos. Só faltaram queimar a casa da pobre mulher e salgar o terreno.

Dois homens, em 2013, foram espancados por um bando de jovens desocupados, que alegaram que a dupla era de homossexuais. Eram, na verdade, pai e filho que andavam abraçados. E, se fossem homossexuais, seria justificável o espancamento? Claro que não!

Estamos, atualmente, cheio de guardiões da Moral e dos Bons Costumes. Dizem que são apóstolos do Cristo. No entanto, estão em serviço contrário ao Cristo, porque não amam o seu próximo.

Perdem tempo julgando, atacando, agredindo.

Temos de parar com isso! Temos que crescer, de fato. E crescer significa não julgar, não atacar, não agredir!

Temos que fazer nossa parte que é Amar o Próximo. Somente assim seremos, de fato, dignos de sermos chamados de Cristãos.

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