autor Thiago D. Trindade
Simão estava com seus pés limpos.
Seus dedos nodosos e inquebráveis estavam fixos ao chão poeirento. Certamente
angustiado, o pescador de Cafarnaum se vira sem seu doce Mestre, que só após
ressurgir do túmulo, permaneceu com ele e os demais pupilos por mas alguns
dias, conforme asseverou Mateus, em seu Evangelho. Cabia então ao áspero hebreu
fazer-se, de fato ,seguidor do Cristo e levar seus ensinamentos adiante.
Certamente Pedro devia se
perguntar do por que fora escolhido por Jesus para levar a Boa Nova ao mundo, e
mais, com posição de liderança. Logo ele, que fora um aprendiz teimoso, tendo
fracassado em inúmeras provas, como por exemplo, o episódio em que afundou no
mar da Galiléia, diante de Jesus. Falhara em curar enfermos, se entregara a
violência e ao ciúme. E ainda mentiu três vezes, negando ao Cristo.
Nem por isso, mesmo tendo falhado
tanto, Pedro abandonou a Seara do Cristo. Discordando de Tiago e Paulo, e
talvez até mesmo de si mesmo, debatendo com seus conflitos internos, onde ainda
havia o Homem Velho, ou Simão o Pescador de Cafarnaum, o apóstolo de Jesus fez
o que pôde, levando a Boa Nova dentro de si e a espalhando pelo mundo.
Simão Pedro não era perfeito.
Jesus não exigia que Pedro fosse perfeito. O Nazareno estimulava Pedro a se
esforçar a vencer suas imperfeições para um dia ser perfeito. E Pedro
compreendia isso, trabalhando incessantemente.
Jesus nos incentiva a refletirmos
sobre excelsa relação com Simão Pedro. Somos rústicos, ciumentos, vingativos,
mentirosos por conta de nossa moral deficiente. Quantas vezes renegamos o
Cristo? Quantas vezes O traímos, apontando dedos inquisidores? Quantas vezes
desembainhamos espadas de ódio? Quantas vezes afundamos no mar da descrença?
Quantas vezes nos enterramos no lodaçal da ingratidão?
Nos prendemos a debates estéreis,
cheios de retóricas, onde não procuramos aprender, mas sim empurrar nossa visão
pessoal, muitas vezes deturpadas e egocêntricas.
Somos, portanto, Simão, o Pescador Material. Porém, com Jesus,
podemos – e devemos – ser como Pedro, o Pescador de Almas, ajudando aos outros
em nome do Cristo e, com isso, ajudando a nós mesmos.
Pedro sabia que Jesus estava
sempre com ele onde quer que fosse, e, no seu derradeiro momento encarnado,
diante dos implacáveis romanos, o Pescador de Almas não temeu. A coragem dos
honestos e a serenidade dos justos acalentavam seu coração repleto de
compaixão.
É possível, com um pouco de
poesia, imaginar o reencontro, no Plano Espiritual, entre Jesus e Pedro. Jesus,
em meio ao Mar da Genezaré, fitando o amado amigo de braços abertos. Pedro, por
sua vez, seguia, com passos firmes e sorriso de triunfo no rosto, inebriado
pelo calor do reencontro sobre as águas. Mestre e pupilo se abraçam sobre o mar
sagrado e tudo é luz.
Pedro venceu como nós iremos
vencer, se seguirmos Jesus.
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