quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Um pouco de história



Charles Darwin já esteve no Brasil. Em seu diário de viagem durante a expedição no navio Beagle ele fala sobre a escravidão em nosso país. Confira este trecho:

“Perto do Rio de Janeiro, minha vizinha da frente era uma velha senhora que tinha umas tarraxas com que esmagava os dedos de suas escravas. Em uma casa onde estive antes, um jovem criado mulato era, todos os dias e a todo momento, insultado, golpeado e perseguido com um furor capaz de desencorajar até o mais inferior dos animais. Vi como um garotinho de seis ou sete anos de idade foi golpeado na cabeça com um chicote (antes que eu pudesse intervir) porque me havia servido um copo de água um pouco turva… E essas são coisas feitas por homens que afirmam amar ao próximo como a si mesmos, que acreditam em Deus, e que rezam para que Sua vontade seja feita na terra! O sangue ferve em nossas veias e nosso coração bate mais forte, ao pensarmos que nós, ingleses, e nossos descendentes americanos, com seu jactancioso grito em favor da liberdade, fomos e somos culpados desse enorme crime.”
(Charles Darwin, A Viagem do Beagle)

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

O Homem de Tarso



autor Thiago D. Trindade



Paulo, na primeira carta aos Coríntios (4:6-13) fala diretamente sobre as dificuldades de ser Cristão, que vai desde a difamação até violências físicas. No entanto, a Apóstolo da Gentilidade faz sobressair a Paciência e a Fé, embasados no poderoso cimento da Resignação.

A capacidade de Paulo em suportar as humilhações do mundo – e claro que vamos incluir as ações da espiritualidade inferior – mostra a grandeza desse homem em servir à Boa Nova. Embora os ensinos de Paulo fossem severos, esbanjam compreensão e conciliação. 

O apóstolo entendia perfeitamente que aqueles a quem ensinava eram exatamente iguais a ele próprio – quem sabe até mais brandos – no obscuro passado, quando se dedicava a caçar os primeiros Cristãos. Esse currículo sombrio dava a Paulo o verdadeiro “conhecimento de causa” ao vislumbrar a seus pupilos a grandeza do Mestre Nazareno.

Com Jesus, Paulo aprendera a conciliar seu próprio Eu, derrotando o Ego. Com isso, o apóstolo se fez imbatível moralmente. Suas argumentações eram simples:
“Eu era violento. Não tinha paz na consciência. Hoje, com Jesus, sou manso e minha consciência está em paz.”

A cada pancada que levava, a cada prisão, a docilidade de Paulo arrebanhava cada vez mais pessoas, que então abriam seus corações para os Ensinos da Boa Nova. Respeitando a si mesmo, com as lições de Paulo, o aluno aprendia a respeitar o próximo. Dessa forma, o Segundo Mandamento do Cristo, que é amar ao próximo com a si mesmo era perpetrado. Em nossas dificuldades, nos esquecemos dos exemplos daqueles que vieram antes de nós. Acreditamos que somos a grande vítima do mundo. 

Mas não é assim. Se fraquejamos, foi porque nossa determinação falhou. E determinação é sinônimo de Perseverança, Otimismo, Sobriedade. 

Devemos caminhar com firmeza de propósito, seja no claro, no escuro, sob sol, sob chuva... sob a dor da perda dilacerante. Saibamos que só carregamos o que podemos suportar. Saibamos que existem dores materiais muito maiores do que aquelas que temos. Saibamos que existem dores morais muito maiores do que aquelas que percebemos. Em nossas fraquezas esquecemos da Bondade e Justiça de Deus e que tudo é transitório na matéria. Todos os percalços, opções, subidas e descidas na vida são depurativos para nosso Espírito Imortal. Lembremos de Paulo que falava e exemplificava, mas era incompreendido por muitos.

Os Doze Apóstolos foram também perseguidos por não serem compreendidos.

E quanto a Jesus? 
O quão incompreendido era e é até hoje quando vemos seus pretensos seguidores, ao longo da História, fazendo tudo diferente do que Ele ensinou...Mas perseveremos. 

Quando caluniados, procuremos a conciliação. 

Quando formos esbofeteados, ofereçamos a outra face, até que o agressor se canse e se pergunte que força é essa que nos sustenta, até vencer o ódio impiedoso. 

Quando nos chamarem de lixo, mostremos que da escória surgem belas flores de Bondade.

Assim como Paulo fez.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Degustação de obra - O perdido (Livro Contos de Redenção)






Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus.” Mateus 5:10





Não sabia por onde caminhava. Seus passos trôpegos o levaram a uma região sombria da cidade. Seus pensamentos, permeados por rancor, queimavam dolorosamente. Henrique chutou um velho cão e jogou nele a garrafa vazia. Mataria também aquele animal.

O cachorro, ao ver a pedra que Henrique tomara em suas mãos, se encolheu. Sabia que não tinha chance.
- Não acha que por hoje chega de tormento? Indagou uma voz doce, vindo de trás do homem, e era ela cheia de vivacidade.

Automaticamente o homem baixou a pedra. Seus olhos ébrios divisaram uma velhinha de aspecto frágil sorrindo para ele.
- Suma daqui velha! Gritou Henrique.
- De que adianta eu ir embora? Volveu a velha.

Henrique sacudiu a pedra na direção da senhora, que não se intimidou.
- O que aconteceu com você, meu filho? Perguntou a velhinha.
- Pra quê quer saber?! Exclamou o homem.
- Contando sua dor – disse a velha – se sentirá melhor.

A idosa se aproximou de Henrique e tomou-lhe a pedra. Acenando para o cachorro, a mulher tranqüilizou o pobre animal, que lambeu-lhe os pés e sumiu na rua mal iluminada.
- Está muito longe de casa rapaz. – disse a estranha com firmeza – por quê?

Henrique estava confuso. O álcool no organismo fervilhava ainda mais sua revolta. Havia respingos de sangue em sua camisa.
- Você trabalha para a polícia, por acaso? Desdenhou o homem.

A idosa fitou o céu escuro. Uma lágrima rolou em sua face enrugada. Suas delicadas mãos pegaram as de Henrique.
- Fui traído. – disse Henrique quase num sussurro – roubado. Meu sócio, Raul, a quem amava como a um irmão, tirou de mim o restaurante que tínhamos. Não satisfeito, roubou minha mulher... Tirei-lhe, então, a vida podre que ele tinha!

Irrompendo em lágrimas, Henrique gritou e terrível era o sofrimento dele.
- Não consegui matar Joelma, aquela ordinária! – disse o homem puxando os cabelos – deixei-a gritando, enquanto via seu amante sangrar na minha faca!
- Filho meu! – retrucou a velha com vigor – um erro não pode justificar outro! Crime terrível, filho!
- Sempre fui trabalhador – continuou o outro – respeitava meu amigo e minha esposa. Como eles puderam fazer isso comigo?!
- Eles fraquejaram no teste da Verdade, assim como você – a idosa acariciou a fronte atormentada do homenzarrão que poderia esmagá-la facilmente – cada um errou na sua proporção. E todos vocês colherão uma colheita amarga.
- Lavei minha honra. Asseverou Henrique.
- E sangue limpa? – retrucou a outra – sangue derramado por rancor e ódio não limpam nada. Só o sangue do sacrifício redime!
- Volte para sua igreja! Vociferou o homem.
- Minha igreja está aqui! Atalhou a mulher, com determinação.

Henrique se livrou das mãos da velha. Sua mente girou e seus pés se atrapalharam. Indo ao chão de paralelepípedos, o assassino esfolou o rosto e as mãos.
- Todos nós temos nossa cota de sofrimentos. – disse a velha com brandura – são essas dificuldades que nos fazem fortes. Ao vencer o sofrimento, vencemos a nós mesmos e progredimos.
- Não tinha razão para ser humilhado como fui! Insistiu Henrique.
- Será mesmo? Perguntou, de forma enigmática, a mulher.

Se Henrique tivesse plena capacidade motora, teria partido a velha ao meio com as mãos nuas. Mas ele continuava zonzo, enquanto a anciã falava.
- E então, filho? Indagou a idosa.
- Não sei! Gritou o outro.
- Somos aquilo que fazemos e nada é por acaso. – disparou a velha – todos nós somos alvo de coisas boas e más, mas somente nosso arbítrio pode dar a palavra final. Você errou com aqueles dois. Entenda que todos vocês ....... 

LEIA O FINAL DESTE CONTO EMOCIONANTE EM “Contos de Redenção”, comercializado em prol do Asilo e Creche Seara de Luz.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Entrevista - Angela Maria Pinto Ribeiro



Chegamos à nossa terceira entrevista, com seareiros da Doutrina de Jesus. Dessa vez, nos embrenhamos no viés da arte. E para tanto, "convocamos" a simplesmente adorável Angela Maria, que delicadamente respondeu as nossas perguntas.





Angela Ribeiro é médium de psicopictografia (pintura e desenho), semiconsciente e intuitiva. Fez seu desenvolvimento mediúnico no Centro Espírita Seara de Amor e de Luz, em Botafogo, Rio de Janeiro, sob orientação do espírito Emmanuel, mentor da Casa, através da médium Therezinha de Castro. Seus desenhos mediúnicos foram apresentados a Chico Xavier que confirmou a sua autenticidade. Por sua mediunidade se manifestam diversos pintores, em sua maioria europeus impressionistas e pós impressionistas, além de modernistas europeus e brasileiros. Angela não nasceu em família espírita, mas se tornou espírita há quase 30 anos. Carioca e desenhista técnica aposentada, desenvolve a psicografia e participou na Seara de Amor e de Luz (SAL) de trabalhos de cura espiritual. Costuma se apresentar em diversas Casas Espíritas, Umbandistas e em qualquer outro lugar onde se pratique o BEM.


Agradecemos imensamente a Angela Ribeiro por ter nos atendido!

1 – Quando, e como, você  conheceu a Doutrina Espírita?

Não tive uma educação religiosa e vivi minha adolescência  na Zona Sul do Rio de Janeiro, em pleno período de Ditadura Militar, o que me levou a ser materialista, porém sem grandes convicções. Com o amadurecimento e a vivência, inclusive convivendo, por força do meu trabalho, com a mais extrema miséria no sertão nordestino, comecei a questionar o sentido da existência, o que, juntamente com problemas em minha vida particular, me levou  a um Centro de candomblé, pelas mãos de uma prima. Não tenho absolutamente nada contra essa ou qualquer outra religião, mas naquele lugar em particular não me senti confortável, apesar de me ter sido dito que era lá que deveria trabalhar sob pena de nada dar certo em minha vida. Foi a partir daí, vivendo uma profunda angústia e transtorno emocional, que minha mediunidade aflorou com toda a sua força e tive numa visão em minha tela mental, que se repetia como um flash, o nome de “Krishnamurti”.
No dia seguinte fui levada por impulso a entrar numa livraria e dei de cara com um livro de Krishnamurti, que vim a saber tratar-se de um filósofo hindu. Abri numa página “ao acaso” e o capítulo era sobre identificação, onde dizia que deveríamos trabalhar no Bem aonde mais nos identificássemos. Aquilo acalmou totalmente o meu coração e os espíritos então passaram a usar essa mediunidade pra me levar a ler livros sagrados como o Bhagavad- gita (indiano), o TAO (bíblia chinesa), etc.. até chegar ao livro espírita “O problema do Ser, do Destino e da Dor” de Leon Denis. A partir daí, já totalmente encantada com as descobertas espirituais, procurei um Centro Espírita.   

    
2 – Para você, Espiritismo é religião? Poderia explanar sobre o assunto?

Essa é uma questão polêmica, pois apesar da palavra RELIGIÃO, significar religar-se com Deus e nesse caso o Espiritismo poderia ser chamado de religião, o termo RELIGIÃO adquiriu uma conotação de alguma coisa política e institucionalizada. E, me parece, estudando a Codificação, que havia uma preocupação dos grandes espíritos que responderam a Kardec, de desvincular o Espiritismo da palavra RELIGIÃO. O Espiritismo veio inclusive para resgatar o Cristianismo original, deturpado ao longo do tempo pelas religiões tradicionais.
Kardec havia  definido Espiritismo como: “Filosofia de bases científicas e conseqüências morais e religiosas” e o espírito  Erasto, seu mentor, o fez mudar para “conseqüências ético-morais”, afastando assim mais uma vez a palavra RELIGIÃO da nova doutrina.
Na minha humilde opinião o Espiritismo é o mais fantástico conjunto de informações sobre a verdade espiritual, chegada até nós para nos ajudar no nosso caminho individual, particular e único de encontro com Deus.
Importante lembrar que o Espiritismo não é uma religião institucionalizada, e não tem hierarquia. Acredito que o Brasil por sua origem fortemente católica, se fixou no lado religioso se afastando perigosamente da parte filosófica e principalmente científica da Doutrina  o que provoca o risco de que mais uma vez possamos vir a deturpar a pureza e liberdade da Verdade Divina que nos chegou através dos Espíritos.


3 – A psico-pictografia é uma fascinante forma de exercer a mediunidade. Poderia explanar sobre ela?

Sim, e sou suspeita pra falar, mas a meu ver é uma mediunidade maravilhosa, na medida em que nos traz uma dupla emoção que é a emoção da Arte unida a emoção da Fé. Quem assiste a um momento de pintura mediúnica se impacta, e o próprio Kardec fala disso no primeiro ano da Revista Espírita (1858), comentando a maneira inusitada como os quadros são pintados pelos espíritos, completamente fora dos padrões acadêmicos. É incrível se observar as belas telas que surgem do nada, sem prévio conhecimento do tema, sem esboço, com as tintas sendo jogadas aparentemente aleatoriamente sobre a tela e espalhadas com as mãos. Kardec cita inclusive uma pintora e professora de arte que tinha essa mediunidade e que comentava que seria impossível para ela sem os espíritos, pintar dessa forma. No Livro dos Médiuns, Kardec coloca a mediunidade de desenho e pintura como uma mediunidade especial, por servir a espíritos que querem se comunicar de uma forma específica.
Por outro lado a energia que emana desses quadros é grande, já tendo sido medida por radiestesia, e dizem os espíritos que no momento da pintura mediúnica acontece uma explosão de luzes especialmente preparadas para impactar os que assistem física, emocional e espiritualmente provocando elevação e harmonização abrangente.
O objetivo maior desse trabalho dos espíritos pintores é fortalecer a fé no coração dos homens. 


4 – Quais os Espíritos que trabalham, através de você, na psico-picto-grafia?

De algumas décadas para cá, espíritos ligados ao chamado Movimento Impressionista francês, como Renoir, Claude Monet, Edouard Manet, Paul Cézanne etc.. iniciaram essa tarefa de trazer aos homens encarnados a constatação da imortalidade da alma, através da identificação de seus traços, estilos e cores. Interessante observar que o Movimento Impressionista surgiu no mesmo país, com diferença de alguns poucos anos, do surgimento do Espiritismo. E que esses pintores assim como Kardec na religião, foram revolucionários na arte. Talvez venha daí a sintonia que os atraiu para o Movimento Espírita. A partir dos impressionistas foram chegando espíritos de outras Escolas como Toulouse-Lautrec, Vincent Van Gogh, Pablo Picasso, Henri Matisse que pintam praticamente através de todos os médiuns de psicopictografia
No meu caso todos esses, unidos a alguns modernistas como Candido Portinari, Tarsila do Amaral, se manifestam sob a orientação do espírito Eugene Delacroix.

5 – Existe alguma condição, direcionada ao seu proceder mediúnico, que seja fundamental para seu trabalho mediúnico? Qual?

A orientação que recebi dos espíritos pintores foi de muito estudo de Evangelho e História da Arte.  De resto as condições são as mesmas de outros tipos de mediunidade. Além do estudo, a oração sistemática e elevação do pensamento, coisas que a gente se esforça para seguir.
No momento da pintura e fundamental um ambiente harmonioso, e tranqüilo.

6 – Muitos Centros Espíritas estão questionando o trabalho assistencial em suas dependências. Há Centros que as aboliram, inclusive.  O que você acha dessa discussão, uma vez que a Codificação faz alusão direta à Caridade Moral e a Caridade Material?

Fiquei completamente surpresa quando li essa afirmação.  Para mim é totalmente sem sentido o Espiritismo ou melhor o Cristianismo, sem a caridade, contida na assistência aos nossos irmãos mais necessitados. A maior alegria que tenho no meu trabalho como médium de pintura, é exatamente poder ajudar financeiramente com a doação dos quadros os trabalhos assistenciais que existem em praticamente todas as Casas Espíritas. Acho que Jesus é o nosso exemplo maior, e tudo que ele fez durante sua estadia na Terra foi praticar a caridade e o amor.  Alan Kardec afirmou “Fora da Caridade não há salvação”, como então admitir que se impeçam trabalhos assistenciais dentro dos Centros Espíritas? Não entendo. 



7 – Hoje em dia, há uma grande profusão de obras que se apresentam como atualizações ou complementação da Codificação Espírita. Você, caso conheça alguma destas, tem alguma opinião à respeito?

Veja bem, a Natureza se movimenta continuamente, nada estaciona no mundo de Deus, nada pára. A Sociedade, os costumes, a tecnologia também se modificam cada vez mais rápido. O próprio homem vai adquirindo capacidades e percepções novas. Natural que com o passar do tempo nos transformemos, adquirindo maiores condições de entendimento. Portanto é esperado que venham até nós novas informações, novos conhecimentos, pois não sabemos tudo.  Acho que o próprio Kardec com a sua abertura de espírito seria o primeiro a acatar o que surgisse de novo. Importante porém que assim como ele fazia, usemos sempre o crivo da razão e do bom senso, porque sabemos que os falsos profetas, assim como os espíritos  mistificadores existem. Na Codificação os bons espíritos nos deram condições claras para que soubéssemos separar o joio do trigo. É preciso que tenhamos asas e raízes.   


8 – Muitas casas de Umbanda, Ramatís e do Vale do Amanhecer, religiões de forte cunho mediúnico e viés moral, vem estudando cada vez mais a Doutrina dos Espíritos, de forma, conforme temos averiguado, muito bem estruturada. Por esta afirmação, vemos consonância com o pensamento de Kardec e Leon Denis, que direcionam o Espiritismo , em decorrência de seus pilares, como o futuro das religiões. Qual sua opinião à respeito?

Encanta-me observar essa  quebra de velhos preconceitos. Há pessoas que confundem união com fusão. Não é isso. A união é esperada e necessária. Há não muito tempo os umbandistas não admitiam estudar livros de Alan Kardec, assim como espíritas não aceitavam a Umbanda, por puro preconceito. Sempre levei a pintura a qualquer lugar onde se pratique o Bem e sei que alguns espíritas me olhavam torto. Agora estamos realmente num momento de mudança vibracional do planeta e isso é perceptível por pessoas de maior sensibilidade. Parece que tudo está mal, mas é preciso lembrar que a sujeira precisa vir a tona para que possamos limpá-la. E é em sutis movimentos como esses das religiões e no aumento de atividades voluntárias de auxílio ao próximo, que já podemos sentir o cheiro das grandes mudanças. Como eu já disse, o Espiritismo é esse grande conjunto de conhecimentos e informações que ajudará homem, individualmente, a encontrar o seu caminho particular de encontro com Deus.


9 – O Espiritismo, nos últimos anos, cresceu em número de adeptos, conforme assinala o último senso do IBGE. No entanto, os espíritas ainda configuram como os de maior escolaridade. Em sua opinião, por que as Casas Espíritas não atingem a população de menor escolaridade?

Existe uma diferença entre cultura e sabedoria.  Existem pessoas com baixa escolaridade e muita sabedoria. O próprio Chico Xavier era um homem inculto porém altamente sábio. Tenho encontrado em todos os Centros que vou com o meu trabalho, pessoas de todos os níveis de escolaridade.
Mas não resta dúvida que a maior cultura e conhecimento, torna as pessoas mais exigentes. E o Espiritismo é o caminho dos questionadores, pois sendo a princípio sem dogmas, tudo explica e assim satisfaz os espíritos que precisam de explicações lógicas e racionais.
Talvez a fé dos que não precisam de muitas explicações seja mais sólida, mas a maioria dos que se encontram no Espiritismo são os que precisam entender muito bem, para crer.


10 – Graças ao Apóstolo da Mediunidade, Francisco Cândido Xavier, o Espiritismo foi amplamente difundido no Brasil, ainda no século XX. Tendo acompanhado de perto as últimas décadas do Movimento Espírita, qual sua projeção para o Espiritismo no Brasil e no Exterior para os próximos anos?

No momento atual vejo de um lado, espíritas mais conservadores que tendem a ver a Doutrina  como uma religião tradicional, o que é explicável  visto que todos nós vivemos muito mais encarnações como católicos e protestantes do que como espíritas, que é uma doutrina muito recente, mas que não é aceitável, pois corremos o risco de mais uma vez deturparmos os ensinamentos do Cristo, criando dogmas e transformando-os em fonte de poder político. Por outro lado vemos os que percebem a Doutrina como a filosofia de livre pensar que ela realmente é, assimilam os ensinamentos dos espíritos e de Kardec com equilíbrio e espírito aberto, dispostos a analisar novas informações assim como fez o próprio Kardec.
Acho que a segunda opção tende a crescer o que já observamos, na medida em que o ser humano expande suas percepções e o mundo se modifica, combatendo cada vez mais os preconceitos e  intolerâncias.
No exterior, já é visível o crescimento da Doutrina, sobretudo em vários países da Europa e agora também nos Estados Unidos, onde vemos crescer cada vez mais o interesse nos assuntos espíritas e mais Centros Espíritas sendo fundados.
Em termos culturais aumentam as obras de cunho espírita sendo criadas. É a verdade do Consolador que Jesus nos prometeu, que continua chegando até nós e se espalhando por todos os países, todas as culturas e todas as religiões dos habitantes desse planeta, ajudando a transformar o mundo para melhor. O caminho ainda é longo, mas é muito bom se ter a benção de participar com uma ínfima gotinha, na divulgação da Doutrina dos Espíritos.