sábado, 21 de janeiro de 2017

Feudos



Autor Thiago D. Trindade


Muitas vezes recebemos o encargo de ser responsável por alguma atividade, seja de ordem simples, seja de ordem complexa, envolvendo, talvez, o auxílio de terceiros.

O ego queima luminoso – em muitos casos – e a pessoa, sem perceber, se localiza diante de um precipício.

“Fui talhado para isso”, alguns afirmam com soberba.

Pode ser realmente. Compete, segundo o cronograma de resgate, determinada atividade. Mas o real mérito não está em meramente cumpri-la, mas sim em executá-la com Humildade, Comprometimento e, sobretudo, Fraternidade.

É uma prova difícil, portanto.

Infelizmente, muitos caem na postura inflexível de um senhor feudal, detentor absoluto da região em que habita, ou no caso, da atividade que deveria ajudar em seu próprio resgate.

Com surdez seletiva, que funciona quando há crítica construtiva, mas que desaparece mediante as idéias ácidas e comprometedoras que só fazem atrasar a Caminhada.

Mais ainda, tal como o senhor feudal encastelado, o dirigente acredita piamente que lhe desejam, a todo custo, roubar-lhe o lugar. É claro que há encarnados e desencarnados interessados em por fim à atividade do tarefeiro. Mas os adversários, inteligentes, não pretendem remover ninguém de seus postos. Pelo contrário. Insuflam o ego do tarefeiro e assim comprometem algo muito maior do que o próprio dirigente: a atividade em si.

Com a Humildade em reconhecer-se endividado e buscando atingir a Bem Aventurança, o tarefeiro sempre deve autoavaliar-se, ou seja, sair do castelo. Não para o condenado duelo, mas para avaliar se não precisa de novas lições.

E sempre precisa!

É muito difícil para o tarefeiro entender isso, por mais paradoxal que possa parecer. Mas é a realidade.

O dirigente muito trabalha, é muito exigido dele, restando pouco tempo para refletir sobre si próprio. Afinal, se é o dirigente, que mais “sabe”, deve ser ensinar, certo?

Não.

O dirigente, em sua esmagadora maioria neste mundo de provas e expiações, é o mais necessitado perante a Lei.

Por conta da aura do “senhor feudal”, encontram, os auxiliares, dificuldade se achegarem do “comandante” e fazer o saudável alerta. Afinal, o inseguro tarefeiro líder poderia – e vai – pensar que querem tomar seu lugar.

Refazimento deve ser a palavra de ordem.

Refazer-se sempre em busca da Perfeição.

Refazimento, aliás, implica em Recolhimento e Reflexão.

Em todas as situações, até quando as situações caminham conforme o planejado, deve-se refletir nas ações e na forma de observar a si e o que está à sua volta.

Se os textos bíblicos fazem alusão ao Dia do Descanso, no caso do povo judeu, ao sábado, porque ele é fundamental para a existência do Caminheiro.

Até os Espíritos, conforme assinala André Luiz e várias obras de sua autoria, como vemos, por exemplo no capítulo 45 de Nosso Lar (editora FEB, 1997, 46° edição, 281 páginas), precisam refazer-se dos trabalhos que executam. Mas esse descanso não é ócio, pelo contrário, é o momento para novos aprendizados e reflexões.

Cada um tem seu limite orgânico e mental, e, infelizmente o forçamos, muitas vezes desnecessáriamente, para nosso próprio prejuízo. Caminhamos para o desastre da empreitada, que é a Missão individual de cada um.

Deixemos, pois, o feudalismo para os livros da História Medieval. Não somos absolutos em nada.

Atravessemos as muralhas do ego e busquemos os campos da Humildade.

Nos campos da Humildade, plantemos Perseverança.

Com Fé irrigaremos e com Perdão adubaremos.

Com Paciência saudemos os frutos da Sabedoria.

Alimentados pela Sabedoria, estaremos nutridos de Amor e então teremos força para contemplar o Céu.




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