sábado, 30 de maio de 2015

Degustação de obra - O Lavrador (Livro Contos de Redenção)




O lavrador


“O Reino dos Céus é semelhante a um tesouro oculto no campo, o qual certo homem, tendo-o achado, escondeu. E, transbordante de alegria, vai vende tudo que tem e compra aquele campo.” Mateus 13: 40





O sol estava escaldante. O suor escorria por seu rosto marcado que teimava manter-se altivo. Um meio sorriso estava estampado em sua boca ressequida e seus olhos se voltavam para a terra seca que suas mãos teimavam em lavrar. Assim Josué seguia, dia após dia.

Naquela ocasião, porém, foi diferente. Um rapaz, guiando um grande carro importado, veio levantando uma grossa cortina de poeira que se erguia na direção do infinito. O motorista era o filho de um rico fazendeiro. Dirigindo de forma perigosa, Evandro bateu com o pneu do jipe em um buraco, fazendo-o estourar. Proferindo palavrões, o jovem saiu do ar refrigerado do automóvel e sentiu a força do sol em seu rosto pálido. Os óculos escuros pareciam impotentes ante à luz do astro rei.

De forma inexplicável, os olhos de Evandro pousaram na figura do velho Josué, que trabalhava a terra alheio a confusão do jovem.
- Ei velho! Gritou o jovem, de forma arrogante.

Lentamente Josué ergueu a cabeça. Sua audição já não era a mesma e parecia que tinha ouvido, ao longe, alguém falando. Divisou o jovem de roupas extravagantes gesticulando para ele. Ajeitando o chapéu no alta da cabeça manchada pelo sol, Josué deu um sorriso desprovido de dentes e acenou para o rapaz. Com passos largos, o lavrador chegou até o impertinente Evandro.
- Sou filho do senhor Luciano – disse o rapaz, arrogante – eu preciso que você troque o pneu do meu carro.
- Troco sim, moço – respondeu o velho – eu posso ajudar você, pela graça de Deus.

Com alguma dificuldade, Josué trocou o pneu. Evandro, porém, praguejava contra a lentidão do velho. O trabalho, por fim, foi feito. Retirando algumas notas do bolso, o jovem as estendeu para o idoso.
-Não posso aceitar, moço – retrucou o lavrador, balançando a cabeça com firmeza – não se cobra por ajudar alguém em precisão. Eu sei que se o moço estivesse bem, poderia ter trocado a roda sozinho.

Evandro amassou as notas. Sentia-se ultrajado. Como aquele velho miserável ousava recusar seu dinheiro e ainda chamá-lo de necessitado?
- Velho – resmungou o filho do fazendeiro – o sol fritou seus miolos. Estou lhe pagando por um serviço.
- Não se cobra pelo serviço de ajudar um filho de Deus – asseverou o outro – eu é que agradeço.

Evandro gargalhou. Definitivamente o ancião era louco.
- Está certo então, velhinho – disse o rapaz – vou embora. Fique nesse seu deserto, comendo pedras e poeira. Imagino que não saberia o que fazer com esse dinheiro.

Josué sorriu. Estendeu a mão duras e magra para o jovem. Evandro a tomou. Sentiu a força que ainda restava no velho.
- O que te sustenta, filho? Indagou o ancião.
- O quê? Devolveu Evandro, surpreso.
- O que faz você caminhar? Insistiu Josué.

Evandro não sabia o que responder. Que perguntas eram aquelas? Era seu pai quem o sustentava. Era Luciano quem sustentava todo seu modo de vida.
- Quem é você, velho, para se meter na minha vida? Disparou Evandro, num rompante.
- Ninguém – respondeu o velho baixando a cabeça – só gostaria de saber quem você é.
- Já não disse quem é meu pai?! Esbravejou o rapaz.
- Mas não disse quem você é – insistiu o lavrador – veja, eu sou Josué. Eu lavro a terra. Bendigo a Deus pelo meu trabalho e a riqueza que possuo.
- Riqueza?! – gargalhou Evandro – um campo seco?
- O que vê são pequenices, filho – asseverou Josué, com simplicidade – eu almejo uma grande riqueza. Para consegui-la, tenho de empregar os bens que Deus me emprestou...
- Você está gagá mesmo! Riu o outro.

Josué sorriu. Seus olhos, esbranquiçados pela catarata, se dirigiram para o carro de Evandro. O moço percebeu e alisou o capô do automóvel.
- Esse é um patrimônio, amigo – disse Evandro – meu carro é um bem que satisfaz. Isso é riqueza!
- Certo moço – continuou o outro – mas é uma riqueza pequena. Tudo o que nós pegamos, que nós vemos até, é pequeno! O verdadeiro tesouro nós sentimos!
- Balela! Negou o jovem.
- Tudo o que nos faz caminhar par a Verdade é justamente a vontade de amealhar a riqueza do sentimento nobre. E quem não é a Verdade senão Deus?
- Conversa de carola, vovô... Provocou o jovem rico.
- Conversar é pouco também – prosseguiu Josué animado – é necessário pegar na enxada e trabalhar na terra bruta. Encarar a terra teimosa. É um serviço que muitos pensam ser ingrato. Mas com paciência e carinho a terra se torna o berço de uma linda árvore que renderá doces frutos.
- Você acredita mesmo que vai tirar alguma coisa dessa terra esturricada? Indagou Evandro fitando o deserto.
- Acredito piamente nisso. – respondeu Josué com doçura quase palpável – a fé de meu coração me dá força para lavrar a terra seca.

Evandro contemplou o campo árido. Nuvens de poeira se levantavam. Sentiu pena do velho.
- Vovô, posso lhe arranjar um trabalho na fazenda do meu pai – o rapaz deu um meio sorriso – irá trabalhar menos e comer melhor com o salário que vai receber.
- Não obrigado – sorriu Josué, e aquele... 


LEIA O FINAL DESTE CONTO EMOCIONANTE EM “Contos de Redenção”, comercializado em prol do Asilo e Creche Seara de Luz.

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