Autor Thiago D. Trindade
Interessante
estudar o caso do centurião (Mateus, 8: 5-13) que vai até Jesus pedir a
recuperação de seu servo enfermo. Um homem da elite do exército romano,
portanto, um invasor, que contra todas as expectativas resolveu pedir por
alguém cujo povo jazia esmagado sob as sandálias férreas do Império Romano. E,
atravessando o mar de aflitos que o Mestre Galileu curava, o soldado veterano
rogou pelo servo ao estranho Rabi, que se voltou para ele com doçura e
deferência, para espanto geral.
Tenhamos
em mente que o soldado, líder de um feroz destacamento de cem guerreiros,
poderia ter mandado buscar Jesus. Ou ainda, iria com parte de sua belicosa
tropa até onde o grupo se reunia e obrigado o Cristo a fazer o que quisesse.
Sendo
Jesus o Amor na Terra, certamente iria à casa do centurião, se fosse convocado.
Caso fosse abordado com truculência, ainda assim iria curar o servo do soldado.
No entanto, não aconteceu assim. O que fez o centurião, sozinho, deixar seu
posto e atravessar o mar de gente hostil e ir até um entranho judeu que falava
sobre um Reino dos Céus?
Primeiro,
entendamos a relação entre os escravos e senhores na antiguidade romana. Aos
escravos domésticos havia confiança e entendimento, na maioria dos casos. Não
raro os senhores eram aconselhados pelos servos que lhes dedicavam afeto
sincero. Muitos escravos chegavam a cuidar das feridas dos amos e a administrar
alguns dos seus negócios. Em muito pouco lembra a escravidão que vigorou entre
os séculos 16 e 19, incluindo aí o Brasil, embora aos escravos domésticos fosse
dado uma pequena confiança por parte dos senhores.
Mas,
voltemos ao caso do centurião.
O
servo doente devia gozar da confiança e afeição de seu senhor, e certamente, ao
ouvir sobre os feitos de Jesus e sua Boa Nova, fez crescer no humilde escravo
judeu uma nova esperança. Com essa Fé crescente, o servo fiel instaurou no
centurião a idéia de que Jesus, que a todos curava, pudesse salvar seu amigo.
A
Fé do escravo fez o centurião romano guiar-se até o Divino Médico e por fim o
próprio legionário encontrou a si mesmo.
Decidido,
o soldado trajou-se com sua lendária armadura, cingiu seu gládio à cintura, e
certamente essa arma se banhara em sangue inúmeras vezes, e então, partiu para
pedir ajuda para seu amigo agonizante.
“Como a Fé nesse
esfarrapado judeu pode sustentá-lo? Que Deus é esse, a quem esse tal Jesus
tanto fala?”
Certamente
o centurião deve ter se perguntado coisas assim enquanto caminhava pelas ruas
empoeiradas da Cafarnaum. Muito provavelmente seus pares iriam receber a notícia
de que ele se misturara ao estranho povo bárbaro, ainda mais por um escravo.
Isso, como os Registros assinalam, foi posto de lado pelo guerreiro.
Sozinho,
munido pela compaixão por seu amigo doente, o centurião viu a aglomeração e no
meio dela, Jesus. Um último obstáculo. Teria sido mais fácil matar uma pomba a
um dos deuses romanos. Mas não era isso que o servo precisava. O servo
precisava de Jesus e então era Ele que o centurião iria oferecer ao amigo.
Em
passo de marcha, inicialmente, e depois abrindo caminho lentamente por entre a
massa de judeus, o legionário se viu diante do Mestre Nazareno.
Imaginemos
o encontro de ambos: Dois conquistadores. Um, conquistador de corpos,
acostumado ao trabalho da espada. O outro, conquistador de almas, acostumado ao
trabalho do Amor.
Toda
e qualquer dúvida que o soldado pudesse ter em seu coração, desfez-se em pó.
Escandalizados,
os discípulos se agitaram. Afinal o centurião era um gentio, ou seja, um não
judeu, e estava entre eles. E ainda mais era um vil romano!
Jesus,
por sua vez, parecia que esperava a chegada daquele que possivelmente era o
primeiro não judeu a abraçar a Boa Nova.
Com
um sorriso, o Rabi anunciou que a Fé do guerreiro curara o servo, e que a
determinação do centurião fora fundamental para o processo. No fim, o
legionário encontrara a cura para si mesmo.
Aturdido,
o velho soldado fez o caminho de volta e reencontrou o amigo recuperado.
Particularmente, me pergunto onde estaria o centurião, e o que ele sentiu,
quando o Cristo fora destroçado por seus companheiros romanos, certamente seus
conhecidos...mas deixa pra lá, não é mesmo?
Todos
nós somos como esse centurião. Temos alguém que amamos e que precisa de nossa
ajuda. Alguém cuja Fé é tamanha que nos inspira a caminhar em busca de socorro
para ele. E nesse percurso acabamos por nos encontrar. Quase sempre temos à mão
a espada que toma, que conquista. Mas ao optar por seguirmos a trilha da Fé
sincera, atingimos o Objetivo Maior. O mar de adversários que nos separam da
Luz Maior, nos servem para lembrar nosso propósito que é servir ao próximo,
independentemente do que dizem ou pensam.
O
legionário venceu sua maior batalha ao pedir por aquele a quem amava. Chegando
a Jesus e a Boa Nova, o romano nunca mais se afastou da Luz Maior.
E
como eu sei disso?
Quem
conseguiu passar ileso de um encontro com o Mestre?
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