Autor Thiago D. Trindade
Nessa passagem, ligeiramente adaptada
do livro de Mateus (8: 20), lembramos, mais uma vez, do imensurável Amor que
Jesus tem por nós. Ele, que acompanhou o processo de criação de nosso planeta,
vem trabalhando incansávelmente para que esse mundo de provas e expiações possa
modificar-se num lugar de regeneração.
Mas Jesus não tem onde reclinar a
cabeça.
Ainda no ventre de Maria, o Mestre
sofreu as agruras da fuga do terrível Herodes, passando por privações. José, o
valoroso carpinteiro, que enfrentava o temor e o desconhecido armado somente
com sua Fé e seu cajado, certamente não fazia idéia total da importância de seu
protegido ainda não nascido.
Nem mesmo a pequena e doce Maria,
sobre o velho jumento, deveria fazer uma idéia de que o Excelso Governador
acompanhava seu drama e o de seu esposo naquela fuga desesperada.
Jesus nasceu, pois, entre os simples
animais de fazenda e os paupérrimos pastores em algum lugar perdido no tempo
implacável.
No exílio, Jesus cresceu tendo como
pais e tutores José e Maria, que o ensinaram, através de exemplos, a ser um
homem de bem, mesmo fazendo idéia da grandeza que aquela criança sorridente
possuía.
Foi ainda na infância que Jesus, como
assinala Lucas (2:46-48), se voltou para os doutores da lei na sinagoga e, com
a doçura típica das crianças, ensinou-lhes sobre muitas coisas.
Lembremos que judeus possuíam o livro
sagrado, chamado Torá, e nessa obra, que data dos tempos de Moisés, há a
passagem do bezerro de ouro (Êxodo, 32: 2-6). Esse bezerro fora feito pelos
seguidores de Moisés, através das mãos de Arão, seu auxiliar, quando o líder se
encontrava no Monte Sinai. Com o objeto de adoração, os homens esqueceram-se de
Deus. A ira de Moisés, ao regressar, foi tamanha que sangue verteu sobre a
terra (Êxodo, 32: 27 e 28). Jesus, conhecedor dessa tradição, guardou-a
consigo.
Mais velho e acompanhado pelos Doze,
Jesus invadiu a sinagoga e lá enfrentou os vendilhões que lá negociavam
(Mateus, 21: 12 e 13).
O bezerro e os vendilhões são
correlatos. Nós criamos bezerros de ouro e somos os vendilhões.
Em nosso coração criamos os tais
bezerros dourados através de nosso orgulho, em honra ao “deus Ego”, e o polimos
sempre que rejeitamos os Ensinos do Mestre.
Negociamos Deus todas as vezes que
trocamos o Amor Universal pelas paixões mundanas expulsando o Cristo de nosso
Templo Interior.
Mas Jesus não tem onde reclinar a
cabeça.
Em seu trabalho incansável, Jesus
caminhava solitário na matéria, durante sua trajetória na Terra.
Seus seguidores, propositalmente
escolhidos dentre os mais humanos do canto mais pobre do Império Romano:
pescadores, prostitutas, publicanos... E mais, estes não apresentavam condições
de auxiliá-Lo. Os discípulos deviam antes fortalecer suas bases morais com os
fracassos das provas enquanto Jesus ainda estava ao seu lado, para que pudessem
vencer quando o Mestre viesse a faltar materialmente.
E como os discípulos falharam! Ao
curar os doentes; ao caminhar sobre o mar; ao manter a serenidade ante as
adversidades...
Docemente, porém com energia, Jesus
aparou as arestas de seus prepostos em tempo hábil. Sabia que quando chegasse a
hora seus pupilos estariam fortes o suficiente para mudar o mundo em nome do
Pai.
Com o tempo, sabia o Cristo, outros
seriam convocados ao Serviço, como Zaqueu, Estevão, Saulo e tantos outros.
Após o Gólgota, Jesus continuou a
trabalhar por nós, estimulando e corrigindo. Estava – e está – sempre junto de
seus irmãos mais jovens, mesmo aqueles que deliberadamente O rejeitam.
Suas sandálias continuam gastas.
Suas vestes continuam surradas.
Jesus ainda não tem onde repousar a
venerável cabeça.
Seu trabalho é lento e consistente.
Jesus fundamenta seu trabalho na Paciência e na forma mais perfeita de Amor: o
Perdão.
Jesus é o Grande Médico e também o
Sublime Professor.
Como Médico, nos oferece o
medicamento do Esclarecimento. O bálsamo capaz de curar as feridas do nosso
Espírito imortal.
Como Professor, nos dá condições para
enfrentar as provas, ou desafios, que com o uso do medicamento nos faz crescer
e caminhar na direção do Pai Maior.
Somente quando nós transmutarmos o
bezerro de ouro que habita dentro de nós em um torrão de terra fértil cheio de
flores e doces frutos – que por sua vez irão ajudar outros torrões a
florescerem – é que Jesus poderá repousar sua excelsa cabeça.
Somente quando nós abrirmos nosso
Templo Interior para o Cristo e expulsarmos nossos vendilhões, Jesus poderá
repousar sua excelsa cabeça.
Somente quando nos reconhecermos
verdadeiramente como enfermos e usarmos o Medicamento que o Grande Médico nos
oferece, e, vencermos as Provas que temos de atravessar com o auxílio do
Sublime Professor, é quando Jesus poderá descansar sua excelsa cabeça.
Façamos nossa parte e sigamos os
passos do Mestre, deixados nas areias de nossos corações e atinjamos o oásis da
Felicidade.
Imaginemos o dia em que o Mestre
poderá repousar sua excelsa cabeça sob a fresca e frondosa copa de uma bela
árvore e suspirar de satisfação pelo dever cumprido.
E nós, seus irmãos mais novos,
velaremos por Ele da mesma forma que Ele tem feito por nós há incontáveis
séculos.
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