terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Afazeres



autor Thiago D. Trindade




Jesus estava em Betânia em seu magistério de Amor. Na casa das irmãs Marta e Maria, o Mestre proferia grandes ensinamentos que enlevariam toda a Humanidade. Enquanto Maria absorvia as doces palavras de Jesus, Marta caminhava de um lado a outro, em afazeres domésticos.

Em dado momento, Jesus cessou suas palavras e se volta para a jovial Marta: “Marta! Marta!”. O Nazareno exortou a irmã de Maria com um misto de firmeza e doçura, alertando a moça da oportunidade de aprendizado que ela estava deixando passar.

Marta, imediatamente, compreendeu a intenção do Rabi e sentou-se ao lado de sua irmã, absorvendo ensinamentos inesquecíveis.

Essa passagem representa muito bem o cotidiano atual. Temos os ensinamentos do Cristo, mas preocupamo-nos com nossos afazeres corriqueiros acreditando que dessa forma cresceremos. Em verdade, temos que saber aproveitar os momentos tomando as situações do dia a dia com nossa atenção e impregnando-as com os ensinamentos de Jesus de Nazaré.

Isso é possível e esperado. Daí a César o que é de César, mas com Jesus no coração e nos atos.

Muitos se lembram da caridade quando estão na casa religiosa, mas esquecem-se de que devem ser cristãos na vida profissional e privada. A todo momento, o Cristo nos chama com firmeza e doçura, nos convidando ao aprendizado e ao serviço fraterno.

Muitos argumentam, nosso posso ajudar, é um compromisso grande. Mas a ajuda é a todo momento, começando com o próprio indivíduo orando e vigiando para não tropeçar ante a queda moral. Como Marta, temos o Cristo em nossa sala, mas preferimos ficar na cozinha, nosso pequeno reino. Achamos que o Cristo deve vir até nós, em muitos momentos. E Jesus sempre vai onde estamos, pois é conhecedor de nosso ego. Mas também temos a obrigação de ir até ele, mesmo que imersos em nossos afazeres mundanos.

O convite a sentar ao lado do Mestre já foi dado. É hora, pois, de trabalharmos com Jesus para nosso próprio crescimento e evolução do planeta.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016


Barrabás



Autor Thiago D. Trindade






Barrabás, essa figura que atravessou os séculos como cruel criminoso, personagem de muitos livros e filmes, atingiu o nosso imaginário que foi preferido pelo povo, quando este foi posto ao lado de Jesus por Pilatos. O criminoso acabou livre dos grilhões de ferro que lhe prendiam a carne e o Nazareno acabou livre dos grilhões da carne, assumindo mais uma etapa no seu plano para evolução da Humanidade.

Em verdade, no Novo Testamento da Bíblia, a participação de Barrabás se encerra e ele desaparece. No entanto, fica para nós o seu exemplo. O que o tal ladrão representa para nós? O crime? Não.

Pensemos da seguinte forma: Barrabás, o Terreno, aquele do mundo, fanfarrão, apegado à matéria. Jesus, o Sublime, o sentimento de pureza celestial que nos aproxima da Divindade. Geralmente, escolhemos Barrabás. Afinal, nós o vemos, uma vez que ele é terreno como nós. Barrabás está ao alcance de nossas mãos egoístas. Já Jesus, não podemos vê-lo e somente com pureza de coração podemos tentar encontrá-lo por que dá trabalho.

Acabamos por imitar Pilatos, que mesmo sabendo da inocência do Cristo, conforme vemos em João (18: 38 e 19:4), e ainda assim o condenou à tortura e morte.

Muitos religiosos debatem a respeito da necessidade, para nós, de Jesus ter sido crucificado. Essa reflexão não se destina a isso. Nosso objetivo maior é levar a reflexão de como podemos escolher melhor. Ora, o que Barrabás e Jesus oferecem? Transitoriedade e eternidade, respectivamente.

Ocorre que preferimos a enganadora transitoriedade por conveniência. Afinal, para libertarmos Jesus, devemos nos comprometer com ele, ou seja, abandonar o uso das mãos egoístas e desenvolver olhos capazes de ver além das aparências passageiras. Libertar o Cristo significa desenvolver a pureza do coração.

Após a Crucificação do Mestre Galileu, Judas-Tomé, precisou que Jesus se materializasse diante de si para acreditar, de fato. E, para ajudar o amado pupilo, o Cristo assim o fez, materializando-se. No entanto, o Nazareno, com seu misto de ternura e firmeza, asseverou: “bem aventurados os que não viram e creram” (João 20:25).

Mas não é fácil libertar Jesus dos grilhões de nossa ignorância. Ele sabe muito bem disso e mantém suas mãos esticadas para nós, como vemos em inúmeras imagens mundo à fora. Jesus não desdenhou de Barrabás, o Ladrão, pelo contrário, conhecia bem a força e até do valor do antigo judeu. Através do generoso silêncio e das ações estimulantes, Jesus nos orienta a transformarmos Barrabás, o Mundano, em Barrabás, o Cristo. Cristo, aliás, significa ungido e todos nós estamos fadados a ser como Jesus, pois somos todos irmãos, filhos de Deus, e esta é a vontade do Criador, conforme o Rabi tantas vezes assinala em seu Evangelho.

E quanto ao homem chamado Barrabás? Aquele imperfeito homem de carne e osso, intemperado e igual a nós? Que foi feito dele, após sua libertação das correntes de ferro? Existem várias histórias e as respeitamos, mas, verdade seja dita, o antigo criminoso acabou, como todos os outros daqueles acontecimentos, acalentado por Jesus, no momento que ele mesmo escolheu.

Certamente hoje, Barrabás é um dos valorosos Servidores do Cristo, inspirando a nós a estudarmos o seu exemplo e, dessa forma, a nos ajudar a usar melhor nossa capacidade de escolha.

domingo, 10 de janeiro de 2016

A Enxada






Autor Thiago Dias Trindade

Quando estudamos a mensagem do espírito Ferdinando, intitulada “Missão do Homem inteligente na Terra”, no capítulo 7 do Evangelho Segundo o Espiritismo, percebemos que a sábia entidade faz alusão direta a Conhecimento e Responsabilidade.

Conhecimento, entendamos, ser as informações que podem ser bem ou mal utilizados e que Sabedoria não é nada além do bom uso do conhecimento. E usando bem ou mal o conhecimento arcaremos com suas conseqüências. Devemos entender, em verdade, que plantamos e colhemos constantemente neste mundo de provas e expiações.

Seguindo o raciocínio do espírito Ferdinando, na mensagem supracitada, a enxada é o instrumento fundamental para o trabalho do ajudante do jardineiro, que sob a orientação deste último, realiza uma série de tarefas. Tomemos, pois, a enxada por Evangelho, o ajudante somos nós, e o jardineiro, sendo o excelso Mestre Jesus.

O Evangelho, ou Enxada, é o instrumento que nos faz crescer, quando manejado, ou utilizado, com seriedade. Tal instrumento pode ser posto de lado, jogado mesmo, se assim quisermos. E quantas vezes jogamos a enxada para algum canto, permitindo que as ervas daninhas do ego (inveja, ganância, rancor, cobiça, luxúria, etc) cresçam fortes e que acabam por danificar o belo jardim de nossa existência?

O Jardineiro, Jesus, mais comumente chamado de Carpinteiro, que conhece cada um de nós, se encarrega de pegar a enxada caída ao largo de nosso caminho e a põe ao alcance de nossa mão e sussurra, confiante, em nossos ouvidos espirituais: “Perdoe!, Ame!, Trabalhe a si mesmo para crescer!”

Usar a enxada do Evangelho em benefíficio próprio é um trabalho duro e de muita responsabilidade. Cria músculos morais. A pele espiritual fica engrossada pela perseverança em atravessar e vencer as intempéries evolutivas que impomos a nós mesmos. O suor que vertemos é pura fé, a certeza da vitória.

Mas é claro que nos cansamos! No entanto, ao invés de jogarmos a enxada ao chão, podemos nos apoiar nela e respirar. Podemos nos apoiar no Evangelho do Cristo e respirar o méximo possível o perfume da resignação e então voltar a “carpir” novamente o solo existencial que possuímos.

Trabalhando firme, um dia, chegaremos a Jardineiro, conforme Jesus assegura, e iremos a ajudar os outros aspirantes a se tornarem protetores da obra Divina de Deus.


segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

A professora





Thiago D. Trindade

Analisando pelo prisma da Educação, a Dor é uma professora. Uma professora daquelas lendárias, temíveis que faz o aluno pensar duas vezes antes de cruzar seu caminho. Não que seja má. Pelo contrário, a professora austera de nossa juventude reza apenas pelo cumprimento das normas. Lembramos dela, anos depois, com respeito e até com uma surpreendente admiração, recordando qual disciplina ela ministrava e com espantosa nitidez vemos diante de nossos olhos o conteúdo ensinado, por mais enjoado – sempre era – que fosse.

Puxando pela memória, lá está a professora, no cantinho da festa de formatura, semiesquecida. Essa figura austera quase nunca é homenageada, mas podemos ver em sua face o sorriso contido que assinala a muda sensação de dever cumprido. Preferimos os professores bonachões, mais “amigos”, que muitas vezes relaxavam nas cobranças acadêmicas. A longo prazo, mais maduros, percebemos o resultado do desleixo duplo: o nosso e o dos professores bonachões.
A Dor, já citada na primeira frase da reflexão em tela, é uma austera professora. Nos impõe limites. Ensina que a Disciplina é fundamental para o sucesso. Disciplina é Humildade de saber qual nossa verdadeira posição perante o mundo. Disciplina ensina que mais além há algo melhor, sendo, portanto, um sinônimo de Paciência e Fé, ainda que mal lembrada por esse ponto de vista.

Disciplina é sobriedade.

Somos ainda imperfeitos e muitas vezes a Disciplina tem de ser imposta. Um verdadeiro tranco, que incomoda, gera insatisfação. Até surge o rancor, mal disfarçado pela nobre expressão “respeito”. E rancor não é Respeito! À medida que evoluímos, percebemos que a Disciplina passa a ser manifestada naturalmente. A Disciplina se torna, por fim, aureolada por Respeito e Responsabilidade. Não há imposição. Um Espírito altamente evoluído, justamente por ser assim, segue a Disciplina rígida de sua falange – ou grupamento. Tem seus momentos de árduo trabalho e também de repouso e alegria. Um Espírito ainda muito apegado às materialidades, precisa de Disciplina para poder evoluir e ser disciplinado plenamente. A Dor, essa professora rigorosa, ensina a Disciplina. Mas ensina o Perdão, a Humildade, a Paciência, a Perseverança e a Fé. Em suma, ensina a Amar. Só se pode amar verdadeiramente com Disciplina, caso contrário descambamos para os mares turbulentos das paixões e não há, portanto, elevação alguma. Se não houvesse a professora Dor, como haveria o Diploma da Superação?

A Dor marca. Escreve em nosso Espírito imortal nossas vivências e não há ninguém sem ter conhecido a Dor. Logo, na Escola da Vida onde todos estamos matriculados, a Dor é nossa professora e devemos respeitá-la de verdade. Absorver ao máximo a contribuição que ela nos traz. E devemos homenageá-la em nossa formatura, trazendo para o palco essa austera senhora. Reconhecedores da grandeza silenciosa dessa dama, beijaremos suas mãos duras e seu rosto marcado. Então, com a voz vibrante, saindo do âmago de nosso ser, anunciamos:

“Estudei com a Dor e aprendi sublimes lições. Com a Dor aprendi a Crescer. Graças a Dor, eu Venci.”