quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Lenda Hindu



Autor desconhecido




Houve um tempo em que todos os homens eram deuses. Mas eles abusaram tanto de sua divindade que Brahma, o Mestre dos Deuses, tomou a decisão de lhes retirar o poder divino: resolveu escondê-lo em um lugar onde seria absolutamente impossível reencontrá-lo. Mas o grande problema era encontrar um esconderijo. Brahma convocou, então, um conselho dos deuses menores para resolver o problema:
– “Enterremos a divindade do homem na terra” foi a primeira ideia dos deuses.
– “Não, isso não basta, pois o homem vai cavar e encontrá-la”, respondeu Brahma.
Então os deuses retrucaram:
– “Então, joguemos a divindade no fundo dos oceanos”.
Mas Brahma não aceitou a proposta, pois achou que o homem, um dia iria explorar as profundezas dos mares e recuperaria.
Então os deuses menores concluíram:
– “Não sabemos onde escondê-la, pois não existe na terra ou no mar lugar que o homem não possa alcançar um dia”.
Então Brahma, sem saber mais o que fazer, recorreu à sabedoria do Grande Deus Mahadeva, o Senhor Shiva.
– “Eis o que vamos fazer com a divindade do homem, falou Mahadeva: vamos escondê-la nas profundezas dele mesmo, pois é o único lugar onde ele jamais pensará em procurá-la. O único caminho que o tornará capaz de reencontrar este poder, será através de Jñana (Conhecimento). Mas não será tão fácil, ele terá que driblar o poder de Maya (Ilusão) e de Anava (Egoísmo), e para isso, terá que reaprender a controlar a mente e os sentidos, observando a Lei Divina do Karma (Causa e Efeito).
Então Brahma ordenou que fossem criados os primeiros ashrams e as primeiras escolas de yoga e meditação.
Mas mesmo assim, conclui a lenda, o homem continua dando voltas na terra, voando, explorando, escalando, mergulhando e cavando, em busca de algo que se encontra dentro dele mesmo.
Que você encontre sua divindade.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

O Batismo

Autor Thiago D. Trindade



Muitos acreditam que basta ser emergido em água para ser considerado detentor do direito ao Reino dos Céus. Afinal, Jesus, ao ser batizado por João, o Batista, no rio Jordão, afirmou que o Homem deveria ser batizado pela água. O simbolismo da água, por sua vez, é muito profundo, pois é a água quem dá a vida, alimenta, gera, limpa.

Jesus, conhecendo esse simbolismo, a usa em seus esforços para ser compreendido pela rude mentalidade da época. Seria contrassensso que o Mestre considerasse que uma mera imersão na água fosse capaz de apagar pecados e outorgar passagem direta ao Reino da Luz. Como ficaria a Lei de Ação e Reação? Como poderíamos quitar nossas dívidas até o último ceitil?

Pela lógica simplista do simples banho da salvação, o maior dos criminosos perante a Lei Divina, ao ser batizado, ficaria impune.

Muitos afirmam que o batismo é um compromisso com Deus. É verdade! Mas um sem número expressivo de pessoas andam por aí fazendo o contrário do que o Cristo ensinava, faltando a seu compromisso com o Pai Maior.

O Batismo, ou seja, o Compromisso com Deus deve ser diário. O rito deve ser feito e mantido pela nossa reflexão nos Ensinos de Jesus e executá-los. Esse é o verdadeiro Batismo do Espírito. Sem o batismo do espírito, essência imperecível que provém de Deus, o corpo material apenas ficará molhado, até um dia tornar-se pó.

Avancemos, pois, confiantes na direção de Jesus, seguindo seus passos na busca da Perfeição, com humildade, paciência, trabalho e fé.







Julgamento



autor Thiago D. Trindade







Costumamos, diariamente, brincar de juiz. Apontando a falha, algumas vezes de forma fria e outras de maneira ardente, acabamos por atentar mais uma vez contra os Ensinos de Jesus.

Lembramos da mulher pecadora, posta por Simão, o fariseu, em sua própria casa com o objetivo de enganar o Mestre Galileu, conforme vemos em Lucas (8:36-50). A mulher, diante do Mestre, lavou os pés do Cristo com suas lágrimas e secou-os com os próprios cabelos.

Esse quadro comovente, era, aos olhos do infeliz fariseu, um crime hediondo, já que pessoas consideradas impuras “infectavam” os homens de bem.

“Como o Messias não haveria de ter identificado a impureza da pobre mulher?” Deve ter pensado o fariseu.

Jesus sabia dos pecados da mesma, e em nome do Pai, informou-lhe que sua Fé a livrara dos laços tenebrosos que a prendiam. O Amor da mulher simples a salvara.

Sem julgamentos.

Somente Fé, um dos sinônimos do Amor.

Simão, por fim, aprendeu que gestos sinceros de Fraternidade aniquilam a soberba.

O fariseu julgou Jesus e a mulher.

Achava o Mestre um farsante.
Achava a mulher uma escória.

Em sua cegueira, o rico fariseu percebeu apenas tênues sombras ante a majestade de duas luzes.

Jesus, a Luz que descia à Terra para iluminar.
A mulher, a Luz recém nascida que buscava se unir à Luz Maior.

O fariseu Simão, por sua vez, apagava-se ainda mais. Não por muito tempo, porém, pois o Cristo iria também Esclarecer o irascível judeu.

Segundo os relatos do Evangelista, o fariseu entendeu o recado, dado diretamente pelo Mestre, quando usou uma parábola que citava dívidas e devedores – ilustração cotidiana do opulento judeu.

Incorporando em nós o arquétipo de Simão, o fariseu, julgamos nossos companheiros de Caminhada. Desaprovamos sua conduta, sem considerar que condições o pretenso “impuro” apresenta.

Quão ignorante ele é em termos morais?
Que acesso aos Ensinos de Jesus ele possui?

Alguém até poderia citar:
“Ele(a) sabia o certo, mas fez o errado”.

Ainda assim não podemos nunca tomar nas mãos uma pedra e atirá-la contra alguém. Saibamos não só lembrar, mas praticar os Ensinos do Cristo.

Emmanuel, guia do querido Francisco Cândido Xavier, considerado por muitos como o Quinto Evangelista, cita em praticamente todas as suas comunicações:

“Instruir sempre.”

“Perdoar sempre.”

“Amar sempre.”

O calceta no erro, certamente, precisa de provas mais rigorosas e maior disciplina, a fim de que a Verdade, por fim ultrapasse a couraça de ignorância preguiçosa.

Afinal, o bom pastor, que se movimenta seguindo os passos do Mestre Jesus, guia com mais firmeza as ovelhas mais bravias.

É comum vermos nas Casas de Religião membros mais rebeldes. São encarados com desconfiança e até desdém. Em alguns lugares são até incentivados a saírem dali.

Tenhamos certeza, Jesus de Nazaré, Excelso Governador deste mundo de imperfeitos, não aprecia essas ações, conforme podemos encontrar no relato de Lucas (7: 37), que faz citação direta ao julgamento.

Alguns poderiam afirmar:
Mas é melhor para não comprometer os outros”.

Pensemos.

O remédio não é para o São (Lucas 6:31), logo, se houver prejuízo no grupo é por que há uma falha NA execução do Programa, e não NO Programa, que é Servir o Próximo.

E quem, no planeta Terra, está isento do Divino Remédio trazido por Jesus?

Quem ousa, por isenção de erro, atirar a primeira pedra?

Reflitamos.

A prática do Amor, ao invés de permanecer tão somente na retórica, é a solução para os males que encontramos, muitas vezes orquestrados pelo Astral Inferior.

Desarmar nosso próprio coração de toda má intenção ao referir-se a alguém.

Quando a ovelha se afasta do rebanho e regressa, ainda que ferida e assustada, o pastor não agradece a Deus pelo retorno da preciosa criatura, tal como fez o pai com o filho pródigo? (Lucas, 15:3-7 e 11 a 32).

Não é fácil, portanto, não julgar.
Talvez seja a atividade mais difícil deste mundo.

Jesus não julgava, em desacordo com os pensamentos de muitos, mas impulsionava todos ao Bem, inspirando a Consciência – o Verdadeiro Juiz – de cada um.

Pedro que o diga!
Tomé que o diga!
Simão, o fariseu, que o diga!
E tantos outros, como nós aqui...

Quando vemos as prisões, recheadas de homens e mulheres cuja moral ainda é primitiva e rude, podemos até pensar que seria injusto retê-los lá, uma vez que esse texto diz que é errado julgar.

A maior finalidade desses lugares é forçar esses indivíduos, através da confrontação extremamente rígida e momentânea com seus graves feitos, a buscar reflexão de seus atos. Um remédio mais amargo.

“Mas o Sistema Prisional não funciona!” Brada alguém.

Mais uma vez: há uma falha NA execução do Programa e não NO Programa!

Temos de nos dedicar mais a esses enfermos da alma, com mais firmeza – o que não é brutalidade – e também mais doçura.

Temos de lembrar que já estivemos no lugar deles, se ainda, realmente, não formos exatamente iguais a eles.

Nunca com julgamento no coração.

sábado, 18 de fevereiro de 2017

Entrevista - Carlos Baccelli



Nossa série de entrevistas prossegue, sempre objetivando fortalecer nossas Reflexões acerca do Caminho do Cristo. Nessa 'prosa', temos o prazer que acompanhar o pensamento do consagrado médium espírita Carlos Baccelli, que prontamente atendeu ao nosso convite, deixando momentaneamente seus inúmeros compromissos para responder a algumas perguntas.

O (a) leitor(a) perceberá que nosso convidado é incisivo em suas argumentações, sem se esquivar de assuntos polêmicos, como por exemplo o uso indiscriminado do nome de Chico Xavier, cisões no Movimento Espírita, mediunismo, etc.

Agradecemos muito ao Sr. Baccelli por ter contribuído com nosso modesto blog! Muito obrigado!!












1 – Reflexões e Caminho: Como o senhor avalia a importância do Culto no Lar? O senhor o pratica?
- Sem dúvida, mormente nos tempos atuais, o Culto do Evangelho no Lar é de suma importância para mante a família unida no clima da oração, em conexão com os Planos Superiores da Vida, sempre predispondo os seus integrantes a receberem a inspiração nas melhores decisões a serem tomadas. Em casa, o nosso Culto é sempre realizado aos domingos, a partir das 17:00 horas.




2 – R.F.: O senhor estuda rotineiramente os livros da Codificação Espírita?
- Sim, além de estudá-los, os livros da Codificação são livros de consulta indispensável para que possamos, gradualmente, ir assimilando o seu transcendente conteúdo. Além do Pentateuco, igualmente, temos  sempre em mãos a coleção da “Revue Spirite”, fundada por Allan Kardec, repositório de profundos esclarecimentos de natureza doutrinária.
 



3 – R.F.: Qual a sua opinião sobre o Movimento Espírita atual?
- Inegavelmente, como já nos advertia Chico Xavier, existe uma tendência à elitização, que precisa ser enfrentada com lucidez, na certeza de que o Espiritismo, na revivescência do Cristianismo, veio para o povo. Os Encontros Espíritas, em geral, infelizmente, estão se tornando inacessíveis ao grande público, devido o elevado preço de suas taxas de inscrição. E mais: ao que nos parece, os oradores convidados para tais Eventos são, preferencialmente, os que não contrariam as diretrizes do chamado Movimento de Unificação – além de, quase necessariamente, terem que possuir títulos acadêmicos em seus currículos.
 
 4 – R.F.: O senhor se considera privilegiado por ser médium?
- Claro que não. Aliás, o único privilégio que tenho tido na condição de médium é o de trabalhar no cumprimento de meu singelo dever, o que, sem duvida, me é motivo de grande alegria. No mais, devo dizer que mediunidade para mim tem sido sinônimo de luta, e de luta grande no campo da intolerância e da crítica de que, particularmente, tenho sido alvo há exatos 45 anos, desde quando, em parceria com Chico Xavier, tive oportunidade de publicar o nosso primeiro livro mediúnico.
 



5 – R.F.: Seus livros psicografados, muitas vezes trazem informações que chocam alguns setores do Movimento Espírita. Há quem diga que as novas informações, se fossem verdade, seriam ratificadas por outros médiuns via Controle Universal do Ensino dos Espíritos. O que o senhor tem a dizer sobre isso?
- Creio que esteja faltando um estudo isento da parte dos críticos, porquanto muitos outros médiuns já têm sido instrumentos de informações semelhantes. A questão é que esses “outros médiuns”, insinuados pela crítica doutrinária, não passa de um ou outro que essa mesma crítica considera na condição de médiuns “titulares” na Doutrina. Um absurdo, sem dúvida. Vamos a um exemplo: vários médiuns têm recebido a informação de que Chico Xavier era a reencarnação de Allan Kardec, e, não obstante, a não aceitação de tal realidade, da parte dos contestadores da tese, continua.  A critica espírita, com raras exceções, é extremamente tendenciosa.
 
 
6 – R.F.: O senhor sabe que os espíritos de luz, muitas vezes, se valem de pseudônimos e daí transmitem suas mensagens. Os amigos espirituais que escrevem através do senhor estão todos identificados por alguma exigência sua?
- Eles não se identificam por exigência minha – o médium não exige, o médium serve sem impor condições. Segundo Kardec, o nome, ou o codinome, do espírito comunicante possui importância relativa, e não absoluta. Muitos dos Espíritos da Codificação não se identificaram a não ser como “Espírito Protetor”, “Anjo Guardião”, etc.
 



7 – R.F.: O senhor já foi alvo de fascinação?
- Se fui, eu não saberia dizer, porque o fascinado não sabe do estado de fascinação que esteja padecendo por ação dos espíritos infelizes.

 
8 – R.F.: Em sua opinião, como o senhor avalia o impacto de Chico Xavier no Espiritismo brasileiro?
- Ele pode, sem dúvida, sem dividido em antes e depois de Chico Xavier. O “impacto” de Chico Xavier não aconteceu apenas no Espiritismo brasileiro, mas no Espiritismo mundial, porque sem as Obras mediúnicas de sua lavra o Espiritismo continuaria sendo uma doutrina do século XIX. Chico atualiza Kardec, e, através de seu exemplo, demonstrou como o Espiritismo deve ser vivenciado pelos seus adeptos.
 



9 – R.F.: Muitos espíritas tem alardeado ter extrema proximidade com Chico Xavier, fazendo revelações bombásticas e até mesmo criando cisões em alguns segmentos do Movimento Espírita. Como o senhor observa essa situação?
- Com preocupação, porque, em verdade, desses que andam alardeando amizade próxima com Chico Xavier, pouco estiveram com ele. Um deles, muito conhecido no Movimento Espírita, agora um tanto afastado por questões de saúde, só esteve em Uberaba, participando de uma reunião no “Grupo Espírita da Prece”, uma única vez. Sou testemunha ocular do que afirmo, porque, desde os 17 de idade, participei de reuniões com Chico, chegando a ser Secretário na “Comunhão Espírita Cristã”, antiga casa de trabalho do Médium, em Uberaba.



 
10 – R.F.: O senhor realiza uma atividade doutrinária de grade impacto, não apenas em Minas Gerais, mas também em todo o Brasil. O senhor se sente satisfeito com a própria obra?
- Não considero que esteja realizando uma atividade doutrinária de “impacto”. Conforme disse, apenas procuro cumprir com o dever, atento ao que me diz a consciência, e não a opinião de quem cuja maior obra tem sido a de sempre criticar o esforço alheio.



 
11 – R.F.: Alguns críticos afirmam que os livros psicografados pelo senhor deixaram de ser espíritas para serem designados como espiritualistas, não pelos personagens, mas pelo conteúdo muitas vezes diferente do que é encontrado na Codificação Espírita. Qual sua opinião sobre isso?
- Todo livro espírita, necessariamente, é espiritualista, ou não?! Agora, qual o critério de avaliação que está sendo utilizado para rotular algumas obras de nossa lavra mediúnica de antidoutrinárias?! Sinceramente, não reconheço tal autoridade em nenhum daqueles que assim se manifestam, principalmente pelo seu sofrível conhecimento das próprias Obras da Codificação.
 



12 – R.F.: Os direitos autorais de seus livros psicografados vão para algum trabalho assistencial? Se sim, qual?
- Os direitos autorais de todos os nossos livros são cedidos às Editoras que por eles se responsabilizam, e tenho a satisfação de dizer que, na atualidade, sou um dos médiuns que mais títulos possuem cedidos graciosamente a diversas Editoras: IDEAL, IDE, BOA NOVA, DIDIER, LEEPP e a outras, do Exterior – França, Alemanha, Itália, Espanha, etc. –, que têm feito a tradução de algumas dos livros que os Espíritos escrevem por nosso intermédio. Todas essas Editoras, ao que sei, mantêm diversificadas obras assistenciais.



 
13 – R.F.: Pode falar de seu livro psicografado mais recente?
- Trata-se de “PAZ DE ESPÍRITO”, de autoria do Dr. Inácio Ferreira, editado pela LEEPP – Uberaba, Minas Gerais. Em oitenta capítulos, o Dr. Inácio discorre sobre temas diversificados da vida cotidiana, procurando nos auxiliar na conquista da serenidade.



 
14 – R.F.: Alguma mensagem final?
- Agradeço pela oportunidade que se me faz tão rara, de vez que, em geral, os jornais e revistas espíritas – com pouquíssimas exceções –, manifestam a sua opinião negativa a respeito desse ou daquele companheiro de Doutrina, sem dar a ele oportunidade de falar sobre o seu trabalho. Infelizmente, em nosso meio doutrinário vige uma espécie de AI-5, do tempo da ditadura militar no Brasil.  


quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

O homem de Tarso


Autor Thiago D. Trindade 



Paulo, na primeira carta aos Coríntios (4:6-13) fala diretamente sobre as dificuldades de ser Cristão, que vai desde a difamação até violências físicas. No entanto, a Apóstolo da Gentilidade faz sobressair a Paciência e a Fé, embasados no poderoso cimento da Resignação.

A capacidade de Paulo em suportar as humilhações do mundo – e claro que vamos incluir as ações da espiritualidade inferior – mostra a grandeza desse homem em servir à Boa Nova. Embora os ensinos de Paulo fossem severos, esbanjam compreensão e conciliação.

O apóstolo entendia perfeitamente que aqueles a quem ensinava eram exatamente iguais a ele próprio – quem sabe até mais brandos – no obscuro passado, quando se dedicava a caçar os primeiros Cristãos. Esse currículo sombrio dava a Paulo o verdadeiro “conhecimento de causa” ao vislumbrar a seus pupilos a grandeza do Mestre Nazareno.

Com Jesus, Paulo aprendera a conciliar seu próprio Eu, derrotando o Ego. Com isso, o apóstolo se fez imbatível moralmente. Suas argumentações eram simples:

“Eu era violento. Não tinha paz na consciência. Hoje, com Jesus, sou manso e minha consciência está em paz.”

A cada pancada que levava, a cada prisão, a docilidade de Paulo arrebanhava cada vez mais pessoas, que então abriam seus corações para os Ensinos da Boa Nova. Respeitando a si mesmo, com as lições de Paulo, o aluno aprendia a respeitar o próximo. Dessa forma, o Segundo Mandamento do Cristo, que é amar ao próximo com a si mesmo era perpetrado.

Em nossas dificuldades, nos esquecemos dos exemplos daqueles que vieram antes de nós. Acreditamos que somos a grande vítima do mundo.

Mas não é assim.

Se fraquejamos, foi porque nossa determinação falhou. E determinação é sinônimo de Perseverança, Otimismo, Sobriedade.

Devemos caminhar com firmeza de propósito, seja no claro, no escuro, sob sol, sob chuva... sob a dor da perda dilacerante.

Saibamos que só carregamos o que podemos suportar.

Saibamos que existem dores materiais muito maiores do que aquelas que temos.

Saibamos que existem dores morais muito maiores do que aquelas que percebemos.

Em nossas fraquezas esquecemos da Bondade e Justiça de Deus e que tudo é transitório na matéria. Todos os percalços, opções, subidas e descidas na vida são depurativos para nosso Espírito Imortal.

Lembremos de Paulo que falava e exemplificava, mas era incompreendido por muitos.

Os Doze Apóstolos foram também perseguidos por não serem compreendidos.

E quanto a Jesus? O quão incompreendido era e é até hoje quando vemos seus pretensos seguidores, ao longo da História, fazendo tudo diferente do que Ele ensinou...

Mas perseveremos.

Quando caluniados, procuremos a conciliação.

Quando formos esbofeteados, ofereçamos a outra face, até que o agressor se canse e se pergunte que força é essa que nos sustenta, até vencer o ódio impiedoso.

Quando nos chamarem de lixo, mostremos que da escória surgem belas flores de Bondade.

Assim como Paulo fez.


sábado, 11 de fevereiro de 2017

Degustação de obra - O defunto (Livro Contos de Redenção), médium Thiago D. Trindade

O defunto








Incrédulo, assistia o espetáculo. Idas e vindas de gente que nem lembrava, trajando suas melhores vestes. Alguns tinham ido só para ver se era verdade a intempestiva notícia. Outros traziam lágrimas sinceras no rosto. Uns poucos, no entanto, traziam ares de escárnio.

Uma senhora de aspecto humilde fez uma prece aos pés do falecido Jarbas, cujo espírito, atônito, fitava tudo. O finado havia gritado, gesticulado para chamar a atenção de qualquer pessoa, mas não foi percebido por ninguém. Berrara até cansar.
- Doutor Jarbas, fique em paz – disse a velhinha pobre – ajudou muita gente. Deus o recompensará muito!

Jarbas, finalmente, reconheceu a mulher. Era uma costureira, cujo trabalho apreciava. Pagava-lhe sempre uma boa gorjeta e vez ou outra entregava a ela algumas roupas velhas para os filhos dela. Chegou a comprar um ou dois livros para eles, certa vez, mas essa recordação custou a vir na mente do falecido.

O velho advogado, agora defunto, viu a costureira ir embora. Pareceu a ele que a mulher trazia uma estranha luz. Logo, porém, as atenções de Jarbas se desviaram para um diálogo entre dois antigos conhecidos.
- Se o nosso bom Jarbas Cavalcante visse aquela velha rezando por ele – disse um homem calvo, com expressão de deboche – pularia do caixão e a esganaria. Ainda bem que não puseram um padre para arengar coisas que não existem!
- A velha veio se despedir, Mourão – ponderou o outro, cujo nome era Antenor – ela fez do jeito que sua rústica mentalidade permitiu. Afinal, muitos precisam de cabresto e que cabresto é melhor do que um Deus fictício que propõe um Reino onde todos são príncipes?
- Muito preciso seu comentário, Antenor – concordou Mourão – Jarbas iria cumprimentá-lo por isso. Só os ignorantes se valem de uma força nunca vista e não sentida. O mundo é dos Homens e só. Quando morremos, acaba-se e pronto. A única vida além da morte é a que fica nas lembranças dos amigos.

Jarbas ouviu aquelas palavras com desconforto. Ele fora o divulgador de conceitos ateus para aqueles dois amigos, e, de fato, em outra situação ficaria satisfeito por ouvi-los falar daquela maneira.

Nunca, jamais, em tempo algum, o nobre defunto imaginaria que os ignorantes tivessem razão. Porém, a poucos metros, seu corpo frio estava ali, semi-coberto por flores brancas de gosto duvidoso. Era toda a situação muito esquisita.
- Você já percebeu que está errado em seus conceitos? Indagou uma voz feminina.

Jarbas se virou e viu uma distinta senhora sorrindo para ele. Ela vestia um longo vestido violeta claro e falava visivelmente com o finado advogado.
- Você me vê! – exclamou Jarbas, passando a mão na cabeça suada e desgrenhada – caramba!
- Pois sim – respondeu a senhora – vejo com os olhos e com o coração. Muitos aqui o vêem também, mas com os olhos do coração.
- Como eu estou aqui e ali? – indagou Jarbas, pontando para seu cadáver inerte – isso não pode ser a morte?!
- Não existe morte, Jarbas – explicou a enigmática mulher – apenas deixamos nosso corpo físico, que nos funciona como uma casca provisória.

A mente esgazeada do advogado girou mais ainda. Tentou ajeitar o cabelo encanecido. Seu peito ardia violentamente desde que se descobria em dois lugares diferentes.
- Sempre foi dito que há o Céu e o Inferno. Onde estão?! Exclamou Jarbas, procurando por uma saída de sua situação.
- Trazemos o Céu e o Inferno dentro de nós – respondeu calmamente a dama que parecia emanar uma tênue luminescência – agora, meu querido, é hora de acalmar o coração. Entenderá tudo em breve. Deve descansar.
- Descansar? – repetiu o velho doutor com ironia – ao que vejo descansarei pela eternidade nesta capela tosca. Ou me será facultado sair daqui?
- Até mesmo após o desenlace há o livre-arbítrio, Jarbas – disse a mulher – para tudo há ação e reação. Ouça meu conselho e se acalme.
- Aliás, me perdoe – atalhou Jarbas, percebendo que sua situação esdrúxula o fizera esquecer os bons modos – esta minha condição me alterou tanto que perdi a compostura por um momento. Como se chama, distinta senhora?
- Mariana – respondeu a dama, com um sorriso – vim assisti-lo em sua atual condição. Posso, aqui mesmo, esclarecê-lo em alguns pontos em que perguntas se fazem presentes. Após, acompanhá-lo-ei a uma estância específica.
- Pois bem – resfolegou Jarbas, percebendo a autoridade que Mariana parecia dispor – as pessoas aqui não me vêem porque sou um fantasma. Ficarei aqui para sempre? Se estou mesmo morto, porque suo e tenho violentas palpitações cardíacas?
- Avaliar-se fantasma não é de todo errado, ainda que seja um termo não usado por nós – respondeu rapidamente Mariana, denotando eficiência e até mesmo certa expectativa naquelas inquirições apresentadas por Jarbas – espírito é um termo melhor. Como já disse a você, ninguém o vê com os olhos. No entanto pode ser percebido com o coração. – a dama contemplou a reunião à volta do corpo inerte do advogado – não se preocupe, por ora, com conceitos. Creio ser mais urgente para você a questão do suor e das palpitações. És recém readmitido nos Planos Espirituais e os reterá por algum tempo ainda, devido a memória orgânica não estar trabalhada. Eleve seus pensamentos a Deus que esses sintomas diminuirão.
- Deus está onde, presumindo-se que Ele exista? Continuou o aturdido advogado.
- Deus está em Tudo! – sorriu Mariana, enquanto Jarbas se apoiava cansadamente na borda do próprio caixão – tudo é obra Dele. Ocorre que você não o sente, justamente por que não quer. Já ouviu a máxima: Na Casa de Meu Pai há muitas Moradas? Pois bem, Nosso Pai está em todas elas, mas Sua Face Excelsa só pode ser vista em esferas mais elevadas. Entendeu?
- Porque nesses lugares mais altos, enxerga-se Deus com os olhos do coração. Sentenciou Jarbas, espantando a si próprio com a reflexão.
- Sim. Atalhou a outra meneando a cabeça venerável em acordo.
- Não obstante, são respostas diferentes do consenso dos vivos, mesmo dentre os líderes da área religiosa – argumentou Jarbas, fitando seus dois velhos conhecidos – Como pode ser?!

Mariana contemplou o pupilo com doçura quase palpável. A tranqüilidade dela o afetava. O antigo advogado se voltou para a família que tanto amava e zelava com fervor. Leda, sua esposa, estava cercada pelos filhos crescidos. A viúva e os órfãos traziam lágrimas discretas nas faces fatigadas. À medida que fixava os olhos na família, Jarbas divisou vultos, e depois rostos bem definidos. Essas estranhas faces, próximas aos amados do finado, eram serenas e venerandas, como era a de Mariana.
- Quem são eles? Indagou Jarbas a Mariana.
- Ah, já vês os amparadores – elogiou a doce entidade – são os amigos espirituais de sua família. Todos os encarnados são acompanhados por entidades que são atraídas e mantidas, em muitos casos, por simpatia vibracional. É um bom tema de estudo, mas é profundo nesse momento. Prometo que entenderá melhor...
- Leda sempre foi uma cristã devota – proferiu Jarbas, com um suspiro e interrompendo Mariana – e eu muito lutei com ela por isso. Temia que meus filhos fossem escravos da religião.
- Sei disso – volveu a benfeitora de Jarbas – Leda sempre foi uma pérola em sua vida. As crianças também.
- Falhei com meus filhos. Resmungou o novo defunto.
- Não por isso. Ensinou a eles a necessidade das leis dos Homens. A coesão dos atos – esclareceu a dama – você é um homem bom para sua família, um bom cristão, ainda que nunca tenha se assumido temente à Deus.
- Não entendo – balbuciou o homem – como posso ter sido um bom cristão?
- Ao Homem será dado conforme suas obras, Jarbas – asseverou Mariana – você sempre buscou a justiça dos Homens. Pagava as contas com rigor, mas sabia perdoar os atrasos nos pagamentos daqueles que te deviam. Foi um exemplo para sua comunidade, no que toca a retidão moral. Doava recursos para que sua esposa ajudasse os necessitados, e não impedia seus compromissos religiosos. Quantas palavras amigas dera aos desesperados que cruzaram seu caminho... Achava que suas práticas não era Caridade?
- Era minha obrigação perante a Sociedade! Insistiu o velho advogado.
- Auxiliar o próximo – atalhou Mariana – é amar a Deus! Sua fé na Humanidade o fez um bom cristão.
- O que fiz foi tão pouco! Lamentou Jarbas meneando a cabeça.
- Decerto – concordou a entidade – mas ainda assim o que fez é importante. Nada é desconsiderado ou pouco valioso.
- Poderia ter feito mais. Resmungou o finado.
- Poderia mesmo. Sentenciou Mariana.

Jarbas se silenciou. Sua vida corria diante de seus olhos cansados. As palavras que lançara contra Deus amargavam sua boca. Uma súbita fraqueza o balançou. Mariana, com delicadeza, o amparou.
- No todo – balbuciou Jarbas – eu mereço o Inferno. Posso ter feito coisas boas aos olhos de Deus. Mas o número de coisas ruins é deveras grande.
- A árvore que plantaste é mirrada – argumentou Mariana – mas seus frutos são doces. Não se lembra da costureira Anastácia, que aqui veio? Muitos dos beneficiados por você não puderam vir em termos de matéria, ou corpo presente como você diria. No entanto, muitas orações chegam até ti. E são estas que mais contam!
- Sempre acreditei que a Ciência fosse a Verdade! Exclamou o recém desencarnado.
- Você está correto, em parte – devolveu a benfeitora – a Ciência, como os encarnados chamam, é Obra de Nosso Pai. Todos os processos, fórmulas e equações...Tudo emana de Deus! O problema é que alguns acreditam que podem controlar a Ciência. No entanto, a Ciência, que ocorre por inspiração de Nosso Pai aos seus filhos deveria ser vista como um gesto natural de Deus.
- Sempre neguei a existência de Deus! Bradou Jarbas.
- E sempre foste um bom filho dele. Interrompeu a outra.
- Enquanto eu via meu corpo sendo preparado, pensava em minha família lançada à própria sorte. Agora sei que eles estão em melhor situação do que eu...
- Mais uma vez seu raciocínio foi muito correto. Disse Mariana.
- Para onde irei? Perguntou o advogado, certo que havia chegado a hora de apartar-se de seu corpo frio.
- Irá a um lugar, semelhante a um hospital, onde passará por refazimento e receberá outras explicações – respondeu docemente a entidade – a separação, breve, de sua família e de seu mundo será benéfica para todos. Um dia todos se reencontrarão e traçarão novos planos de evolução.

Os olhos de Jarbas pousaram em seus dois amigos ateus. Preocupou-se imensamente com eles. As mãos leves e confiantes de Mariana pousaram nos ombros fatigados do ex-advogado.
- Seus amigos acordarão para a Verdade – disse a mulher – talvez você, um dia, possa ajudá-los. Lembre-se: Deus nos ama tanto, que nos perdoa as más ações, ainda que tolas. Ninguém ficará para trás.
- Ajudarei, sim. Proferiu Jarbas, com confiança.
- Agora chegou a hora de ir – anunciou Mariana – os laços derradeiros que o prendiam aqui foram cortados.

Amparando o velho ex-ateu, que se descobrira Servo de Deus, Mariana se tornou luz e o levou dali, para um posto de recuperação. Jarbas, um dia, iria retornar e traria em sua fronte a luz da Cruz Redentora que todo bom servidor emana.





























O verdadeiro homem de bem é aquele que pratica a Lei da Justiça, do Amor e da Caridade em toda sua pureza. Questiona sua consciência sobre seus próprios atos, pergunta a si mesmo se não violou essa Lei, se não fez o mal, se fez todo o bem que podia, se de propósito não deixou escapar uma ocasião de ser útil, se ninguém tem queixa dele, enfim, se fez aos outros tudo o que gostaria que os outros lhe fizessem.



Fragmento retirado do Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo XVII, O homem de bem. Item 3.



Essa obra é comercializada em prol do Asilo para idosas e Creche Seara de Luz, em Paracambi-RJ e pode ser adquirida em https://www.mythoseditora.com.br/catalogo/default.asp?acao=detalhe_produto&cod_produto=4085&categ0=&categ1=&categ2= 

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Falando sobre o tempo




Autor Thiago D. Trindade


Iremos refletir um pouco sobre o tempo. Não iremos, por enquanto, nos referir sobre as condições climáticas, mas si sobre o que fizemos, fazemos e faremos. Nesse momento, iremos avaliar nossas existências.

É muito comum ouvirmos e dizermos: “Os tempos estão chegados!”

Mas que tempo é esse?! E onde estamos chegando?

O tempo é referência da mudança, da transformação. E estamos chegando ao limiar de uma nova Era. A Era da regeneração onde o tempo do Homem Integral, ou seja, do Homem Novo irá se reunir na face da Terra, amealhando condições para contemplar melhor a face do Cristo redivivo.

Ocorre que somos nós quem marcamos o tempo. Nós definimos, de fato, a chegada do mundo de Regeneração. Não basta que nós falemos do Cristo. Temos que vivenciar os Ensinamentos do Cristo. Por alguma razão, infelizmente, abraçamos o comodismo, que é um dos nomes do egoísmo.

Em Tiago, o apóstolo, lemos: “Eia agora, vós que dizeis...amanhã...”(4:13).

O que  discípulo de Jesus queria dizer é justamente isso: “Não deixe para amanhã o que se pode fazer hoje.”

E o que devemos fazer hoje?

Perdoar, auxiliar, ouvir, não julgar, ter tolerância, ter paciência, alimentar o corpo e o Espírito de alguém.

AMAR.

Os tempos estão chegados e o que fazemos? Responda apenas a si mesmo.
Muitos irmãos desencarnados nos trazem mensagens de amor, sabedoria, de alento, mas também nos falam: “Como eu perdi TEMPO! Fui egoísta, orgulhoso, descuidado, joguei a vida fora!”

Na verdade, sabemos que não jogou a vida fora, mas atrasou a si mesmo na estrada do progresso, ao comprometer sua reencarnação.

Porém, esses irmãos uma vez despertos, arregaçam as mangas e procuram estudar e trabalhar para sua própria edificação, e, por conseqüência atuam para  desenvolvimento da Humanidade. Um lindo exemplo é  que nos traz o amigo Espiritual André Luiz, em sua saga de crescimento moral na série “A Vida no mundo Espiritual”, mais popularmente chamada de Coleção André Luiz.

Bem, algum desavisado poderia considerar: “Ora, se nós sempre temos segundas chances, quando eu desencarnar, irei trabalhar.”

Isso é o tal “empurrar com a barriga”. Mas é interessante lembrar que somos estudantes da Verdade de Jesus, que nos confere duas coisas:

RESPONSABILIDADE E AUTORIDADE

Responsabilidade em assumir a posição de buscar a evolução através da prática do perdão e da caridade, em suma, a prática do Amor para  crescimento espiritual.

A autoridade está no servidor do Cristo, em qualquer nível que esteja, é evidenciada pelo distintivo da Fé, que o leva a caminhos escuros e pedregosos, dissipando a escuridão da ignorância e usando a Razão e a Paciência em instruir a quem ainda está mais atas na estrada do Progresso. A autoridade do Servidor do Cristo é a base da postura coerente com os Ensinamentos: Amar a Deus e ao Próximo.

E o Tempo, tema central desta reflexão, permeia a Responsabilidade e a Autoridade. Usemos o Tempo como nosso aliado, entendendo que nada é por acaso e as dificuldades que encontramos ao longo da vida nos são necessárias para crescermos.

Ignorar o Tempo é sofrer, pois quando quisermos ser amigos dele, poderá ser tard demais e provavelmente irá dizer: “PERDI TEMPO!”

Aproveitemos os momentos de alegria, claro, mas saibamos encarar com resignação os momentos de dor, certos de que são passageiros. Afinal, como disse um sábio indiano há cerca de 2500 anos atrás: “Tudo será transitório neste mundo até que reine a definitiva luz”.

Reflitamos mais sobre como aproveitar nosso Tempo orando mais, vigiando mais, estudando mais e servindo mais. Devemos, com Cristo, apertar o passo na busca pelo Homem Novo, que é despojado da preguiça egoísta que nos prende a viciações mentais.

Nós somos os trabalhadores da Última Hora. O campo de trabalho está aí. Devemos arar agora nossos corações com Amor para florescer luz em nosso Espírito.


Amar é o único Caminho.

sábado, 4 de fevereiro de 2017

Samaritano

autor Thiago D. Trindade



Certo dia, um homem sem rosto, sem nome, sem sabermos se era pobre ou rico, judeu ou gentio, saiu de Jerusalém para Jericó. O tal homem acabou assaltado e, por alguma razão, foi gravemente ferido. Não sabemos se o viajante tentou reagir, ou se ele reconheceu alguns dos assaltantes.
Deixado para morrer, o viajante sem nome ficou estirado ao chão poeirento do canto mais pobre do Império Romano.
Veio então um sacerdote, um membro da elite judaica, um pilar da sociedade, pois cabia a essa classe de cidadãos a guarda das tradições, da religiosidade. Para o povo, os sacerdotes eram os representantes de Deus! E o tal nobre passou pelo homem ferido e seguiu seu caminho.
Mais tarde, um levita chegou pela estrada. Os levitas também tinham sua vida em volta do templo. Os levitas eram os auxiliares dos sacerdotes, servindo como guardas, padeiros, pintores, cuidadores dos animais, etc. Esses cidadãos tinham o mesmo compromisso que os sacerdotes em zelar pela manutenção das tradições, e dentro dessa premissa, estava a religião. E o levita passou pelo homem ferido e continuou seu caminho.
Depois, veio um homem. Não se sabe se veio de Jericó ou Jerusalém. Ele apenas surgiu. Mas sabe-se que veio da Samaria, uma região mal vista pelos hebreus desde a morte do Rei Salomão. Inclusive, os povos da Judéia, Peréia e Galiléia, afirmavam que os samaritanos não eram parentes, alegando que esse povo deturpara as tradições em algum momento da história local. Esse homem discriminado, sem rosto, sem condição social definida, viu o viajante caído e foi até ele. O homem caído foi resgatado por outro, marginalizado por muitos.
O samaritano limpou as feridas com óleo e vinho, que aliás eram os medicamentos antissepticos usados à época, e um bem muito valioso para os oprimidos pelos romanos. Corajosamente, o filho de Samaria levou o desconhecido a uma estalagem e pagou para que cuidassem do homem que jamais vira em sua vida.
Que lição poderosa essa!
Essa lição, ou parábola, está no livro de Lucas (10: 25 até 37). Jesus proferiu essa parábola a um doutor da lei, que indagou ao Nazareno como ele deveria proceder para alcançar a vida eterna, ou seja, o Reino de Deus.
Mas será que esta parábola se adéqua ainda aos dias de hoje?
Que papel desempenhamos? O sacerdote? O levita? O samaritano, talvez? Ou a do estropiado?
Bem, conhecemos a Lei do Amor, que nos manda amar a Deus, amar o próximo. Sabemos que o perdão é a chave para a evolução, pois perdoar é o mais gesto de amor. Os sacerdotes eram os responsáveis por zelar pelos Ensinamentos de Deus. Nós somos como os sacerdotes. E fazemos como os sacerdotes da parábola quando nos levamos pelo rancor, inveja, ciúme, vingança, deixando ao relento algum irmão tão ou mais carente do que nós.
Temos um templo externo para manter, como os levitas. O maior templo é o lar e o segundo é a Casa Religiosa. O lar, santuário doméstico, muitas vezes é conspurcado pela intolerância e tirania, enquanto ao templo religioso é espaço para frieza, soberba e discriminação contra aqueles que pensam diferente do outro. E abandonamos à própria sorte nossos familiares, nossa grande obrigação, e aos confrades jogados à triste cisão.
Podemos também agir como o samaritano. Ajudar o caído com ações e palavras. Podemos limpar as chagas abertas com o óleo da misericórdia e lavar as feridas com o vinho do amor fraternal. Discretamente podemos acalentar um espírito em sofrimento.
Mas e quanto ao estropiado? Esquecemos dele? Somos, certamente, estropiados morais. Somos tomados por viciações variadas, tais como o rancor, a inveja, o ciúme e por aí vai. E ficamos estirados ao chão poeirento e duro da existência que impomos a nós mesmos, se recusando a levantar em nosso benefício.
Somos, em verdade, esses quatro personagens da parábola dita por Jesus. Temos que vencer o sacerdote e o levita em nós. Temos que robustecer o samaritano com a fé e a caridade que irão nos impulsionar para o Alto. Temos que nos reconhecer estropiados morais para aceitar, de fato o tratamento ofertado por algum samaritano que o Caminho trouxe até nós. Desta forma, alternamos o samaritano e o estropiado e assim iremos fortalecer o primeiro e curar o segundo, até que por fim, repitamos, com pureza e verdade, a fala de Paulo de Tarso: “travei o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé” (II Timóteo) que faz alusão direta em vencer as próprias viciações, se aproximando, ainda que um pouquinho, da angelitude.
Os Samaritanos (com “S” maiúsculo mesmo) estão por aí, nas ruas frias, nos hospitais, nas favelas. Não escolhem lugares luminosos, sob muitos olhares e não negociam suas ações. Tanto encarnados quanto desencarnados, tais servidores do Cristo, tal como o homem sem rosto da parábola, são discretos e longe da perfeição. São pessoas comuns que, no esforço de vencerem suas más tendências, criam condições de melhoria material e moral de terceiros que muitas vezes não conhecem. Tais Samaritanos, o verdadeiros, não esperam agradecimentos e quase sempre são incompreendidos por aqueles que o cercam. Mas seus tímidos sorrisos de esperança brotam quando um olhar de gratidão pelo amparo é dirigido a eles.
Que nós estudemos mais a parábola do Samaritano, e mais, que possamos seguir seu exemplo, lembrando sempre que o maior Samaritano de todos é Jesus de Nazaré