Chegamos à nossa terceira entrevista, com seareiros da Doutrina de Jesus. Dessa vez, nos embrenhamos no viés da arte. E para tanto, "convocamos" a simplesmente adorável Angela Maria, que delicadamente respondeu as nossas perguntas.
Angela Ribeiro é médium de
psicopictografia (pintura e desenho), semiconsciente e intuitiva. Fez seu
desenvolvimento mediúnico no Centro Espírita Seara de Amor e de Luz, em
Botafogo, Rio de Janeiro, sob orientação do espírito Emmanuel, mentor da Casa,
através da médium Therezinha de Castro. Seus desenhos mediúnicos foram
apresentados a Chico Xavier que confirmou a sua autenticidade. Por sua
mediunidade se manifestam diversos pintores, em sua maioria europeus
impressionistas e pós impressionistas, além de modernistas europeus e
brasileiros. Angela não nasceu em família espírita, mas se tornou espírita há
quase 30 anos. Carioca e desenhista técnica aposentada, desenvolve a
psicografia e participou na Seara de Amor e de Luz (SAL) de trabalhos de cura
espiritual. Costuma se apresentar em diversas Casas Espíritas, Umbandistas e em
qualquer outro lugar onde se pratique o BEM.
Agradecemos imensamente a Angela Ribeiro por ter nos atendido!
1 – Quando, e como, você conheceu a Doutrina Espírita?
Não tive
uma educação religiosa e vivi minha adolescência na Zona Sul do Rio de Janeiro, em pleno
período de Ditadura Militar, o que me levou a ser materialista, porém sem
grandes convicções. Com o amadurecimento e a vivência, inclusive convivendo,
por força do meu trabalho, com a mais extrema miséria no sertão nordestino,
comecei a questionar o sentido da existência, o que, juntamente com problemas
em minha vida particular, me levou a um
Centro de candomblé, pelas mãos de uma prima. Não tenho absolutamente nada
contra essa ou qualquer outra religião, mas naquele lugar em particular não me
senti confortável, apesar de me ter sido dito que era lá que deveria trabalhar
sob pena de nada dar certo em minha vida. Foi a partir daí, vivendo uma
profunda angústia e transtorno emocional, que minha mediunidade aflorou com
toda a sua força e tive numa visão em minha tela mental, que se repetia como um
flash, o nome de “Krishnamurti”.
No dia
seguinte fui levada por impulso a entrar numa livraria e dei de cara com um livro
de Krishnamurti, que vim a saber tratar-se de um filósofo hindu. Abri numa
página “ao acaso” e o capítulo era sobre identificação, onde dizia que
deveríamos trabalhar no Bem aonde mais nos identificássemos. Aquilo acalmou
totalmente o meu coração e os espíritos então passaram a usar essa mediunidade
pra me levar a ler livros sagrados como o Bhagavad- gita (indiano), o TAO
(bíblia chinesa), etc.. até chegar ao livro espírita “O problema do Ser, do Destino
e da Dor” de Leon Denis. A partir daí, já totalmente encantada com as
descobertas espirituais, procurei um Centro Espírita.
2 – Para você, Espiritismo é
religião? Poderia explanar sobre o assunto?
Essa é
uma questão polêmica, pois apesar da palavra RELIGIÃO, significar religar-se
com Deus e nesse caso o Espiritismo poderia ser chamado de religião, o termo
RELIGIÃO adquiriu uma conotação de alguma coisa política e institucionalizada.
E, me parece, estudando a Codificação, que havia uma preocupação dos grandes
espíritos que responderam a Kardec, de desvincular o Espiritismo da palavra
RELIGIÃO. O Espiritismo veio inclusive para resgatar o Cristianismo original,
deturpado ao longo do tempo pelas religiões tradicionais.
Kardec
havia definido Espiritismo como:
“Filosofia de bases científicas e conseqüências morais e religiosas” e o espírito
Erasto, seu mentor, o fez mudar para
“conseqüências ético-morais”, afastando assim mais uma vez a palavra RELIGIÃO
da nova doutrina.
Na minha
humilde opinião o Espiritismo é o mais fantástico conjunto de informações sobre
a verdade espiritual, chegada até nós para nos ajudar no nosso caminho
individual, particular e único de encontro com Deus.
Importante
lembrar que o Espiritismo não é uma religião institucionalizada, e não tem
hierarquia. Acredito que o Brasil por sua origem fortemente católica, se fixou
no lado religioso se afastando perigosamente da parte filosófica e
principalmente científica da Doutrina o
que provoca o risco de que mais uma vez possamos vir a deturpar a pureza e
liberdade da Verdade Divina que nos chegou através dos Espíritos.
3 – A psico-pictografia é uma
fascinante forma de exercer a mediunidade. Poderia explanar sobre ela?
Sim, e
sou suspeita pra falar, mas a meu ver é uma mediunidade maravilhosa, na medida
em que nos traz uma dupla emoção que é a emoção da Arte unida a emoção da Fé.
Quem assiste a um momento de pintura mediúnica se impacta, e o próprio Kardec
fala disso no primeiro ano da Revista Espírita (1858), comentando a maneira inusitada
como os quadros são pintados pelos espíritos, completamente fora dos padrões
acadêmicos. É incrível se observar as belas telas que surgem do nada, sem
prévio conhecimento do tema, sem esboço, com as tintas sendo jogadas
aparentemente aleatoriamente sobre a tela e espalhadas com as mãos. Kardec cita
inclusive uma pintora e professora de arte que tinha essa mediunidade e que
comentava que seria impossível para ela sem os espíritos, pintar dessa forma.
No Livro dos Médiuns, Kardec coloca a mediunidade de desenho e pintura como uma
mediunidade especial, por servir a espíritos que querem se comunicar de uma
forma específica.
Por
outro lado a energia que emana desses quadros é grande, já tendo sido medida
por radiestesia, e dizem os espíritos que no momento da pintura mediúnica
acontece uma explosão de luzes especialmente preparadas para impactar os que
assistem física, emocional e espiritualmente provocando elevação e harmonização
abrangente.
O
objetivo maior desse trabalho dos espíritos pintores é fortalecer a fé no
coração dos homens.
4 – Quais os Espíritos que
trabalham, através de você, na psico-picto-grafia?
De
algumas décadas para cá, espíritos ligados ao chamado Movimento Impressionista
francês, como Renoir, Claude Monet, Edouard Manet, Paul Cézanne etc.. iniciaram
essa tarefa de trazer aos homens encarnados a constatação da imortalidade da
alma, através da identificação de seus traços, estilos e cores. Interessante
observar que o Movimento Impressionista surgiu no mesmo país, com diferença de
alguns poucos anos, do surgimento do Espiritismo. E que esses pintores assim
como Kardec na religião, foram revolucionários na arte. Talvez venha daí a
sintonia que os atraiu para o Movimento Espírita. A partir dos impressionistas
foram chegando espíritos de outras Escolas como Toulouse-Lautrec, Vincent Van
Gogh, Pablo Picasso, Henri Matisse que pintam praticamente através de todos os
médiuns de psicopictografia
No meu
caso todos esses, unidos a alguns modernistas como Candido Portinari, Tarsila
do Amaral, se manifestam sob a orientação do espírito Eugene Delacroix.
5 – Existe alguma condição,
direcionada ao seu proceder mediúnico, que seja fundamental para seu trabalho
mediúnico? Qual?
A
orientação que recebi dos espíritos pintores foi de muito estudo de Evangelho e
História da Arte. De resto as condições
são as mesmas de outros tipos de mediunidade. Além do estudo, a oração
sistemática e elevação do pensamento, coisas que a gente se esforça para seguir.
No
momento da pintura e fundamental um ambiente harmonioso, e tranqüilo.
6 – Muitos Centros Espíritas
estão questionando o trabalho assistencial em suas dependências. Há Centros que
as aboliram, inclusive. O que você acha
dessa discussão, uma vez que a Codificação faz alusão direta à Caridade Moral e
a Caridade Material?
Fiquei
completamente surpresa quando li essa afirmação. Para mim é totalmente sem sentido o
Espiritismo ou melhor o Cristianismo, sem a caridade, contida na assistência
aos nossos irmãos mais necessitados. A maior alegria que tenho no meu trabalho
como médium de pintura, é exatamente poder ajudar financeiramente com a doação
dos quadros os trabalhos assistenciais que existem em praticamente todas as
Casas Espíritas. Acho que Jesus é o nosso exemplo maior, e tudo que ele fez
durante sua estadia na Terra foi praticar a caridade e o amor. Alan Kardec afirmou “Fora da Caridade não há
salvação”, como então admitir que se impeçam trabalhos assistenciais dentro dos
Centros Espíritas? Não entendo.
7 – Hoje em dia, há uma grande
profusão de obras que se apresentam como atualizações ou complementação da
Codificação Espírita. Você, caso conheça alguma destas, tem alguma opinião à
respeito?
Veja
bem, a Natureza se movimenta continuamente, nada estaciona no mundo de Deus,
nada pára. A Sociedade, os costumes, a tecnologia também se modificam cada vez
mais rápido. O próprio homem vai adquirindo capacidades e percepções novas.
Natural que com o passar do tempo nos transformemos, adquirindo maiores
condições de entendimento. Portanto é esperado que venham até nós novas
informações, novos conhecimentos, pois não sabemos tudo. Acho que o próprio Kardec com a sua abertura
de espírito seria o primeiro a acatar o que surgisse de novo. Importante porém
que assim como ele fazia, usemos sempre o crivo da razão e do bom senso, porque
sabemos que os falsos profetas, assim como os espíritos mistificadores existem. Na Codificação os bons
espíritos nos deram condições claras para que soubéssemos separar o joio do
trigo. É preciso que tenhamos asas e raízes.
8 – Muitas casas de Umbanda,
Ramatís e do Vale do Amanhecer, religiões de forte cunho mediúnico e viés
moral, vem estudando cada vez mais a Doutrina dos Espíritos, de forma, conforme
temos averiguado, muito bem estruturada. Por esta afirmação, vemos consonância com
o pensamento de Kardec e Leon Denis, que direcionam o Espiritismo , em
decorrência de seus pilares, como o futuro das religiões. Qual sua opinião à
respeito?
Encanta-me
observar essa quebra de velhos
preconceitos. Há pessoas que confundem união com fusão. Não é isso. A união é
esperada e necessária. Há não muito tempo os umbandistas não admitiam estudar
livros de Alan Kardec, assim como espíritas não aceitavam a Umbanda, por puro
preconceito. Sempre levei a pintura a qualquer lugar onde se pratique o Bem e
sei que alguns espíritas me olhavam torto. Agora estamos realmente num momento
de mudança vibracional do planeta e isso é perceptível por pessoas de maior
sensibilidade. Parece que tudo está mal, mas é preciso lembrar que a sujeira
precisa vir a tona para que possamos limpá-la. E é em sutis movimentos como
esses das religiões e no aumento de atividades voluntárias de auxílio ao
próximo, que já podemos sentir o cheiro das grandes mudanças. Como eu já disse,
o Espiritismo é esse grande conjunto de conhecimentos e informações que ajudará
homem, individualmente, a encontrar o seu caminho particular de encontro com
Deus.
9 – O Espiritismo, nos últimos
anos, cresceu em número de adeptos, conforme assinala o último senso do IBGE.
No entanto, os espíritas ainda configuram como os de maior escolaridade. Em sua
opinião, por que as Casas Espíritas não atingem a população de menor
escolaridade?
Existe
uma diferença entre cultura e sabedoria.
Existem pessoas com baixa escolaridade e muita sabedoria. O próprio
Chico Xavier era um homem inculto porém altamente sábio. Tenho encontrado em
todos os Centros que vou com o meu trabalho, pessoas de todos os níveis de
escolaridade.
Mas não
resta dúvida que a maior cultura e conhecimento, torna as pessoas mais
exigentes. E o Espiritismo é o caminho dos questionadores, pois sendo a
princípio sem dogmas, tudo explica e assim satisfaz os espíritos que precisam
de explicações lógicas e racionais.
Talvez a
fé dos que não precisam de muitas explicações seja mais sólida, mas a maioria dos
que se encontram no Espiritismo são os que precisam entender muito bem, para
crer.
10 – Graças ao Apóstolo da
Mediunidade, Francisco Cândido Xavier, o Espiritismo foi amplamente difundido
no Brasil, ainda no século XX. Tendo acompanhado de perto as últimas décadas do
Movimento Espírita, qual sua projeção para o Espiritismo no Brasil e no
Exterior para os próximos anos?
No momento
atual vejo de um lado, espíritas mais conservadores que tendem a ver a
Doutrina como uma religião tradicional,
o que é explicável visto que todos nós
vivemos muito mais encarnações como católicos e protestantes do que como
espíritas, que é uma doutrina muito recente, mas que não é aceitável, pois
corremos o risco de mais uma vez deturparmos os ensinamentos do Cristo, criando
dogmas e transformando-os em fonte de poder político. Por outro lado vemos os
que percebem a Doutrina como a filosofia de livre pensar que ela realmente é,
assimilam os ensinamentos dos espíritos e de Kardec com equilíbrio e espírito
aberto, dispostos a analisar novas informações assim como fez o próprio Kardec.
Acho que
a segunda opção tende a crescer o que já observamos, na medida em que o ser
humano expande suas percepções e o mundo se modifica, combatendo cada vez mais
os preconceitos e intolerâncias.
No
exterior, já é visível o crescimento da Doutrina, sobretudo em vários países da
Europa e agora também nos Estados Unidos, onde vemos crescer cada vez mais o
interesse nos assuntos espíritas e mais Centros Espíritas sendo fundados.
Em termos
culturais aumentam as obras de cunho espírita sendo criadas. É a verdade do
Consolador que Jesus nos prometeu, que continua chegando até nós e se
espalhando por todos os países, todas as culturas e todas as religiões dos
habitantes desse planeta, ajudando a transformar o mundo para melhor. O caminho
ainda é longo, mas é muito bom se ter a benção de participar com uma ínfima
gotinha, na divulgação da Doutrina dos Espíritos.
Entrevista bem estruturada, completa, franca e ESPÍRITA!!!!!!!!!!!!!!!!! Carlos Alberto Paraná, Bertioga-SP
ResponderExcluirPreciosos comentários
ResponderExcluirAngela, sempre doce!
ResponderExcluirConheci um pouco mais da psicopictografia nessa deliciosa entrevista! Mara
ResponderExcluir