quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Degustação de obra - O perdido (Livro Contos de Redenção)






Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus.” Mateus 5:10





Não sabia por onde caminhava. Seus passos trôpegos o levaram a uma região sombria da cidade. Seus pensamentos, permeados por rancor, queimavam dolorosamente. Henrique chutou um velho cão e jogou nele a garrafa vazia. Mataria também aquele animal.

O cachorro, ao ver a pedra que Henrique tomara em suas mãos, se encolheu. Sabia que não tinha chance.
- Não acha que por hoje chega de tormento? Indagou uma voz doce, vindo de trás do homem, e era ela cheia de vivacidade.

Automaticamente o homem baixou a pedra. Seus olhos ébrios divisaram uma velhinha de aspecto frágil sorrindo para ele.
- Suma daqui velha! Gritou Henrique.
- De que adianta eu ir embora? Volveu a velha.

Henrique sacudiu a pedra na direção da senhora, que não se intimidou.
- O que aconteceu com você, meu filho? Perguntou a velhinha.
- Pra quê quer saber?! Exclamou o homem.
- Contando sua dor – disse a velha – se sentirá melhor.

A idosa se aproximou de Henrique e tomou-lhe a pedra. Acenando para o cachorro, a mulher tranqüilizou o pobre animal, que lambeu-lhe os pés e sumiu na rua mal iluminada.
- Está muito longe de casa rapaz. – disse a estranha com firmeza – por quê?

Henrique estava confuso. O álcool no organismo fervilhava ainda mais sua revolta. Havia respingos de sangue em sua camisa.
- Você trabalha para a polícia, por acaso? Desdenhou o homem.

A idosa fitou o céu escuro. Uma lágrima rolou em sua face enrugada. Suas delicadas mãos pegaram as de Henrique.
- Fui traído. – disse Henrique quase num sussurro – roubado. Meu sócio, Raul, a quem amava como a um irmão, tirou de mim o restaurante que tínhamos. Não satisfeito, roubou minha mulher... Tirei-lhe, então, a vida podre que ele tinha!

Irrompendo em lágrimas, Henrique gritou e terrível era o sofrimento dele.
- Não consegui matar Joelma, aquela ordinária! – disse o homem puxando os cabelos – deixei-a gritando, enquanto via seu amante sangrar na minha faca!
- Filho meu! – retrucou a velha com vigor – um erro não pode justificar outro! Crime terrível, filho!
- Sempre fui trabalhador – continuou o outro – respeitava meu amigo e minha esposa. Como eles puderam fazer isso comigo?!
- Eles fraquejaram no teste da Verdade, assim como você – a idosa acariciou a fronte atormentada do homenzarrão que poderia esmagá-la facilmente – cada um errou na sua proporção. E todos vocês colherão uma colheita amarga.
- Lavei minha honra. Asseverou Henrique.
- E sangue limpa? – retrucou a outra – sangue derramado por rancor e ódio não limpam nada. Só o sangue do sacrifício redime!
- Volte para sua igreja! Vociferou o homem.
- Minha igreja está aqui! Atalhou a mulher, com determinação.

Henrique se livrou das mãos da velha. Sua mente girou e seus pés se atrapalharam. Indo ao chão de paralelepípedos, o assassino esfolou o rosto e as mãos.
- Todos nós temos nossa cota de sofrimentos. – disse a velha com brandura – são essas dificuldades que nos fazem fortes. Ao vencer o sofrimento, vencemos a nós mesmos e progredimos.
- Não tinha razão para ser humilhado como fui! Insistiu Henrique.
- Será mesmo? Perguntou, de forma enigmática, a mulher.

Se Henrique tivesse plena capacidade motora, teria partido a velha ao meio com as mãos nuas. Mas ele continuava zonzo, enquanto a anciã falava.
- E então, filho? Indagou a idosa.
- Não sei! Gritou o outro.
- Somos aquilo que fazemos e nada é por acaso. – disparou a velha – todos nós somos alvo de coisas boas e más, mas somente nosso arbítrio pode dar a palavra final. Você errou com aqueles dois. Entenda que todos vocês ....... 

LEIA O FINAL DESTE CONTO EMOCIONANTE EM “Contos de Redenção”, comercializado em prol do Asilo e Creche Seara de Luz.

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