“Bem-aventurados
os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus.”
Mateus 5:10
Não sabia por onde caminhava.
Seus passos trôpegos o levaram a uma região sombria da cidade. Seus
pensamentos, permeados por rancor, queimavam dolorosamente. Henrique chutou um
velho cão e jogou nele a garrafa vazia. Mataria também aquele animal.
O cachorro, ao ver a pedra que
Henrique tomara em suas mãos, se encolheu. Sabia que não tinha chance.
- Não acha que por hoje chega de
tormento? Indagou uma voz doce, vindo de trás do homem, e era ela cheia de
vivacidade.
Automaticamente o homem baixou a
pedra. Seus olhos ébrios divisaram uma velhinha de aspecto frágil sorrindo para
ele.
- Suma daqui velha! Gritou
Henrique.
- De que adianta eu ir embora?
Volveu a velha.
Henrique sacudiu a pedra na
direção da senhora, que não se intimidou.
- O que aconteceu com você, meu
filho? Perguntou a velhinha.
- Pra quê quer saber?! Exclamou o
homem.
- Contando sua dor – disse a
velha – se sentirá melhor.
A idosa se aproximou de Henrique
e tomou-lhe a pedra. Acenando para o cachorro, a mulher tranqüilizou o pobre
animal, que lambeu-lhe os pés e sumiu na rua mal iluminada.
- Está muito longe de casa rapaz.
– disse a estranha com firmeza – por quê?
Henrique estava confuso. O álcool
no organismo fervilhava ainda mais sua revolta. Havia respingos de sangue em
sua camisa.
- Você trabalha para a polícia,
por acaso? Desdenhou o homem.
A idosa fitou o céu escuro. Uma
lágrima rolou em sua face enrugada. Suas delicadas mãos pegaram as de Henrique.
- Fui traído. – disse Henrique
quase num sussurro – roubado. Meu sócio, Raul, a quem amava como a um irmão,
tirou de mim o restaurante que tínhamos. Não satisfeito, roubou minha mulher...
Tirei-lhe, então, a vida podre que ele tinha!
Irrompendo em lágrimas, Henrique
gritou e terrível era o sofrimento dele.
- Não consegui matar Joelma,
aquela ordinária! – disse o homem puxando os cabelos – deixei-a gritando,
enquanto via seu amante sangrar na minha faca!
- Filho meu! – retrucou a velha
com vigor – um erro não pode justificar outro! Crime terrível, filho!
- Sempre fui trabalhador –
continuou o outro – respeitava meu amigo e minha esposa. Como eles puderam
fazer isso comigo?!
- Eles fraquejaram no teste da
Verdade, assim como você – a idosa acariciou a fronte atormentada do
homenzarrão que poderia esmagá-la facilmente – cada um errou na sua proporção.
E todos vocês colherão uma colheita amarga.
- Lavei minha honra. Asseverou
Henrique.
- E sangue limpa? – retrucou a
outra – sangue derramado por rancor e ódio não limpam nada. Só o sangue do
sacrifício redime!
- Volte para sua igreja!
Vociferou o homem.
- Minha igreja está aqui! Atalhou
a mulher, com determinação.
Henrique se livrou das mãos da
velha. Sua mente girou e seus pés se atrapalharam. Indo ao chão de
paralelepípedos, o assassino esfolou o rosto e as mãos.
- Todos nós temos nossa cota de
sofrimentos. – disse a velha com brandura – são essas dificuldades que nos
fazem fortes. Ao vencer o sofrimento, vencemos a nós mesmos e progredimos.
- Não tinha razão para ser
humilhado como fui! Insistiu Henrique.
- Será mesmo? Perguntou, de forma
enigmática, a mulher.
Se Henrique tivesse plena
capacidade motora, teria partido a velha ao meio com as mãos nuas. Mas ele
continuava zonzo, enquanto a anciã falava.
- E então, filho? Indagou a
idosa.
- Não sei! Gritou o outro.
- Somos aquilo que fazemos e nada é por acaso. –
disparou a velha – todos nós somos alvo de coisas boas e más, mas somente nosso
arbítrio pode dar a palavra final. Você errou com aqueles dois. Entenda que
todos vocês .......
LEIA
O FINAL DESTE CONTO EMOCIONANTE EM “Contos de Redenção”, comercializado em prol
do Asilo e Creche Seara de Luz.
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