Autor Thiago D. Trindade
O
pai, nos dias de hoje, é uma figura muito questionada, por mais incrível que
possa parecer. Antigamente, a figura do pai era a do senhor absoluto do lar, um
tirano, cuja figura distante e austera que mais intimidava do que inspirava
respeito e confiança. Nosso bom amigo André Luiz, na obra “Nosso Lar”
(psicografia de F.C. Xavier, editora FEB, 1997, 46° edição, 281 páginas)
admitiu ter sido um pai assim.
Nos
últimos anos, porém, cultivou-se a imagem do pai-irmão do próprio filho. Ao
termo pai-irmão, não nos referimos à consideração de todos sermos filhos de
Deus, logo, irmão. Nossa referência é o caráter hierárquico estabelecido pela
maturidade e experiência. A figura do pai-irmão tem sido muito valorizada pelas
mídias, onde o genitor e prole chegam a abolir os termos “pai e filho”, numa
ruptura de estrutura familiar. Como resultado, vemos homens, mulheres e
crianças sem o menor respeito aos membros da própria família e a terceiros.
O
terceiro tipo de pai é o chamado pai-ausente, muito comum pelo mundo à fora. A
figura do pai-ausente não pode ser somente compreendida como a ausência física
do genitor. Existem pais que residem com seus filhos, mas por várias razões
superficiais, são alheios ao pequeno universo em construção que sua criança é.
A
Doutrina Espírita, o Consolador Prometido, orienta a respeito da
responsabilidade da figura do pai. A respeito do pai e da mãe, na questão 208
do Livro dos Espíritos, aprendemos que os pais tem a tarefa de desenvolver os
filhos pela Educação. Os pais são responsáveis pela educação moral e
intelectual de sua prole. E por que “moral e intelectual”? É a evolução moral
que nos aproxima da Perfeição. A intelectualidade nos mostra novos horizontes.
Para
ilustrar, temos Chico Xavier, de pouca instrução intelectual – pouco estudo
formal –porém de maciço teor moral, e, do outro lado Josef Mengele, médico
nazista, de profundo estofo intelectual, mas de moralidade quase nula.
Na
questão 582 do mesmo livro, observamos a imensa responsabilidade e do
compromisso do pai e da mãe em criar condições a um Espírito se desenvolver
moralmente. Avalia-se, nas questões subsequentes, a extensão das consequências
para eventuais fracassos.
No
Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo 14, Santo Agostinho afirma
categoricamente que são os pais, os responsáveis pela condução dos filhos ao
caminho reto. Ratifica, o ilustre mentor, que a educação verdadeira é obtida
pela exemplificação.
Nessas
duas obras, o Livro do Espíritos e o Evangelho Segundo o Espiritismo, vemos que
o fracasso dos pais em orientar os filhos resulta em pesados débitos. No caso
de nosso amigo André Luiz, que há décadas trabalha incansavelmente no Bem,
ainda há de resgatar sua dívida contraída por conta de sua tirania doméstica de
sua encarnação pretérita. É a Lei da Ação e reação.
Na
magistral obra “Memórias de um Suicida” (autor espiritual Camilo Castelo
Branco, psicografia de Yvonne do Amaral Pereira, editora FEB, 1998, 20° edição,
568 páginas), conhecemos o espírito Jerônimo, que fora comerciante português.
Um pai ausente e um homem desonesto. Assoberbado por dívidas, optou pelo
suicídio – tema este para outra reflexão. Jerônimo permaneceu anos no Vale dos
Suicidas até ser resgatado pela Legião dos Servos de Maria. Espírito rebelde, o
antigo comerciante, insiste em rever a família e, ao reencontrá-la, quase
enlouqueceu. A esposa, prostituída, explorava a própria filha caçula,
igualmente lançada ao meretrício. Esta jovem, a jóia que rebrilhava aos olhos
do homem, então encarnado. O filho varão, jazia preso em uma cela desumana.
Confrontado com a dura realidade, o fracasso de sua missão como pai, Jerônimo
acabou sendo levado para recuperar-se em outro setor do Hospital Maria de
Nazaré. Fracassara, o pobre espírito, como indivíduo e como integrante da base
de um grupo. Pelos relatos obtidos na obra, Jerônimo veio a reencarnar anos
depois, podendo ser qualquer um de nós.
Em
todos os casos apresentados, os filhos resultam dolorosamente em seres
incapazes de se ajustarem, compreendendo a si mesmo ou ao próximo. Os jornais,
aliás, estão recheados de crimes que tem origem na ruína familiar.
A
falta de Deus no lar.
A
falta de um pai para trazer Deus, junto com a mãe, ao lar!
O
pai, como nos ensinam os Bons Espíritos, é uma figura fundamental na Evolução
Humana e deve reconhecer em si a responsabilidade que ele próprio pediu à
Sabedoria Divina. Saber que sua postura de tutor, e porque não considerar-se
também modesto aprendiz de seu filho transitório, deve ser firme, serena,
racional e doce, como Jesus nos ensinou a ser. Ser um companheiro de seu filho
sem ir contra a estrutura familiar que nossa sociedade enferma está nos
impondo. O pai deve reconhecer suas imperfeições e se esforçar em vencê-las,
como está claro no capítulo 17 Evangelho Segundo o Espiritismo, “Sejam Perfeitos”.
Ser
pai é uma excelente prova de formação moral.
Ser
pai significa ser um exemplo de Humildade, Paciência, Perseverança, Resignação
e Fé.
Ser
pai significa amar muito além das convenções da consanguinidade e da sociedade
transitórias.
O
amor do pai é o amor sublime que não vê barreiras para brilhar e afastar a
escuridão da ignorância.
O
maior exemplo de pai, é o carpinteiro José, pai de Jesus. Um homem pobre na
matéria, mas de vulto moral imenso.
Que
Fé gigantesca ele tinha, que sabendo de sua responsabilidade perante o mundo,
enfrentou grandes perigos para que o Excelso Mestre viesse encarnar.
Que
fibra tinha o carpinteiro em atravessar as estradas palestinas, guiando um
velho jumento e protegendo uma frágil e assustada grávida pelas noites gélidas
do canto mais pobre do Império Romano.
Certamente
seu coração sangrava ao ver sua amada esposa passar necessidades e quantas
vezes seus olhos insones varriam os campos desolados procurando bandidos ou
perseguidores?
Quando
Jesus nasceu, José sabia que Ele era a Boa Nova, não deu por encerrada sua
missão por encerrada. Havia protegido Jesus e agora era hora de contribuir de
outra forma: a formação Moral e Intelectual.
Embora
Jesus fosse o Espírito mais evoluído a pisar na Terra, o Mestre Galileu
precisava passar por tudo aquilo e era necessário para ser realmente um homem
de sua época. Não havia concessões para o Cristo e José sabia disso. Em nenhum
momento o velho carpinteiro procurou abrandar a Missão de Jesus. José, junto
com Maria, foi a base – a estrutura Moral e Intelectual – para o Cristo de
Deus.
“Ensinaram” a Jesus a respeitar o
próximo.
“Ensinaram” Jesus a orar.
José
“ensinou” um trabalho para Jesus,
para honrar a comida à mesa.
José
“ensinou” Jesus a ser um homem de
Bem.
Todos
nós, neste mundo de prova e expiações somos um pouco parecidos com o
carpinteiro José. Com um cajado nas mãos, puxando um jumento com uma preciosa
carga, procurando um proteger nossa família.
Como
José, o Perseverante, seguramos nossas lágrimas para transmitir confiança à
nossa frágil e assustada Maria, enquanto procuramos um lugar seguro onde
nascerá o nosso Jesus.
Somos
José, possuidor de uma Fé monumental, que fitava o céu não para pedir a Deus
para abrandar a carga de nosso filho, mas sim pedindo que nosso tutelado tenha
lucidez para vencer seus desafios da melhor forma possível.
Lembremos
mais do carpinteiro José.
Que
seja como José, aquele que é pai separado.
Que
seja como José, aquele que é padrasto.
Que
seja como José, aquele que tem de se “fundir”
com a figura da mãe, o chamado “pãe”,
uma tarefa árdua, mas de doce recompensa.
Que
seja como José, aquele pai que por anos foi pai-tirano, pai-irmão ou
pai-ausente, diminuindo seu débito ainda nesta encarnação.
Que
seja como José, aquele homem que se deparar com uma criança desvalida, sendo
PAI dela.
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