sábado, 8 de novembro de 2014

Degustação de obra - O jesuíta e o pajé (Livro Contos de Redenção)



O Jesuíta e o Pajé


“Por isso vos digo: O Reino de Deus ser-vos-á tirado e será confiado a um povo que produzirá os seus frutos.” Mateus 21: 43



O pajé sentou-se diante do jesuíta. O interesse do velho índio ocorrera por conta de um pequeno curumim que falara em um homem morto em sacrifício e que depois surgira entre seus companheiros três dias depois. Em seguida, este estranho homem voara para o céu e desaparecera entre as nuvens.
- Que bom que vieste conhecer Deus! Exclamou o jesuíta que atendia pelo nome de Ubaldo.
- O senhor é Deus? Perguntou o pajé, arregalando os olhos, na lingua geral dos índios.
O jesuíta segurou a cruz de madeira e falou alguma coisa numa estranha língua que não era a mais usada pelo homem branco, que o antigo pajé compreendia um pouco. O gordo homem voltou-se para a grande cruz dourada no altar e resfolegou.
- Não sou Deus. – retrucou o português – sou o jesuíta Ubaldo. Estou aqui para salvar sua alma, apesar de muitos na Igreja afirmarem que vocês não as têm.
O pajé Akuan observou a feia taba de barro batido que os brancos tinham erguido e as achou escuras demais, além de frágeis. Em respeito ao jesuíta, o índio desviou seu olhar das paredes, já que não queria dizer a Ubaldo o que pensava da morada dele, caso fosse perguntado.
- Filho de Deus – prosseguiu o sacerdote – tudo que vemos é Obra de Deus. O sol, a lua, o mundo! Nós somos filhos de Adão e Eva, que foram expulsos do Paraíso...
O jesuíta então contou ao pajé sobre muitas coisas inseridas no grande livro chamado Bíblia. O índio, imóvel, prestava respeitosa atenção. Às vezes, o velho pajé, arqueava as sobrancelhas marcadas e pensava que algumas informações não possuíam o menor sentido.
Ubaldo, por sua vez, nunca tivera um ouvinte tão comportado e silencioso. A empolgação tomou conta do sacerdote e este logo narrou as batalhas que a Cristandade travara nos desertos longínquos e poeirentos em torno de de um lugar chamado Jerusalém.
- Falei muito hoje das histórias de Deus. – proferiu Ubaldo, solene – rezemos, pois, a mais divina das orações e amanhã continuaremos a sua caminhada para Deus.
- Pai Ubaldo – disse Akuan – vim aqui para ouvir sobre o Homem da Cruz, que se assemelha ao nosso Yurupari e você falou sobre Deus. Agora pajé vai falar.
- Não é assim, índio. Sentenciou Ubaldo com ar de petulância.
- No tempo em que os velhos não serão ouvidos e as histórias não serão contadas, então o mundo se afogará nas águas – disparou o pajé, com firmeza – essa é a Lei.
Ubaldo percebeu que o índio não iria ceder, e sua mente astuta o levou a lembrar que aquele velho selvagem era fundamental no processo de cristianização de toda a tribo. Sentando-se pesadamente no banco, o sacerdote esboçou um sorriso.
- Tupã é o Pai de Tudo – anunciou Akuan – criou as estrelas, o sol e a lua, como pai Ubaldo bem disse. Tupã nos deu a vida para caminhar em sua grande terra. Nos deu as flores para contemplar, os rios doces para beber e nadar. Criou o mel para adoçar nossa boca, embora tivéssemos de usar a coragem para poder saboreá-lo. Tupã........
 LEIA O FINAL DESTE CONTO EMOCIONANTE EM “Contos de Redenção”, comercializado em prol do Asilo e Creche Seara de Luz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário